Resposta ao comentário de João Santos Costa sobre a ADSE
A idade empurra-nos em direcção ao silêncio. As pessoas querem que não faças nada. Tenta evitar isso continuando em frente. A necessidade de escrever mais e mais é uma preocupação constante”.
Vidiadhar Nappaul (Prémio Nobel de Literatura, 2001)
“No uso da licença e da liberdade de quem não pede favor senão justiça”, como foi hábito de vida do Padre António Vieira, em resposta ao teu comentário, publicado no “BIgSlam”, ao meu post – “O Partido Socialista, a ADSE e “a parga cinzenta” (20/09/2017) – recorro ao meus tempos de aluno liceal em que o latim era levado muito a sério pelo auxílio prestado ao conhecimento das origens da nossa língua pátria.
Assim, começo por citar a expressão latina: “Quantum mutatis ab illo” (quão mudado do que era”). Ou seja, se o Bloco de Esquerda e/ou o Partido Comunista, em defesa da justiça social que se fartam de apregoar, não andassem à boleia da “geringonça”, atrevo-me a pensar que em vésperas de eleições autárquicas já se teriam pronunciado a favor do respeito que nos devem merecer os velhos e doentes vergastados pelo látego impiedoso de uma ADSE que pretende continuar a aumentar os seus proventos para, por vezes, tapar os buracos das contas públicas. Aliás, como nos alertou Charles Dickens, “um bom samaritano é um mau economista”!
“Et pour cause”, se és jovem e cheio de saúde és benquisto; se és velho e doente és lançado para uma espécie de morte lenta em que te são retirados de supetão benefícios que te foram atribuídos como antigo cônjuge de beneficiário ao atingires 65 anos de idade porque neste país “à beira mar plantado” lança o Partido Socialista leis cá para fora (recuperadas do tempo do PSD) para ver se pegam de estaca: se o Zé Povinho (imortalizado por Rafael Bordalo Pinheiro) se agachar, tudo O.K.; se refilar, nomeiam-se comissões sem poder decisório para dividir responsabilidades de medidas anunciadas por Carlos Liberato, director-geral da ADSE, como sejam “consultas mais caras”, comparticipadas pela ADSE! Atente, agora, o leitor neste paradoxo: para efeitos de aposentação o funcionário público só é velho ao 70 anos, para se inscrever na ADSE é velho a partir dos 65.
A ADSE, em resposta a uma exposição minha (02/12/2016), embora redigida em português correcto comprovando o meu exigente diploma da 4.ª classe do antigo ensino primário, remeteu a minha ignorância para a leitura e interpretação da legislação que motivou a minha exposição com se essa legislação fosse inamovível Rochedo de Gibraltar. Ou seja, afadigam-se os próceres da ADSE, quais prestidigitadores que tiram pombas de uma cartola aparentemente vazia, em tentarem endireitar a sombra de uma vara torta em vez de reconhecerem e emendarem o erro de um legislação tortuosa que expulsou desapiedadamente do seu seio velhos e doentes num país em que, em contraponto, os afectos merecem o desvelo do Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa a quem me atrevo pedir, em desespero de causa e se for caso disso, que apele ao soberaníssimo bom senso da ADSE, como aconselhou Antero de Quental aos seus contemporâneos.
Por defender o princípio de antes quebrar que torcer, espero que, pela minha persistência, a minha voz seja ouvida por quem nos governa para que os cidadãos velhos e doentes não se tornem hoje em personagens do drama de de um romance de Arnaldo Gama (1828-1869): “Para isto é que eu vivi ? Malditos anos! Maldita velhice! ”
Recebe um abraço, meu caro João, deste teu velho amigo e antigo professor que sente orgulho em ter tido alunos como tu, Luís José Oliveira e Mário Alexandre Gomes autores dos outros dois comentários ao meu post, em atenção a uma problemática em que a juventude e a meia-idade confluem para um destino que lhe é predestinado para o Inverno da vida onde tudo faz confusão no que respeita a mudanças de hábitos e costumes, mormente, ao serem arrastados para um Serviço Nacional de Saúde em que apesar do humanismo de muitos médicos e enfermeiros já rebentava pelas costuras antes de ser sobrecarregado por nova “clientela” que se vê obrigada, por vezes em cadeiras de roda, a percorrer uma via sacra pejada de doentes deitados em macas de corredores das urgências hospitalares. Haja dó!
2 Comentários
Rui Baptista
Meu caro José Campos, um abraço grato pelo seu comentário prova evidente do seu espírito de cidadania que me apraz registar numa época em que os idosos são havidos pela Adse trapos velhos. Infelizmente, não só pela Adse também por aqueles que a apoiam com o seu criminoso silêncio…
José Campos
Gostei de ler – tanto o artigo principal como as reacções. Obrigado!
Meu caríssimo Sr. Professor Rui Baptista: Continue a “dar-lhes nas orelhas” , insista, insista, insista! Um abraço meu pra si.