Hoje vou transcrever uma das curiosidades do nosso Atletismo em Moçambique contado pelo nosso grande atleta internacional de meio fundo José Silveira.
“Quando iniciámos em 1966 os treinos de Atletismo no Ferroviário de L. Marques sob a orientação do Prof. António Vilela, recebemos do clube fatos de treino que eram autênticos pijamas” . As nossas mães modificaram os fatos de treino, colocando elásticos nos punhos e nos tornozelos.
Equipa de Juniores do Ferroviário onde aparecemos com os ditos fatos de treino.
O CPEF (Conselho Provincial de Educação Física) cria depois o CAA (Certificado de Aptidão Atlética) para incentivar os atletas a melhorarem as suas marcas pessoais.
O CAA publicava anualmente no CPEF as marcas (mínimos) que determinavam os diferentes Graus – Regional, Provincial, Nacional e Internacional. Os atletas eram premiados anualmente de acordo com os mínimos obtidos:
- Diploma CAA
- Emblema para uso na lapela, equipamento ou bolso do casaco (para os atletas de Grau Nacional ou Internacional).
- Fatos de Treino e um saco para equipamento modelo exclusivo CAA (só para atletas com Grau Provincial ou superior).
- Material desportivo a todos os atletas que obtivessem os mínimos anuais tais como: Varas de Salto, Spites, Discos etc.
Uma das exigências do CAA, era que os atletas estudantes, apenas lhes seria atribuído o CAA desde que tivessem aproveitamento escolar.
Emblema CAA de Grau Regional
Exemplo: Prova de 100 metros Seniores Masculinos (mínimos em 1969).
- Grau Regional: 11 seg.
- Grau Provincial: 10,8 seg.
- Grau Nacional: 10,6 seg.
- Grau Internacional: 10,3 seg.
Equipa do Ferroviário de L.M na deslocação à Beira onde se podem ver o José Silveira, Helena Relvas e Eugénia Caeiro com os fatos de treino de cor branca e curtos nas pernas…
Alguns atletas receberam fatos de treino como prémio Provincial ou Nacional do CPEF. No entanto alguns devido à sua estatura (altura), ficaram com as calças de fatos de treino muito curtas e apertadas. O José Silveira foi um deles, e para remediar a situação, a sua mãe acrescentou duas faixas (bainhas) no final das calças do fato de treino (tornozelos), muito felpudas, pois foi o único tecido que na altura conseguiu comprar em Lourenço Marques.
As calças vestidas e apertadas, e com este acrescento em tecido felpudo da mesma cor, dava a imagem de um verdadeiro “caniche”.
O categorizado José Silveira, competiu nos mais diversos cenários nacionais e internacionais (S. Silvestre em Luanda) e sempre que aparecia no aquecimento com este fato de treino, era alvo de risada e de “gozo” da parte dos outros atletas… mas o José Silveira superava tudo, pois o importante para ele era a competição… e no final da maioria das provas quem se ria era ele!