Vítor Morgado: O “Molinhas”!
Fez parte de uma elite do basquetebol, numa altura em que os praticantes desta modalidade pertenciam à elite dos desportistas em Moçambique. Jogar e brilhar no Sporting de LM de então, ombreando com Mário Albuquerque, Nelson Serra, Rui Pinheiro e muitos outros, não era para qualquer um.
É verdade que não estamos a falar de um tempo em que o profissionalismo funcionava a cem por cento no basquetebol, mas as regras e condutas para garantir lugar num grande clube, tinham que ser cumpridas. Alguns reforços estrangeiros, como foi o caso de Terry Johnson, conferiam um cunho que dava uma dimensão invejável às principais equipas da capital de Moçambique.
Daí que…
Os campeões de Luanda, Lisboa, Porto e outras cidades, tinham que ir na máxima força e com muitas cautelas, pois não lhes passava pela cabeça encontrarem facilidades, disputando os jogos até aos últimos segundos, pois o marcador nunca era… favas contadas!
Época 1971/72 – Seniores
• Campeão Distrital L. Marques • Campeão Provincial Moçambique • Vice-Campeão Nacional
Em cima: Luis Pina (treinador), João Romão, Mário Albuquerque, John Hucks, Luis Almeida, Belmiro Simango, Victor Morgado e Rui Pinheiro.
Em baixo: Nelson Serra, João Morais, Sérgio Carvalho, Rogério Machado e José Rosal.
Época 1972/73 – Seniores
• Campeão Distrital L. Marques • Campeão Provincial Moçambique
• Campeão Nacional
Em cima: Rui Pinheiro, Terry Jonshon, João Romão, Luís Almeida, Belmiro Simango, Victor Morgado e Mário Albuquerque.
Em baixo: João Morais, Mário Peliquito, António Ruas Alves “Tomané” e Nelson Serra.
Época 1972/73 – Seniores
(Campeonato Nacional em Luanda)
• Campeão Distrital L. Marques • Campeão Provincial Moçambique
• Campeão Nacional
Em cima: Abílio Monteiro (Seccionista), C2? (Dirigente), Belmiro Simango, Mário Albuquerque, Luís Almeida, João Romão, Flausino Machado (Presidente SCLM), Victor Morgado, Rui Pinheiro, Terry Jonshon, Nascimento (Massagista).
Em baixo: António Ruas Alves “Tomané”, Mário Peliquito, Domingos Moura (Dirigente), João Morais, Nelson Serra, Dave Adkins (Treinador).
Época 1973/74 – Seniores
• Campeão Distrital L. Marques • Campeão Provincial Moçambique
• Vice-Campeão Nacional
Em cima: Luís Pina (Treinador), Rui Pinheiro, Mário Albuquerque, Luís de Almeida, Clearence Strong, Vítor Morgado, Terry Johnson, C8? (Massagista).
Em baixo: José Jóia, Nelson Serra, António Ruas Alves “Tomané”, Luís Dionisio, Abílio Monteiro (Seccionista).
BASQUETEBOL NO CORAÇÃO
De estatura mediana, sem pautar por grande disciplina de jogo, mas com muita entrega, o saudoso Vítor Morgado, jogava que se fartava e não se fartava de jogar. Era conhecido por “Molinhas”.
Porquê? Diziam que junto às tabelas, ensaiava o salto e já nas alturas, próximo do cesto, após a impulsão inicial, conseguia ir um pouco mais acima, como que impulsionado por… molinhas!
E se é verdade que no campo o Vítor Morgado era de uma dedicação extrema, também nas noitadas as suas atuações não eram diferentes. Assíduo às festas, era vê-lo nos carnavais “marrabentando” a noite inteira.
Até se dizia que o bom do Molinhas, não precisava de muita mola, para ter acesso às geladinhas!
Terminada a carreira como jogador, passou a treinador. Dedicação e entrega, eram as suas imagens de marca. Chegou a técnico da Seleção Feminina de Basquetebol no pós-Independência, ficando o seu nome ligado à conquista do único título africano até hoje a nível de Seleções, no Egipto.
Ano de 1991 – Seleção Feminina de Basquetebol de Moçambique
• Campeã de África
Recordemos:
Ao lado de Luiz Cezerilo, viveu praticamente os jogos junto à linha lateral, só lhe faltando receber a bola e demonstrar a sua classe de ‘molinhas” como lançador.
