As interferências da FIFA!
O Estádio Nacional de Brasília, que se designa de Estádio Mané Garrincha, foi a forma encontrada pela Federação de Futebol daquele País da América do Sul de imortalizar o nome de um dos mais proeminentes jogadores de futebol do Brasil e do mundo.
A decisão não foi tomada de ânimo leve. Em linha de conta estiveram alguns aspectos importantes, sendo que um deles se prende com o facto de Garrincha (o homem das pernas tortas) de seu verdadeiro nome Manuel Francisco dos Santos, ter projectado (tal como Pelé e outros fizeram) o nome do Brasil além fronteiras.
Foi uma justa homenagem que agora a FIFA quer desfazer.
Recentemente surgiu a notícia de que o órgão reitor do futebol mundial exigiu que o Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha, palco da abertura da Taça das Confederações 2013 e de sete partidas da Copa do Mundo de 2014, retire o termo “Mané Garrincha” do seu nome no período em que estiverem a realizar-se aqueles eventos. Mas há mais. O nome da Arena de Pernambuco vai ter de ser modificado para Arena Nacional.
Segundo informações do jornal “Folha de S.Paulo”, a FIFA justificou que “a consistência dos nomes dos estádios devem ser mantidas”, pois tais competições são de “interesse internacional”. Com isso, o nome do “Anjo das Pernas Tortas” não poderá ser usado em qualquer propaganda ou divulgação do evento.
Segundo sei o mesmo não aconteceu com outros estádios brasileiros que albergarão os desafios de futebol da Taça das Confederações e da Copa do Mundo, cujos nomes, segundo a FIFA, podem ser de difícil compreensão, como são os casos de Maracanã ou Mineirão.
A Fifa diz que “a mudança é um procedimento comum” e cita como exemplo o mundial da Alemanha, em 2006, quando a Allianz Arena, do Bayern de Munique, perdeu durante a Copa de 2006 o nome da seguradora que a patrocinava e recebeu um genérico: Arena de Munique, ou o caso de 2010 onde o FNB de Joanesburgo passou a designar-se de “Soccer City”. Só que nestes dois casos compreende-se a decisão da mudança do nome, já que qualquer deles (da Alemanha e da África do Sul) estavam associados a interesses de natureza comercial, o que não acontece com o Estádio Mané Garrincha de Brasília. Nas questões de natureza comercial a FIFA, por força de acordos que ela própria estabelece, tem poder de decisão.
A Fifa refere-se a “nomes de difícil compreensão” e utiliza o argumento (pouco sólido quanto a mim) de “competições de nível internacional” Ora bem: se me refugiar apenas no Mundial de 2010 apetece-me perguntar porque é que a FIFA não decidiu mudar o nome de Moses Mabida de Durban, Ellis Park de Joanesburgo, Peter Mokaba de Polokwane, Royal Bafokeng de Rustenburg ou Mbombela de Nelspruit ? Será que estes nomes não eram (e provavelmente continuam a ser) de difícil compreensão ?
A FIFA devia preocupar-se em encontrar mecanismos que combatam atitudes anti-desportivas e de corrupção que envolvem a organização e alguns dos seus membros, como por exemplo a compra de votos no processo de candidaturas das competições que ela organiza ou os escândalos financeiros que estão por detrás dos negócios dos direitos reservados às transmissões televisivas que dão direito a que muitos dos seus membros entrem em negócios ilícitos, com o intuito de encherem os respectivos bolsos, servindo-se do desporto e não servindo o futebol.
Querer retirar o nome de Garrincha do Estádio Nacional de Brasília durante o período de realização da Taça das Confederações e do Mundial de 2014 é ingerência nos assuntos internos do país, para além de que é uma decisão sem pés nem cabeça.
A menos que Joseph Blatter e os seus apaniguados não saiba quem foi Garrincha e o que ele representou para o futebol do Brasil e do mundo. Brincadeiras de mau gosto de prepotentes que pensam ter o rei na barriga.
João de Sousa – 10.04.2013