SÃO TOMÁS D’AQUINO E A FÉ em comentário ao post “NÃO FUI A FÁTIMA”
Se algo em mim pode ser chamado de religioso é a minha ilimitada admiração pela estrutura do mundo que a nossa ciência é capaz de revelar”
(Albert Einstein).
Meu Caro João Santos Costa:
Com o agrado e proveito de sempre, li o teu novo post, aqui publicado em (17/05/2017), intitulado “Não fui a Fátima”.
Por nele debateres questões de fé sobre a existência de Deus e, “ipso facto”, das religiões monoteístas (polemizadas, desde tempos imemoriais até aos nossos dias, entre teólogos, filósofos, cientistas e, por arrasto, entre simples e anónimos crentes e descrentes ) reproduzo aqui um meu post, publicado no blogue “De Rerum Natura”, de que sou um dos co-autores, intitulado “Carta Aberta a Eugénio Lisboa” (26/11/2015), festejado ensaísta e crítico literário desde os tempos da “nossa” Lourenço Marques, de cujo extenso e valioso currículo de vida extraio brevíssimos exemplos: “doutor honoris causa” por Nottingham (Reino Unido”) e Universidade de Aveiro e sócio da Academia de Ciências de Lisboa.
Vem isto a propósito, por ele se questionar sobre a nossa condição humana de simples mortais que não se conseguem libertar da lei da morte e, consequentemente, sobre o que nos espera num futuro mais ou menos próximo ou distante, quando escreve: “Talvez tudo. Talvez nada. Mas provavelmente alguma coisa”. Aqui chegado encontro eu, ou julgo encontrar, resposta, para as minhas inquietações sobre a vida para além da morte, em São Tomás d’ Aquino, que referencio nesta minha transcrição da minha supracitada missiva:
“Meu Caro Eugénio: Voltei à minha meninice quando me prometiam algo que eu esperava ansioso. Assim aconteceu quando, finalmente, a campainha soou à minha porta e o carteiro me entregou o teu derradeiro volume de memórias autografado, que me tinhas prometido: “Acta Est Fabula”: Memórias – V- Regresso a Portugal: (1995-2015)”.
Como dizia Eça, “em Portugal não se lê, folheia-se”. No meu entusiasmo, fiz-me prosélito queirosiano: folheei-o, quase diria sofregamente, dando de caras com o mau momento, felizmente ultrapassado, que passaste, anos atrás, com a tua saúde. E, em consequência (?), reporto-me à contracapa do teu livro: “Chego ao fim: sinto-me, um pouco, numa sala de espera. Aguardando o quê? Talvez tudo. Talvez nada. Mais provavelmente, alguma coisa. Sou ainda capaz de surpreender-me. O assombro mantém-me de pé”.
Referias-te, ao que deduzo, à finitude da vida humana? E ao rasto que vamos deixando desta “vida descontente” que muito nos apoquenta a pelo receio do desconhecido, nem que seja só sob o ponto de vista filosófico, quando no outono da vida? Na maior parte das vezes no anonimato, mas no teu caso numa vida riquíssima sob o ponto de vista cultural, profissional, familiar e, ‘last but not least’, de cidadania que tens cumprido no mais nobre sentido da palavra.
Aliás, S. Tomás d’Aquino, a este respeito, remete-nos para uma questão de Fé:
Para os que têm fé numa explicação é necessária; para os que não têm fé nenhuma explicação é possível”.
O que resta, portanto, para aqueles que se debatem entre dúvidas e certezas confortantes ou desconfortantes sobre o seu destino? O reconforto que nos deixa Henri Poincaré:
O Homem representa um pálido clarão na tempestade da vida, mas esse clarão é tudo”?
Como vês, faço perguntas para as quais não encontro respostas. Aquelas respostas, que a minha fé em Cristo, e na sua pregação sobre um mundo novo de “amai-vos uns aos outros”, começa a ruir no romper deste milénio que prenuncia, pelo contrário, odiai-vos uns aos outros.
Recebe um abraço deste teu dedicado amigo de saudosos tempos da nossa cosmopolita e cultural Lourenço Marques, hoje Maputo.
Coimbra, 27 de Novembro de 2015.
Rui Baptista”.
A terminar, meu estimado João, sobre estas questões do insondável mistério da fé, trago à colação o filósofo do século XIX, John Stuart Miller :
As nossas crenças mais justificadas não têm qualquer outra garantia sobre a qual assentar, senão um convite permanente ao mundo inteiro para provar que carecem de fundamento”.
Repara tu que a própria Santa Teresa de Calcutá, exemplo de uma prática de doação sem limites aos pobres e deserdados deste mundo de Cristo, chegou a ter momentos de descrença de fé. Aquela fé que de um mundo para além das agruras do nosso dia-a-dia leva o povo a anunciar que aqueles que morrem partem desta para melhor. Ou seja, o inferno, ao contrário de que me atormentaram na minha meninice tão distante do octogenário que hoje sou, existe na terra e não no Céu.
Recebe um abraço amigo deste teu velho professor da saudosa EIMA que se fez docente por vocação e se revê em ti como um actual e estimadíssimo jovem colega de profissão.
Rui Baptista
2 Comentários
Nelson Silva
Caro Prof. Rui Baptista: Parabéns pelo texto e pelo seu 86º aniversário.O tema não é fácil de abordar – pelo menos para mim – que tenho sempre vivido na tentativa de decifrar a acertada ponderação entre a fé e a razão que me deve mover
Rui Baptista
Obrigado pelos parabéns enviados e pelo comentário. Quanto ao meu texto teve como motivo dar um modesto contributo a uma temática (como por si é reconhecido:, não fácil de abordar, levantada pelo João Santos Costa. Para complicar a coisa, ocorre-me Blaisé Pascal: “O coração tem razões que a razão desconhece”! Um abraço amigo.