Sérgio Vieira Morreu: Memória e Crítica
Sérgio Vieira morreu, pretexto para relembrar, através de uma síntese do seu percurso de vida, quem foi o falecido. Lembram-se deste nome e da pessoa que o mesmo identifica?
Sérgio Vieira faleceu no dia 16 de Dezembro último, num hospital da África do Sul, de doença, aos 80 anos de idade.
Nome e pessoa que trazem más lembranças para muitos moçambicanos e para muitos que, não o sendo, viviam em Moçambique após o 25 de Abril de 1974. Uns, por terem sofrido directamente acções causadoras dessas más lembranças. Outros, por simples conhecimento das decisões e acções da referida personagem. Essa actividade que deixou marcas, remonta principalmente ao período em que o visado foi ministro da Segurança e Administração Interna, mas não só.
Veja-se, a título de exemplo, a Ordem de Acção nº. 5/80, do Comité Político Permanente da Frelimo, sobre o fuzilamento de moçambicanos, nomeadamente de ex-dirigentes/altos quadros da Frelimo, que abaixo reproduzo, no qual Sérgio Vieira foi um dos intervenientes, e tendo a presidir o Comandante-em-Chefe, Samora Machel (presidente da Frelimo e da República Popular de Moçambique).
Numa tentativa para se compreender as suas motivações, recapitulemos a sua biografia e o seu trajecto de vida, que ajudam a entender muitas das suas opções, decisões e acções, fundamentadas numa ideologia política, a da Frelimo, com muito de totalitária, castradora e retrograda, e que ele assumiu e praticou convictamente.
Sérgio Castelo Branco da Silva Vieira, de seu nome completo, nasceu em Tete em 4 de Maio de 1941, era irmão de Gabriela Castelo Branco da Silva Vieira, médica, e de José Castelo Branco, conhecido em Portugal através das televisões portuguesas, e era parente (primo em segundo grau, por parte das avós de cada um, que eram irmãs) de António Costa, actual primeiro-ministro de Portugal e secretário-geral do PS.
Ainda estudante em Moçambique tornou-se activista político, actividade que prosseguiu quando estudante de Direito (curso que não concluíu) em Lisboa, onde frequentava a Casa dos Estudantes do Império, local de muitos estudantes que viriam a ser dirigentes dos vários Movimentos de Libertação das ex- colónias portuguesas.
Esta sua actividade política subversiva motivou ser perseguido pela PIDE (polícia política portuguesa da altura), e consequente fuga para o estrangeiro, nomeadamente para Argélia, país onde se formou em Ciências Políticas.
A partir da Argélia juntou-se à Frelimo, onde foi Secretário da Presidência de Eduardo Mondlane e de Samora Machel (1º. e 2º. presidentes da Frelimo, respectivamente), director do Departamento de Educação e Cultura, integrava a ala comunista mais ortodoxa da Frelimo, foi um dos seus ideólogos, e era um dos próximos do presidente Samora Machel.
Após a independência de Moçambique, exerceu vários cargos: Vice-Ministro da Defesa, Ministro da Segurança e Administração Interna, Ministro da Agricultura, Governador do Banco de Moçambique, Governador da Província do Niassa, Director do Gabinete do Plano do Zambeze, e deputado à Assembleia da República. Isto, na sua actividade política, onde atingiu o posto de Coronel.
Na sua vida civil foi poeta, professor universitário em Maputo, e colaborador em alguns jornais e revistas.
Face ao exposto, detecto em Sérgio Vieira aspectos positivos e negativos. Positivamente, devo reconhecer: a sua tomada de consciência para os problemas existentes em Moçambique e que penalizavam a maioria dos moçambicanos, e da sua consequente acção para tentativa de solução política para os mesmos; a sua faceta extra política, como a poética, a docente e a jornalística. Negativamente, o ter-se posicionado no lado negativo da História, e nada ter feito para inverter a sua marcha ou de se desligar do seu percurso. Neste lado negro da sua vida, vários comportamentos seus que trouxeram morte e sofrimento aos moçambicanos, como por exemplo o que atesta a Ordem de Acção que abaixo reproduzo.
Este é, ou será, um documento histórico. Pelo que directamente reflecte e pelo muito que vai para além dele. E quem defende a liberdade, a justiça, a dignidade e os direitos humanos, que, sem qualquer hesitação, é o meu caso, não pode deixar de sentir repulsa pelos factos que o mesmo transmite e pelos decisores e executores de tão sinistro acto.
O documento e as acções que ele invoca transportam-nos ao tempo da barbárie.
Não pode haver lugar à abertura de portas à indiferença.
Pierre Vilbró, Março 2022
15 Comentários
João Marino Gomes
Trata-se de um extremista e sanguinário que fuzilou muitos moçambicanos inocentes.
Não tem perdão pelos crimes que praticou e revelou na sua conduta o ódio pela espécie humana
Não estamos em presença de um homem mas sim de um primitivo selvagem
Paulo Carvalho
A repulsa, por este personagem, entre os vários criminosos, desumanos e impiedosos, da História de Moçambique, vem expressa nos vários comentários aqui deixados, bem como, pelo autor do texto!. O Sérgio Vieira, foi uma das várias figuras sinistras ao serviço da Frelimo que, tal como os restantes homicidas, nunca foi julgado pelos crimes que cometeu!
Zé Carlos
Grandecíssima Criatura Invejosa Raivosa…
Só tenho pena de nunca teres provado o que andaste anos e anos a servir aos outros.
