ALAVANCAR e IMPACTAR – os verbos da nova elite política.
Josefate é um amigo meu de longa data. Foi companheiro de escola. Na primária e depois no liceu. Na João Belo onde todos os que morávamos no bairro fizemos a nossa quarta classe. Foi vizinho na Malhangalene. A Malhangalene dos tempos idos. Do tempo dos bailes no Atlético. Dos jogos renhidos de basquetebol, onde se vendia cara a derrota. Dos Morgados, do Raimundo Bila, do Valentim Gomes da Silva, dos Wilsons, do Alberto Costa e de tantas outras figuras gradas que deixaram o nome registado na história dum clube de bairro. Alguns deles infelizmente não estão fisicamente connosco. Foi este Josefate dos tempos de escola que fui encontrar no passeio defronte dum bar, na Av. Eduardo Mondlane. Perguntei-lhe o que fazia por aquelas bandas. Respondeu-me que queria matar saudades do Goa, assim é o nome dum restaurante, que em tempo recuado foi propriedade dum amigo nosso, de seu nome Estolano. Era nessa altura o local dos pitéus goeses. Era ali que tirávamos a barriga da miséria, ao tempo em que uma dose de sarapatel se comprava por apenas 5 escudos.
O Goa desse tempo nada tem a ver com o Goa de hoje.
Eu não sou muito dado a bares. Mas a insistência de Josefate foi de tal ordem que decidi entrar. Para fazer companhia apenas e para ouvir o rol de lamentações que ele ia carregando nos ombros. Diz-me Josefate que se vai afogando lentamente nos prazeres da bebida alcoólica, porque isso lhe faz esquecer as agruras da vida. Do filho que se meteu na droga e de lá não sai nem por nada deste mundo. Da esposa que continua na função pública e não há meio de progredir na carreira. Dele próprio que reformado, não consegue um part-time em lado nenhum, porque consideram que “eu sou velho, e como tal não sirvo para nada”.
Josefate fala-me em alavancar. Diz que tem ouvido essa palavra várias vezes. Quando liga o rádio, lá aparece um dirigente a dizer que “conseguimos alavancar isto e aquilo”. Alavancar é o verbo que está na moda, bastante utilizado pela nova classe política. Qualquer um utiliza a torto e a direito, muitas vezes sem conhecer o seu verdadeiro significado. Talvez por isso Josefate me tenha convencido, na longa conversa de bar, que precisamos de alavancar os “mambas” e esperar que a qualificação para o CAN interno, conseguida após um precioso empate em Benguela, possa colocar a equipa de todos nós no lugar a que ela tem direito.
Mas mais do que isso. É preciso alavancar a selecção nacional de basquetebol de masculinos, que recentemente participou no Afro-Basquete de Abidjan, porque “assim como as coisas estão no vamos a lado nenhum”. Até já somos derrotados por Cabo Verde !
Josefate não sabe bem como encontrar a solução para os problemas que acabam, no seu fraco entender, “por impactar todo o processo”. Oxalá, diz ele, não impactem nos femininos que vão lutar pelo título de basquetebol em Maputo
ou nos nossos hoquistas que querem melhorar o quarto lugar no Mundial de Angola.
Pergunto-lhe de quem é a culpa de tanto fracasso. Prefere alinhar pelo lado mais fácil. A culpa é sempre do treinador. Se não for deste é do Presidente da Federação. Se calhar do Ministro. Ou até mesmo do Governo.
João de Sousa – 04.09.2013