Todos Diferentes, Mas Todos Iguais!
Seremos sempre diferentes uns dos outros. Diferenças entre as pessoas, sempre existirão: diferenças educacionais, culturais, de carácter, de inteligência, profissionais, económicas, sociais, religiosas, políticas, etc. Assim o impõe a natureza humana.
Mas podemos e devemos ser todos iguais: na dignidade, respeito, liberdade, justiça, oportunidades, direitos, deveres, etc.
Diferenças e igualdades, em Portugal, em Moçambique e em qualquer País, embora cada um com as suas especificidades.
- O racismo é de todas as cores
Há aproximadamente três anos e meio, num comentário muito breve, em resposta ao Anexo (um vídeo que retratava uma situação racista) a um email que foi-me reencaminhado de Moçambique por pessoa conhecida, e sobre o qual não me foi difícil desconfiar de intenções maliciosas subjacentes ao tal reencaminhamento, manifestei a seguinte opinião pessoal: “O racismo não tem cor nem direção. Assume todas as cores e orienta-se em todas as direções”.
Com isso eu quis dizer que o racismo não é só “branco” e só pelos “brancos” praticado, mas também “negro” e de outras cores, raças e etnias, embora o racismo “branco” e exercido contra os “negros” seja o mais comum e relevante.
Em Portugal, as portas abrem-se mais facilmente na razão directa da claridade da pele e, se filiado no Partido no poder, melhor. Em Moçambique, essa abertura é directamente proporcional à negritude da pele, reforçada com a militância no Partido Frelimo.
- A minha raça é a raça humana
Em 1977, em Portugal, numa conversa no trabalho sobre África, descolonização e retornados, um dos interlocutores (que nunca tinha estado em África, e as suas deslocações limitavam-se aos concelhos contíguos aos da sua aldeia natal) questionou-me: “Se os naturais de África são “pretos”, e você diz que nasceu em Moçambique, além de aí ter crescido e se ter feito adulto, qual é a sua raça?”. Eu respondi “que não tinha raça” e acrescentei que “a minha raça é a raça humana”. Para estupefação dos presentes.
- Visão de dois poetas
Transcrevo a seguir o poema Lágrima de Preta, do poeta português, António Gedeão (nome verdadeiro: Rómulo Vasco da Gama Carvalho), licenciado em Ciências Físico-Químicas, e professor do ensino secundário:
E do poeta e jornalista moçambicano, José Craveirinha, galardoado com o prémio Camões, o poema Ninguém:
NINGUÉM
Andaimes
até ao décimo andar
do moderno edifício de betão armado.
O ritmo
florestal dos ferros erguidos
arquitectonicamente no ar
e um transeunte curioso
que pergunta:
– Já caiu alguém dos andaimes?
O pausado ronronar
dos motores a óleos pesados
e a tranquila resposta do senhor empreiteiro:
– Ninguém. Só dois pretos.
- Considerações finais
A segregação humana, de que o racismo é uma das suas causas, manifesta-se em todas as actividades e locais da vida humana, é um assunto sério, real e quotidiano, e deve ser abordado e assumido com espírito aberto, isento e construtivo, e sem tabus, oportunismos e demagogia.
Não basta dizer “eu cá não sou racista”. Fundamental é que a prática diária seja consentânea com tal afirmação, a qual não vacilará em nenhum momento e em circunstância alguma, se em cada um tiver havido uma interiorização assumida e convicta. Se assim for, esse comportamento diário será espontâneo, natural e sem exibicionismo. E passaremos todos a viver bem melhor, com todos.
Finalmente, não posso deixar de mencionar uma situação que me desagrada e que repudio. Determinados partidos políticos, jornalistas, escritores, artistas, intelectuais/pseudo intelectuais e universitários – reféns de uma determinada corrente ideológica -, oportunista, demagógica e, até, desonestamente, atribuem quase tudo (passe o exagero da expressão) a racismo, sejam palavras, atitudes, ideias, etc., germinando assim a dúvida no espírito das pessoas quanto ao que se pode ou não dizer e opinar, e como comportar.
Estes comportamentos atiçam o ódio rácico, dividem as pessoas, provocam vinganças e violência física – de parte a parte -, inviabilizando ou dificultando a solução de um problema, que se quer séria, inclusiva e urgente. Ora, isso é inadmissível e deve ser repudiado.
Pierre Vilbró, Janeiro 2021
Um Comentário
Manuel Martins Terra
A grande verdade é que ninguém nasce racista, como dizia o grande estadista Nelson Mandela.O problema do racismo é um problema de todas as sociedades e existe por vezes alguma dificuldade em tratar essa realidade, até porque o racismo não tem cor e todos os cidadãos devem ser tratados de forma justa,e combatidas todas as desigualdades sociais.O mais importante é construir um ambiente de respeito para com todos , princípios desejáveis e que têm que ter na política educacional o seu verdadeiro pilar. Bom o texto em que Pierre Vilbró, com grande perspicácia aflora esta temática que a par da xenofobia preocupa a humanidade. Expressões como “Todos diferentes, mas todos iguais” e ” a minha raça, é a raça humana” encaixam na perfeição na definição do ser humano, que se pretende justo e solidário.