AMNÉSIA
Quando eu cheguei a Pretória, em Agosto de 2006, para iniciar a minha actividade de correspondente da Rádio Moçambique na África do Sul, Lindiwe Zulu era membro do parlamento daquele país. Esta senhora, que em 2004 foi Embaixadora no Brasil e que em 1991/92 esteve exilada na Tanzânia, Uganda e Angola, onde recebeu treino militar, conheceu e sentiu na pele o significado de solidariedade. Não admira por isso que ela saiba o que quer dizer “ubuntu”, porque afinal esta palavra que define o sentido de humanidade para com os outros, foi coisa que certamente Lindiwe Zulu aprendeu a praticar.
Lindiwe Zulu
Quando esteve nos países que mencionei acredito que nunca foi vítima de discriminação. Viveu como “estrangeira”, mas em momento algum esse seu estatuto a impediu de realizar o seu trabalho, de conviver com os cidadãos dos países por onde passou, de conhecer novas realidades e experiências. É esta senhora que agora, uma vez assumido um cargo governativo de Ministra para o Desenvolvimento de Pequenos Negócios vem a público dizer o seguinte:
“os estrangeiros donos de lojas localizadas nas “townships” da África do Sul não devem esperar por uma coexistência pacífica com os proprietários sul africanos, a menos que eles transmitam o segredo do negócio. Os estrangeiros terão de entender que eles estão aqui por cortesia. A nossa prioridade é para os cidadãos sul africanos. É preciso que estes pequenos comerciantes (nacionais e estrangeiros) se comuniquem entre si e troquem ideias”.
O insólito (mas não difícil de perceber) desta atitude protagonizada por alguns sul africanos é, fundamentalmente, contra os estrangeiros pretos. Os judeus, os árabes, os indianos, os europeus, os americanos, os asiáticos não são incomodados não obstante a maior parte destes sejam bem mais prósperos que os estrangeiros negros.
Lindiwe Zulu não é a primeira pessoa a manifestar-se desta forma. Este pronunciamento, publicado numa das edições do jornal sul-africano “Mail & Guardian”
vem na sequência das desastrosas e incendiárias afirmações de Goodwill Zwelithyni (que acabou por dar o dito por não dito) e de Eduard Zuma, um dos filhos do Presidente da África do Sul, sendo que este continua renitente e não retira uma vírgula à sua vergonhosa declaração pública.
Goodwill Zwelithyni e Eduard Zuma
Quando Lindiwe Zulu fez este pronunciamento desastroso começaram a surgir nas diferentes plataformas de comunicação os mais variados comentários e até insultos. Só que os insultos contra esta governante não vão mudar aquele pensamento. Há que fazer muito mais para reverter esta forma de pensar que (infelizmente) faz parte da cultura de outros membros do executivo de Jacob Zuma e não só.
Pede esta senhora Ministra que os estrangeiros transmitam o segredo do negócio. É simples, muito simples. O segredo dos estrangeiros prosperarem na (sua) terra do “rand” pode ser definido, como dizia o meu amigo e actor Adelino Branquinho, numa das redes sociais, por uma única palavra: TRABALHO … TRABALHO e TRABALHO.
PS: agrada-me saber que alguns cidadãos sul africanos moradores de Palm Ridge, em Ekurhuleny, organizaram patrulhas que percorrem as ruas dos bairros onde residem, para defender os moçambicanos contra futuros ataques. Este exemplo, propagou-se a outros “townships”, segundo revelam alguns jornais sul africanos.
João de Sousa – 29.04.2015
2 Comentários
Fernando Franco
O mais “engraçado” nesta história toda, é que esse Eduard Zuma é sul-africano só por ser filho dum sul-africano. A mãe dele é uma princesa suazi, e ele próprio por lá nasceu, cresceu e estudou.
Joao Felizardo
O ubuntu q se ve por toda a africa ; do sudao a nigeria ,ao rwanda , a frelimo e renamo , ao mpla e unita ;ao zanu pf ; aos rebeldes da DRC etc etc ; pessoal e so ubunto as corelhadas e a carrinho de mao ;