As declarações do presidente da FPF sobre o último Campeonato Mundial de Futebol
Depois de ter acabado de ouvir, esta noite, o presidente da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) declarar na televisão, justificando o desaire da Selecção Nacional de Futebol no último Campeonato Mundial no Brasil, que “houve falta de competência” (sem dizer de quem!), não resisto a transcrever parcialmente o meu post aqui publicado com o título “No rescaldo do Campeonato do Mundo de Futebol 2014” (19 de Agosto de 2º14). Nele escrevi:
“Tendo em conta a amargura que transpareceu no rosto dos amantes portugueses do desporto-rei, e numa altura propícia a críticas em que, por vezes, segundo Pascal, “o coração tem razões que a razão desconhece”, julgo vivermos uma belíssima ocasião para não deixar cair no esquecimento os verdadeiros males que afectaram a desconsoladora participação da nossa Selecção Nacional no Campeonato do Mundo de Futebol de 2014. Isto é, a culpa, como é hábito nacional, não deve morrer solteira!
Por esse facto, torno a abordar um assunto que tanta tinta fez correr, tantas horas televisivas ocupou, tantas tertúlias de mesa de café mereceu, por os campeonatos mundiais de futebol se tornarem, por vezes, numa espécie de tribunal popular em que, por vezes, são sentados unicamente no banco dos réus os respectivos seleccionadores nacionais. Colho o exemplo do despedimento do brasileiro Filipe Scolari (que chegou a ser tido inicialmente de motu proprio ) diferente da posição assumida por Paulo Bento que, isentando-se de quaisquer culpas no cartório, disse, peremptória e publicamente, perante as câmaras de televisão, que não se demitiria. Pudera, não! Como escreveu João de Deus: ‘O dinheiro é tão bonito / Tão bonito o maganão! / Tem tanta graça o maldito / Tem tanto chiste, o ladrão’.
Quanto à direcção da Federação Portuguesa de Futebol, parafraseando uma expressão utilizada nas actas das audiências dos tribunais portugueses “aos costumes disse nada”, também ela, ainda nada disse sobre medidas futuras a tomar para evitar novos e previsíveis desaires. E aqui põe-se a questão: mas serão os selecionadores nacionais os únicos culpados? Porventura, estarão isentos de culpa os governantes com a tutela do Desporto, os dirigentes federativos que se põem em evidência quando as vitórias lhes batem à porta e recolhem ao silêncio quando as derrotas lhe entram casa adentro? E os próprios jogadores, estrelas de um firmamento futebolístico que nem sempre cintila, fazendo dos campeonatos mundiais de futebol uma feira de venda de si próprios, com a ajuda preciosa dos seus agentes, atingindo os seus passes cifras astronómicas e, ipso facto, descurando o necessário jogo de equipa de uma modalidade desportiva colectiva por excelência?”
Ou seja, “houve falta de competência de quem?” Da Secretaria de Estado dos Desportos, da Federação Portuguesa de Futebol, de Paulo Bento, dos médicos da selecção, dos jogadores?
Ou bastará fazer uma declaração em que se diz que houve falta de competência sem dizer de quem e porquê?
Fico à espera de novos desenvolvimentos para que a culpa não morra solteira com esta lacónica, e tarde a más horas, declaração televisiva que sabe a pouco ou mesmo a nada. Ou seja, a FPF, novamente, “aos costumes, disse nada”! Nem sequer se redimiu da precipitação em ter renovado o contrato (passando um cheque em branco) com Paulo Bento, em vésperas do referido Campeonato Mundial.
Precipitação mesmo que se venha a apurar que houve competência por parte do seleccionador nacional na preparação e orientação da equipa das quinas em terras de Santa Cruz. Na expressão popular, é o que se chama “pôr o carro à frente dos bois!”
Rui Baptista – 26.08.2014