40 ANOS
Estes últimos meses serviram certamente para que os actuais gestores da Rádio Moçambique pensem e repensem naquilo que pode ser o futuro da maior e melhor equipada estação emissora do nosso País. A RM, sigla pela qual ficou conhecida desde 2 de Outubro de 1975, e que se confunde com a República de Moçambique, é também aquela que cobre uma considerável parte do nosso território.
É preciso fazer jus aos desenvolvimentos conseguidos na área tecnológica, proporcionando em contrapartida, aos seus ouvintes, programas mais atractivos, mais educativos e de melhor qualidade. Programas que possam ir de encontro ao destinatário. Àquele que paga a taxa de radiodifusão.
Lamentavelmente ainda há lacunas. Ainda há melhorias que têm de ser feitas, especificamente no que à qualidade do serviço público de radiodifusão diz respeito.
Julgo, salvo melhor opinião, que as lacunas detectadas, só serão sanadas, se a RM investir ainda mais na formação convencional e técnico-profissional dos seus quadros a todos os níveis. Uma forma de embaretecer os custos dessa formação que se pretende moderna e de alta qualidade, é usar, também, como monitores, alguns dos seus quadros com provas dadas de capacidade de formação, que estejam interessados em embarcar nesta aventura e que tenham condições físicas e psicológicas de o fazerem.
Nos debates havidos ao longo destes últimos meses, no quadro das Jornadas de Radiodifusão,
onde se enalteceram os feitos de pessoas ligadas ao mundo da nossa radiodifusão (Samuel Dabula, Rafael Maguni, Leite de Vasconcelos) e onde se contaram histórias dum passado com história, foram deixados alguns recados, no que tange por exemplo à melhoria da qualidade dos programas, na utilização correcta das línguas em que a nossa Rádio emite (português e diferentes línguas nacionais) e no reatar de algumas realizações que constituíram um marco importante na história da radiodifusão do pós 25 de Junho.
Sou de opinião que se devia refazer “o sentido das palavras” evitando que seja (como ouvi há dias) extenso e maçudo. Em rádio, dependendo do tipo de programa, o factor tempo (duração dum programa) é fundamental.
Há que verificar das possibilidades de reatar programas de natureza educativa e cultural. Neste capítulo há referências que advêm dum “Sabadar”, que enchia por completo o estúdio-auditório da nossa RM e que ficou como imagem de marca da nossa estação pública de radiodifusão.
Seria interessante que o “Poesia e Contos de Todo o Mundo” criado ao tempo do Leite de Vasconcelos ou ainda a “Cena Aberta” (teatro radiofónico) pudessem vir a constar da grelha de programas da RM. E porque não retomar os folhetins radiofónicos? Há experiências de “Sandokan – o Tigre da Malásia” ou ainda de “Unaiti, o Guerrilheiro”.
Não tenhamos medo ou receio de repor aquilo que foram marcas indeléveis de qualidade da radiodifusão moçambicana. A reposição destes programas só beneficia o ouvinte, que é, por sinal, a razão da nossa existência.
No meio de tantos pedidos, aqui fica mais um: o “parabéns a você”, o programa de entrevistas às noivas e o “último tempo” (parafraseando o meu antigo colega e amigo Luis Loforte) são “o paradigma da mediocridade radiofónica”. Para além disso são programas que no meu entender não têm espaço de radiodifusão num canal nacional.
PS: A Rádio Moçambique comemora os seus 40 anos de existência na próxima sexta-feira, dia 2 de Outubro. Aos que, em defesa da radiodifusão, continuam apostados em nos oferecer trabalho de qualidade, o meu aceno de muita simpatia.
João de Sousa – 30.09.2015