Foi uma noite louca, com Esperança Sambo a marcar a diferença, diante de umas gigantescas senegalesas que não foram “pera-doce”.
As nossas meninas realizaram 4 jogos, vencendo-os todos. Os derrotados: Quénia (78-74), Costa do Marfim (70-68); Zaire (76-64); Tunísia (74-70). Finalmente veio a final com o Senegal (75-67).
E quando soou o apito final, choveram abraços, beijos e… lágrimas.
MOLINHAS SEM MOLHADAS
Os cerca de 20 dias no Egipto, sem acesso ao álcool, foram um problema para alguns membros da delegação moçambicana. O Molinhas não foi exceção. A certa altura, queixava-se de uma estranha diarreia devido à abstenção das “geladinhas”. Foi então que Marcelino dos Santos, então Presidente da Assembleia da República, fez “sair da cartola” umas garrafas de champanhe para um brinde em terra de abstémios.
Já no regresso, a delegação aterrou na Suazilândia, onde iria permanecer algumas horas, no aeroporto. Episódio final? Molinhas chama o Amade Mogne e segreda-lhe: “Ó Amade: vê-lá se pagas umas geladinhas, porque a diarreia do Egipto, parece que está a regressar”! 😋
Renato Caldeira – Outubro de 2024
11 Comentários
António Manuel Ruas Alves
SAUDADES. Ainda hoje conto episódios hilariantes contados e que (con)vivi com o eterno “Molinhas” … a maior parte delas a 45º.
Manuel Martins Terra
O Vítor Morgado, do clã Morgado, uma familia que marcou o desporto moçambicano, foi um dos grandes esteios do SCLM, imprescindível na orgânica da equipa, que muito contribuiu para os títulos dos “leões “destacando-se como alguém que nunca dava um lance como perdido, e que lançava muito bem e que ganhava muitos resaltos nas tabelas. Tive a oprtunidade de o acompanhar durante o despertar da década 70, em jogos que esgotavam os pavilhões locais, e vim posteriormente a ser seu colega nos SMAE. Era alguém que tentava viver a vida de forma divertida, amigo do seu amigo e que não dava grande importância ao tempo.Hoje o Renato Caldeira, fez muito bem recordar a figura tipica do grande “Molinhas”.
Danilo Gujral
Grandes lembranças deste craque e amigo, apesar do Maxaquene club adversário, mesmo ao lado do nosso. G. Desportivo de Maputo. Sempre com excelente camaradagem.
Nino ughetto
é verdade ,grandes atletas Mas foi noutros tempos, Tudo passa tudo acaba
Carlos
Grandes jogadores e alto nível de jogos de basquete com influência de malabaristas americanos naquela altura. Cheguei a estar com o molinhas por coincidência aquando a minha visita a Moç. Em 96 em casa de um amigo de infância no Maputo, e quem estava lá sentado com uma “geladinha” se não o molinhas. Rui Pinheiro vi o umas poucas vezes na Suíça (pastelaria no rossio) em Lisboa em 76/77.
alfredo
Grande equipa, tenho pena de nao ter vivido estes momentos. Era da Beira. Mas agora ainda me encontro com alguns famosos, Mario, Nelson Serra…etc… lagartos ate a ultima casa.
josé carlos alves da silva
Grande jogador, um regalo vê-lo a jogar… Abraço
José Gonçalves
Grande Vítor. Tive o enorme gosto de com ele conviver e partilhar balneário, tendo sido com ele campeão escolar, em 1964/65. Num jogo entre as escolas industrial e comercial fez um cesto para lá do meio campo… saudades desses tempos ,da sua boa disposição e das suas exibições pelo Sporting de LM.
Isabel Valongo
Foi um gosto rever-vos e lembrar como era saudável a camaradagem. Éramos uma sociedade do futuro e não sabíamos. Sejam felizes.
Jeanette Brandwood
Grande Molas. Muita saudade daquele tempo e do basquetebol
Arnaldo Vieira
Acrescentaria, talvez a extraordinária família de desportistas a que estava ligado, de jogadores a treinadores passando por árbitros e dirigentes! Grande enorme família Morgado!