Paulina Chiziane – Prémio Camões 2021
A romancista moçambicana Paulina Chiziane está de parabéns. Foi a vencedora do Prémio Camões, de 2021, sendo esta distinção a terceira a distinguir a cultura moçambicana com este galardão. Os anteriores contemplados foram José Craveirinha, em 1991, e Mia Couto, em 2013.
O Prémio Camões foi instituído por Portugal e Brasil, em 1988, é de atribuição anual e visa premiar os autores que contribuem para o enriquecimento da literatura e da cultura da língua portuguesa. Tem um valor pecuniário de cerca de cem mil euros, valor que é fixado anualmente por comum acordo. A escolha dos vencedores é feita por um júri anual, que se reúne alternadamente em Portugal e no Brasil.
Esta foi a 33ª. edição do Prémio, tendo a contemplada deste ano sido escolhida por unanimidade. Os três (para não ser exaustivo) primeiros vencedores, foram: Miguel Torga (poeta, romancista, contista, etc., português), em 1989; João Cabral de Melo Neto (poeta e ensaísta, brasileiro), em 1990; José Craveirinha (poeta e jornalista, moçambicano), em 1991.
Paulina Chiziane nasceu a 4 de Junho de 1955, em Manjacaze, província de Gaza. Estudou “Linguista” na Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo, curso que não terminou. Foi militante da Frelimo, ainda jovem, condição que abdicaria anos mais tarde por discordância e desencantamento com algumas concepções e decisões do seu Partido. Fez parte da organização não governamental “Núcleo das Associações Femininas da Zambézia”, na cidade de Quelimane.
Iniciou-se na escrita com a publicação de contos na imprensa moçambicana, no início da década de 1980. A carreira de romancista começou em 1990, com a publicação de “Balada de Amor ao Vento”. O seu romance de maior êxito é “Niketche: Uma História de Poligamia”, com o qual foi galardoada com o “Prémio José Craveirinha”, em 2003, atribuído pela Associação de Escritores Moçambicanos, em 2003.
São os seguintes, os romances publicados:
– Balada de Amor ao Vento, em 1990
– Ventos do Apocalipse, em 1993
– O Sétimo Juramento, em 2000
– Niketche: Uma História de Poligamia, em 2002
– O Alegre Canto da Perdiz, em 2008
– As Andorinhas, em 2009
– Eu Mulher: Por Uma Nova Visão do Mundo, em 2013
– Ngoma Yethu: O Curandeiro e o Novo Testamento, em 2015
– O Canto dos Escravizados, em 2017.
A escrita da Paulina Chiziane pauta-se pelos contos e pelos romances, inspira-se na sociedade e no povo moçambicanos, abordando a situação da mulher, a poligamia, os costumes e as tradições. Nas suas palavras, não se considera escritora, mas romancista e, principalmente, contadora de estórias.
Da visualização dum vídeo da entrevista que concedeu em 20 de Outubro último, no quintal da sua casa, sentada à volta da lareira, já de noite, retive das suas afirmações que “não larga a fogueira, o seu lugar preferido, mesmo no tempo quente”, que “a sua vida é de camponesa”, que “vem de lugar nenhum, que vem do chão”.
Pierre Vilbró – Novembro 2021
2 Comentários
Carlos Hidalgo Pinto
A escritora premiada é a terceira personagem moçambicana a ser distinguida com o Prémio Camões, o que é de salientar. José Craveirinha foi o primeiro escritor moçambicano a ser galardoado com esse galardão. Filho de dois países, foi-lhe erigida uma estátua na Vila de Aljezur, de onde era natural o seu progenitor.
A escritora Paula Chisiane, tal como Craveirinha, Mia Couto e outros, são figuras importantes no mapeamento cultural das diferentes regiões culturais que formam o território moçambicano. Cada área de cultura reflecte um ambiente e cultura algo uniforme. Entretanto, os escritores tornam-se relevantes numa necessaria mudança cultural, conducente a um aggiornamento político e cultural que paulatinamente, vai tendo lugar na sociedade moçambicana.
A cultura corporal em algumas regiões culturais moçambicanas, expressa-se por um comportamento sexual onde se salienta a poligamia. Decorrente desta realidade, o crescimento demográfico do país regista valores algo elevados, o que dificulta o processo de desenvolvimento nacional sustentado. Moçambique duplica a população num período de aproximadamente 23 anos, o que é impeditivo para que haja um processo de prosperidade económica. Qualquer taxa de crescimento económico considerada como sendo positiva, é rapidamente ultrapassada por uma taxa de crescimento populacional ainda maior, o que contribuí para o aumento da pobreza a nível nacional. E é aqui que Paula Chisiane (e outros escritores) se torna uma figura de relevo, por via do tal mapeamento cultural de detetminadas regiões culturais.
Jorge Rodrigues Milheiro
Não conhecia qualquer livro desta escritora que pelos comentários que já li e depois de a ouvir no vídeo que BigSlam partilha vou ter de ler, pois aprecio muito a literatura moçambicana. Já li muitos livros de Mia Couto e alguns de José Craveirinha, Carlos Cardoso, Eunice Matavele, Nelson Saúte, Miguel César, Luís Carlos Patraquim, Marcelo Panguana, a poesia de Marcelo White, Juvenal Bucuane entre outros. Sempre que vou a Moçambique tenho de entrar nas livrarias e trago um bocado da Literatura Moçambicana. Não é só pelas paisagens, pela boa comida, pela música e pelas pessoas, mas também pela Literatura Moçambicana que eu Amo Moçambique.