“Vovó Rita”: quelimanense de 118 anos faleceu!
Há dias faleceu a vovó Maria Rita, seguramente a pessoa mais velha de Moçambique, provavelmente da África e pertencente a um grupo restrito de pessoas com a sua idade em todo o mundo. E porque esta morte aconteceu num dos mais conturbados momentos da vida do nosso Moçambique em que os pensamentos, acções e intenções estão apontados para as marchas, reivindicações e por aí fora, o desaparecimento físico de uma tão significativa quão emblemática figura, pouco mexeu com a sensibilidade das autoridades e cidadãos em geral de Quelimane e muito menos do país.
Afinal, a mentalidade em colocar nas nossas agendas assuntos que deveriam “despriorizar” diferenças, é secundarizada pelo que diz respeito ao acesso ao poder.
Esta história de vida, é única no país no que toca à longevidade. Também pela simpatia e humildade, de uma ícone que viveu etapas bonitas. Para mim, que conheci e reportei a sua vida, torna-se imperdoável que a morte da “mamã” Rita tenha passando despercebida nos Órgãos de Comunicação Social, sobretudo a nível nacional. Se em vida poucos sabiam da sua existência, pelo menos na altura da sua morte, era obrigatória a referência no museu da longevidade que a nossa mente colectiva impõe.
JOVIALIDADE DE CORPO E ALMA
Numa altura em que a capital da Zambézia era elevada a Cidade, há 8 décadas, Maria Rita, então com 38 anos, já exibia o seu estilo muanamuchuabo “a vati” (originário).
Há perguntas que ficarão por responder:
Porque é que a sua idade não foi reconhecida no Guiness Book? Especialistas no que toca à genética, deveriam ir ao Bairro Torrone Novo, (com)provar dados e colocar a nossa rainha da longevidade no lugar a que tinha direito em África e no Mundo. Não fosse o terceiro-mundismo com que somos catalogados e a nossa idosa figuraria nos anais, com o seu nome a percorrer o Mundo, como estrela mais que centenária.
Maria Rita nasceu e vivia em Macuze, quando um cidadão de origem indiana recém-chegado à Zambézia, não resistiu aos seus encantos. Numa conversa que com ela tivemos, recordava: “Resisti, mas acabei me apaixonando. Ele foi o homem da minha vida”.
Nos seus últimos anos, viveu pacatamente na terra do coco, evitando mordomias. Andar dengoso e calmo, potenciava nos contactos o dialeto local. Maria Rita acordava cedo, cumprindo aquilo a que sempre se obrigou: banho matinal, capulana bonita e sugestões em relação à refeição. Depois, ajudava os jovens a pilar, peneirar e a escolher as componentes. Tudo complementado com a utilização de um baloiço que havia no quintal e as rezas na altura própria. Detestava o facilitismo dos jovens na execução das tarefas, e por isso eles não escapavam às suas reprimendas. Em dia de aniversário, vovó Rita tinha dificuldade em entender a ausência dos amigos e amigas de infância…
Até à sua morte, manteve o hábito de contar histórias às gerações mais novas.
Revelou-nos que um dos prazeres, que não lhe saía da memória, foi ter preparado um almoço para o Presidente Samora Machel.
- Vovó Rita teve 11 filhos, 45 netos, 35 bisnetos, 11 trinetos e 5 tetranetos. Foram cinco gerações!
Renato Caldeira – Janeiro de 2024
5 Comentários
Nino ughetto
Tudo passa tudo acaba Paz a sua alma. Todos nos vamos seguir la
ABM
Levou quase setenta anos de Pax Lusitana e quase cinquenta de Pax Freliminiana.
Nelson Barata
Sem querer introduzir alguma celeuma no artigo verifico que a Sra. em questão se chama Maria Luisa, porquê o nome de Vovó Rita?
Desconhecia que em Moçambique, viveria alguém capaz de ombrear com os genes Japoneses,
e que, penso, poderia ser a pessoa mais velha do Mundo.
José Manuel Simões
Subscrevendo na íntegra o comentário de Manuel Martins Terra, embora adivinhando que a senhora terá sido essencialmente matriarca e, eventual e igualmente também patriarca (não conheço o histórico).
Deus a tenha em descanso.
Pêsames à família e amigos.
Manuel Martins Terra
Tem razão o Renato Caldeira, quando inquire o motivo da cidadã Maria Rita, carinhosamente conhecida por “Vovó Rita”, não figurar no Guiness Book, tratando-se quiçá da mulher mais idosa do continente africano, e no globo certamente poucas haverá com tal longevidade. Pena é que no seu país, os órgãos de comunicação social e a classe politica, tenham ignorado o percurso e o modo de vida, de uma cidadã que merecia uma grande homenagem, deixando mais de uma centena de descendentes. É profundamente lamentável, que a figura de Maria Rita, não faça perte da história, porque isso só prova que aqueles a quem lhes é concedido o voto para o poder, são gente sem memória. À familia enlutada, o respeito e as condolências pela perda da sua estimada patriarca.