A VITÓRIA PREPARA-SE
Nós não somos os Camarões. Esses sim, Perdem por 3 e depois dão a volta ao resultado. O saudoso Saíde Omar viveu essa odisseia. Tal foi o “forcing” de recuperação de Thomas N’Kono e dos seus companheiros de equipa, que o nosso Saíde ficou sem saber como contar os golos que se iam anichando na nossa rede.
Nós já nos esquecemos do significado da palavra formação. Já nem sequer nos lembramos da existência das escolas de jogadores, comandadas por Mário Romeu ou de “Tubarão”. Para os mais novos esses nomes devem fazer confusão. A geração actual de jogadores de futebol pouco se importa com a formação. Se calhar, por falta de referência, não saibam também quem foi Quarentinha, Aniceto dos Muchangos, Jambane, Hamide, César Manjate, Sitoi, Chababe, José Luís, Adelino Jorge, Ricardo e Mário Borja, Calton, Nuro Americano, Santinho, Almeida, Cabral, Filipe, Nito, enfim …
E não sabem porque ninguém se preocupou em explicar-lhes quem foram esses (e outros) craques, que deram brilho e qualidade ao nosso futebol, numa altura em que a nossa vida era carapau e repolho.
Os campinhos que tínhamos deram lugar a verdadeiros monumentos de betão. São outros negócio$ e outros interesses, envolvendo muito boa gente da nossa “nomenclatura”, que se está nas tintas para o desenvolvimento desportivo e do futebol em particular. Pessoas que muito consomem perdulariamente do nosso parco erário público.
As peladas já não fazem parte do nosso dicionário futebolístico. O “muda aos cinco acaba aos dez” também não.
Essas salutares tropelias que se faziam, numa época em que o “cautchú” muitas vezes era substituído pelo conjunto de meias rotas que tínhamos lá por casa e com as quais fazíamos a nossa bola de trapos,
hoje, já são memória dum outro tempo. Já não existem.
Hoje, alguns (dirigentes, jornalistas, etc …) dão-se ao luxo de levar o público acreditar que “podemos fazer história” revertendo um resultado que nos foi desfavorável. Eles próprios sabem bem que isso é impossível, mas tentam convencer-nos que “nem tudo está perdido”.
E quando se perde, e por consequência da derrota somos afastados duma determinada competição, lá vem o responsável governamental dizer que “precisamos de programas de formação”. Descobriu a pólvora.
E como se isso não bastasse, encontramos remédio santo, qual macumba influenciada por espiritismo, que dita sentenças do estilo: “vamos mudar de treinador”. E o novo técnico deve trazer no bolso a poção mágica para melhores dias dos nossos “mambas” cujas picadas já não matam coisíssima nenhuma. Mart Nooij não deu. Gert Engels idem.
Mart Nooij e Gert Engels
João Chissano também não. Mano Mano, idem aspas.
João Chissano e Mano Mano
E vamos dando a volta ao mundo à procura do salvador da Pátria.
Estamos a pensar em vitórias esquecendo que futebol não está nem pode estar dissociado dos problemas que no dia-a-dia nos afligem. Da ausência de paz, da pobreza, do alto custo de vida, dos baixos níveis de produção e produtividade, de indisciplina. Estamos a pensar em vitórias numa altura em que os níveis de comportamento da sociedade baixaram drasticamente. Os valores culturais perdem-se de minuto a minuto. A moral, a ética, os bons costumes e a auto-estima desapareceram num ápice. Basta andarmos na rua para vermos e sentirmos isso.
Temos de começar a pensar em fazer qualquer coisa pelo desenvolvimento humano. Não basta que tenhamos essas duas palavras inscritas na designação dum Ministério. E esse desenvolvimento humano faz-se com uma sociedade sã, capaz, próspera, interessada, honesta, conhecedora.
Infelizmente há por aí muita gente que já se esqueceu que “a vitória prepara-se, a vitória organiza-se”.
PS: Parabéns ao Ferroviário de Maputo, sua direcção, equipe técnica, associados e adeptos, pela vitória no Moçambola 2015.
João de Sousa – 04.11.2015