Faz este domingo um ano que Bertina Lopes faleceu.Foi na madrugada do dia 10 de Fevereiro do ano passado em Roma, onde residia.
Filha de pai português e de mãe moçambicana, terminou os seus estudos secundários em Lisboa, onde se formou em pintura e escultura pela Academia Superior de Belas-Artes. Durante a sua estadia em Portugal, ela teve a oportunidade de conhecer alguns pintores portugueses, como Carlos Botelho e Marcelino Vespeira.
Em 1953, regressou a Maputo e lecionou desenho, durante nove anos, na escola técnica General Machado. O contacto com a poesia de Noémia de Sousa e de José Craveirinha influenciou o trabalho da artista que começou a exprimir nos seus quadros a crítica social e política. Na fase inicial da sua carreira, regista na sua tela intitulada “Mafalala” um cenário sombrio, representando a dor do povo moçambicano que teve a sua identidade esfacelada pelo processo de colonização. Para o efeito, serviu-se da pintura para prestar a sua contribuição ao fortalecimento da consciência patriótica e nacionalista dos seus concidadãos.
Em 1962, ganhou uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian que lhe permitiu estudar cerâmica, em Portugal, com Querubim Lapa. No entanto, devido ao regime ditatorial da época e à política colonial administrada por António de Oliveira Salazar, Bertina Lopes decidiu não regressar a Moçambique e, em 1964, obteve uma outra bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian afim de aprofundar os seus conhecimentos artísticos em Roma, onde se estabeleceu. Aí, conheceu artistas italianos, como Marino Marini e Renato Guttuso.
Bertina realizou várias exposições em Itália, assim como noutros países, tais como Portugal, Luxemburgo, Moçambique, Angola, Cabo Verde e Espanha. Desde 1993 ela exercia as funções de conselheira cultural na Embaixada de Moçambique, em Itália. A pintora, que começou a sua carreira em 1950, tem sido alvo de numerosos estudos e análises sobre o seu trabalho artístico.
Bertina Lopes recebeu vários prémios e títulos dos quais se destacam o 1.º Prémio de Pintura Internacional do Centro Internacional para a Arte e Cultura Mediterrânea (1975), o Grande Prémio de Honra da União Europeia da Crítica de Arte (1988), o Prémio Mundial Carson da Fundação Rachel Carson, em Nova Iorque (1991), o prémio internacional de arte “La Piejade” (1992), em Roma, e o título de Comendadora de Arte entregue pelo presidente Mário Soares (1993).
Conheça melhor Bertina Lopes através deste vídeo em homenagem à artista.
Um Comentário
Carlos Hidalgo Pinto
A pintora e escultora luso-moçambicana Bertina Lopes, foi uma intelectual mal compreendida pelo regime político então em vigor em Moçambique. Entretanto, procurou de alguma forma obter um sincretismo, tendo em conta a Geografia Cultural moçambicana.Teve uma acção bastante positiva para o solucionar da guerra civil moçambicana, aquando da sua presença em Roma, onde viveu largos anos. Penso que após a descolonização, contribuíu para uma aproximação cultural de Moçambique e de Portugal. Convivi com uma das suas irmãs, Drª Isaura Lopes que tinha um espírito bastante liberal e que teve um período de exercício profissional em Macau. Estas andanças e o espírito luso-moçambicano, deveriam ser reforçados, através das trocas culturais, como no domínios das artes, da música do cinema e do desporto.