Florentino Bessa “Pés de veludo”
Quase tudo o que executava, levava o selo dos consagrados do mundo do futebol. Nenhum passe era fruto do acaso ou da imaturidade. Os seus pés, pareciam envoltos em algodão. Um regalo vê-lo actuar, pois o esférico mais parecia uma bola de bilhar, tratado com mestria para depois o entregar, pronto a marcar, aos pontas-de-lança.
Existiam jogadores vulgares, medianos… e os de portentosa técnica. É neste último escalão que se situava o futebolista, que dá pelo nome de Florentino Morais Bessa, um dos mais completos e espectaculares atletas de todos tempos em Moçambique. Impressionava pela diversidade de lances, numa demonstração da sua elevada bitola técnica.
Era inimitável no modo como adivinhava, extraordinário na desmarcação a tempo e horas. Incrivelmente certo nas tabelinhas laterais, rápidas, concisas, terrivelmente oportunas. E mais: devastador na maneira como servia os colegas.
Florentino Morais Bessa. Um senhor do meio-campo. Vê-lo actuar era como sentir o que o futebol irradia e compreender por que tal acontece, na medida em que nos sentimos presos, seduzidos e intimamente agradados.
ABONADOR DE EUSÉBIO
O Sporting de LM, foi o clube do seu coração.
Época 1958 – Juniores
Em cima: Braga Borges, André, Lino Alonso, Flores (Gomes), Bessa, Cunha.
Em baixo: James, Manuel António, Ashok, Eusébio, Madala.
Época 1959 – Juniores
• Campeão Distrital L. Marques
Em cima: Elísio Pereira (Treinador), Orlando, Bessa, Leitão, Sau, Saíde, James (Capitão), Eusébio, Coelho, Braga Borges, Cambé (Massagista).
Em baixo: Sancho Martins, Roberto Mata, Manuel António, Morais Alves, Eduardo, Madala.
Porém, o acesso a melhores condições de vida, fizeram-no optar, a certa altura, pelo Ferroviário
Ano de 1963 – Seniores
• Campeão Distrital L. Marques • Campeão Provincial Moçambique
e mais tarde pelo Textáfrica.
Época 1969 – Seniores
• Campeão Provincial Moçambique
Por uma “unha negra” não foi para o profissionalismo português, em 1962, quando o presidente dos “leões” da então metrópole, Dr. Manuel Nazaré, se deslocou a Moçambique, trazendo em carteira as negociações para a sua transferência para Alvalade. E tudo ficou em “águas de bacalhau” pela diferença de 50 contos (então quantia significativa) nas verbas. Os “leões” ofereciam 150 contos e o seu tutor exigia 200. Entretanto, em Lisboa, Eusébio reclamava a contratação do seu abonador privilegiado, garantindo que ele próprio passaria a marcar mais golos se o fossem buscar. Mas o Benfica estava no auge, era campeão europeu, tinha médios de alta bitola, e não levou a sério as palavras do Pantera Negra.
O sonho do profissionalismo esteve sempre presente, o que terá faltado foi a exibição de luxo no momento certo, como (não) aconteceu, em 1961, quando se deslocou a Lisboa para jogar pelo Sporting de LM para a Taça de Portugal:
POUCOS GOLOS
Com Bessa, tudo acontecia naturalmente. Ele não seria capaz, hoje, de descrever porque a sua arte era tão elogiada. Marcava poucos golos pois a sua satisfação era deleitar-se com o esférico, ultrapassar os defesas, provocar desequilíbrios. Não tinha um bom pontapé e por isso poucas vezes tentava rematar de longe.
Gostava de ganhar, mas o golo não era o meu gozo principal. Queria a bola, gostava de controlá-la e colocá-la dócil para os meus colegas a anicharem no fundo das redes adversárias.
Nesta altura vive, tranquilamente em Maputo, longe do futebol onde se foi estrela noutros tempos.