Virgínia Alves
Esta ignóbil criatura sofria dum complexo igual ao de Marcelino dos Santos: não ser europeu, com a mania de não se sentirem bem entre os negros ( por se acharem superiores e não conseguirem conviver abertamente com os brancos por se julgarem inferiores). Era aquilo a que chamo verdadeiros racistas.
Mas há outra sinistra figura que ainda hoje lança veneno na nosss terra. O grande negociante Jacinto Veloso, tão verminoso como os outros e que ainda continua a envenenar a vida moçambicana. Aliás, também ele assinou o documento do texto.
Há três anos, quando fui pela última vez a Moçambique, tive o prazer de ver o Sergio Vieira,tanto no Marítimo como na Costa do Sol, como todos o desprezavam, sozinho numa mesa, a cumprimentar as pessoas e elas nem para ele olhavam…até os “amiguinhos” dos tempos áureos desta barbárie oportunista que tomou conta da nossa terra e enriqueceu espoliando quem diziam querer libertar assim procediam.
Como dizem os portugueses quando aparece um energúmeno como este; QUE A TERRA LHE SEJA PESADA.
Augusto Martins
Infelizmente este é um dos cinco nomeados na célebre Ordem de Ação Nº 5 que não chegou a pagar devidamente, todos os muitos crimes que cometeu, mas dessa famigerada lista, ainda continua a circular em Portugal, IMPUNEMENTE E SEMPRE MUITO DISFARÇADO, um dos “FIGURÕES”.
António Fonseca
Um grande FDP ,que tanto prejudicou tanto Moçambicano, de todas as cores !
Que arda eternamente e lentamente em lume brando para pagar todos os seus crimes !
Jose Matos Viegas
FELIZMENTE FOI E NÃO VOLTA.
Ângelo Santos
Em época de más notícias, FINALMENTE UMA BOA NOTÍCIA!!!
Antonio Almeida
Já devia ter ido há muito mais tempo,não fazia cá falta nenhuma. Como se costuma dizer ” Que a terra lhe seja pesada”
Victor Valério
Para mim foi apenas mais um assassino (sem qualquer coisa boa!!!) dos muitos que surgiram em Moçambique, após o 25 de Abril. Juntando este indivíduo àqueles que, por simples oportunismo, revelaram ser “revolucionários” à última da hora e que, inclusivé fizeram denúncias sem qualquer razão de ser à Frelimo, de pessoas ou cidadãos Luso-Moçambicanos que apenas queriam fazer a sua vida, resultando em prisões arbitrárias destes últimos, o que levou muita gente a abandonar Moçambique rápidamente, formou-se uma amálgama de gente traiçoeira, falsa e vil, como eu naquele tempo jamais pensei existir na terra que me viu nascer: Moçambique. Por isso, desde o princípio da revolução, jamais acreditei que algum dia Moçambique poderia vir a ser um país livre, evoluído e seguro onde eu e a minha família pudessemos viver. Vim-me embora, não estou arrependido, e jamais voltei a por lá os pés!!!
Manuel Cardoso
Ficará na historia como sendo um vilão. Muitos
inocentes, terão cometido grandes erros a seu mando.
ABM
Em latim se diria:
In infernis arderet.
ABM
IP
Grande ABM.
Jorge Madeira Mendes
No artigo supra de Pierre Énio Vilbró, só não concordo inteiramente com o trecho «…Frelimo, com muito de totalitária, castradora e retrógrada».
Digo eu que a Frelimo não tinha «muito» disso — a Frelimo era TOTALMENTE isso; a ideologia da Frelimo era a personificação do totalitarismo, do retrogradismo e da menorização mental do ser humano.
Por outro lado, em relação à famigerada «Ordem de Ação n.º 5/80», que anunciou a morte «por fuzilamento» daquelas seis pessoas, classificadas pela Frelimo como «grandes reacionários», permito-me acrescentar o seguinte:
Afirmaram os jornalistas José Pinto de Sá e Nélson Saúte no diário português «Público» que os seis se encontravam internados no «campo de reeducação» de M’telela, no Niassa (noroeste de Moçambique), quando, a 25 de junho de 1977 (segundo aniversário da independência de Moçambique), lhes foi comunicado que iam ser transportados para a capital, Maputo, onde o presidente Samora Machel discutiria a sua libertação. Seguiam numa coluna de jipes que, a dada altura, parou. À beira da picada, os soldados tinham aberto com uma escavadora mecânica uma grande vala e tinham-na enchido parcialmente de lenha. Amarraram os prisioneiros, atiraram-nos para dentro da vala, regaram-nos com gasolina e atearam-lhes fogo. Os prisioneiros políticos da FRELIMO foram queimados vivos, enquanto os soldados entoavam hinos revolucionários em redor da vala (artigo «O dia em que eles foram queimados vivos», José Pinto de Sá, Revista «Público Magazine», n.º 277, Lisboa, 25.06.1995).
Este crime hediondo ficou impune, porque, em política internacional, não há verdade ou justiça que interessem — o que conta são interesses estratégicos, económicos e por aí fora…
Carlos Guilherme
Cada ser humano é uma amálgama de coisas boas e más. As más deste senhor (se é que merece esse nome) causaram sofrimento e mesmo a morte a seus conterrâneos. De entre os que mandou matar (acto reprovável em qualquer país civilizado), eu conhecia Lázaro Nkavandame e Joana Simeão. Pelo primeiro destes dois eu nutria grande admiração e um sincero afecto. De Joana Simeão já não posso dizer o mesmo.
Só lamento a morte de Sérgio Vieira por não ter pago em vida todo o mal que fez. Não creio que a sua alma se salve mas isso já não me apoquenta.
Carlos Guilherme