Renato Caldeira – Junho de 2022
8 Comentários
Orlando Valente
Relembrando um Icone do futebol Mocambicano “BESSSA” e o guarda-redes BRAGA BORGES, ambos colegadas no INSTITUTO MOUZINHO DE ALBUQUERQUE NA NAMAACHA. Eu e pondo de lado qualquer vaidade, sou o Orlando Rodrigues Valente, bem comhecido no nosso tempo colegial de “O CANTOR”, durante os 10 anos quie la estive internado, atribuiram-me sempre o primeiro premio do melhor cantor… ao mesmo tempo era tambem conhecido por “VALENTE PEQUENO” porque o meiu irmao tambem la andou e era maisn velho do que eu.
Tempos que ja la vao e que nao passam da nossa memoria.
Um abraco SALESIANO para voces… e jamais se esquecam do nosso padroeiro S. JOAO BOSCO…
Katali Fakir
Não vou comentar e muito menos fazer contraditório do quadro de honra elencado, dada a subjectividade destas coisas, que, quase sempre dão azo a discussões decorrentes de simpatias e empatias que temos quer clubistas e/ou familiares e grupais.
Bessa, conheci-o não obstante a diferença de idades, era enquanto Homem, pessoa de uma humildade e personalidade tão discreta e simples, tão admirada pela miudagem do Largo do Alentejo na Malhangalene onde me incluía. Viveu e fomos vizinhos, a família dele, todos ligados ao desporto designadamente o seu sobrinho – Cândido Coelho, moravam no topo do Largo (Rua de Beja) e a minha família na esquina de baixo (Rua do Porto) frontal a bomba de gasolina Castrol. Quando saía de casa e a miudagem nas peladinhas no top do jardim ao vê-lo, cumprimentavam-no com o habitual carinho o nosso ídolo do Bairro, ele com aquele sorriso sempre carinhoso, dava-nos aquele olá que era como termos ganho o dia, e eu em especial porque ele jogava com o meu irmão Miá, o Ambasse e o Nelson Mafanbana na equipa militar.
Katali Fakir
Já agora, gostava de ver nessa lista dos eleitos: João Calado (Papua) tapado pelo grande capitão – O Monstro, Mário Coluna, também ele,tal como o Bessa grande amigo do meu irmão Miá e lá de casa, visto que estava sempre conosco.
Fernando Neves
Esqueceram-se de incluir um dos melhores avançados da sua geração NÉNÉ, jogador do SLBenfica.
Fernando Neves
Não sei em que lugar colocaria, mas julgo merecer um lugar destacado MÁRIO WILSON. Na Associação Académica de Coimbra , a defesa central , fez exibições de grande valor. Julgo que chegou a internacional.
Braga Borges
Ainda o João de Sousa estava entre nós, e fiz-lhe a seguinte pergunta:
– Joãozinho, para quando um artigo sobre o Bessa?
Boa ideia, Braguinha. Vou compilar uma série de artigos sobre ele, e publicá-los aqui no BigSlam.
Infelizmente não foi a tempo. Mas o Renato fez bem o trabalho de casa.
Bessa, era classe pura. “Souplesse” Cá de trás, eu tinha o privilégio de o ver jogar. Mas convém aqui registar que tbm foi um brilhante hoquista. Em juniores ganhou um campeonato de futebol, mas em hóquei ganhou dois. E eu , mais uma vez, tbm lá atrás a deliciar-me com a classe dele. Tal como eu e tantos outros, um produto do Padre Miguel na Juventude Salesiana da Namaacha.
Vive em Maputo. A nossa amizade mantém-se.
“Escutuvo” grande abraço.
Tomané Alves
E o melhor defesa esquerdo do mundo de 1966 e mais uns anos depois, HILÁRIO, figurar apenas em 4º lugar??? E terem-se “esquecido” do MÁRIO RAMALHO e do TAYOB??? Por favor … nada de sectarismos! Mas a verdade é que realmente, em Moçambique, tal com cá em Portugal, o nome SPORTING sempre incomodou e continua a incomodar muita gente. Atenção nada contra o grande BESSA, antes pelo contrário; mas foi sobre ele que me foi proporcionada a notícia eivada de sectarismo!!!
Tomané Alves
Inacreditável como nos melhores de sempre, mesmo até a nível dos melhores dos melhores, se tenha IGNORADO o enorme e inesquecível Guarda Redes OCTÁVIO DE SÁ!