ATÉ QUE ENFIM!
Já lá vão 28 anos quando se decidiu que a Rádio Moçambique deveria editar (na altura em cassete) a música gravada nos seus estúdios. O Director na altura era o saudoso Leite de Vasconcelos. Que música? De quem? Obedecendo a que critério? Estas (lembro-me como se fosse hoje) as três perguntas que se colocaram. Um dos aspectos importantes foi o da qualidade. Qualidade das letras, da melodia, dos arranjos, da orquestração.
A RM era a única instituição que na altura estava (tal como hoje continua a estar) habilitada a gravar com qualidade. Havia estúdios de captação e de misturas por onde passaram nomes consagrados do sector de produção musical, como foram os casos de Fernando Azevedo ou Francisco Cuna (infelizmente já falecidos) ou de Roberto Hauze e de Albino Caetano. Pelas mãos destes homens passaram nomes consagrados da música moçambicana.
Com todo este manancial era imperioso que se iniciasse o processo de gravação e comercialização da música moçambicana. As fábricas existentes até 1975, como eram os casos da Teal Discos, propriedade do saudoso João Gomes Leitão, das Produções 1001 e da Casa Bayly, que chegaram a lançar no mercado alguns discos de artistas moçambicanos, deixaram de funcionar logo depois da independência de Moçambique. Era preciso cobrir esse vazio.
Uma das decisões foi produzir cassetes de música moçambicana com as canções finalistas do concurso Ngoma Moçambique, sendo que muito depois se optou por processo idêntico em relação ao Top Feminino. Quase que simultaneamente a Rádio Moçambique enveredou pelas produções individuais de vozes masculinas e femininas do nosso País.
O resultado desta acção foi extremamente positivo. As primeiras gravações eram comercializadas na Sede da Rádio Moçambique e em toda a sua rede de Emissores Provinciais. Quando a era da cassete chegou ao fim, enveredou-se pela gravação em CD, um suporte tecnológico mais avançado e que oferecia (como ainda hoje oferece) um outro padrão de qualidade.
Esta louvável iniciativa que permitiu aos moçambicanos terem em mão as canções moçambicanas da sua preferência, sofreu uma quebra a partir de 2006, se a memória não me falha. Alegava-se, na altura da interrupção da produção, que a pirataria era o grande obstáculo à continuidade desse projecto que nos anos 90 passou de sonho a realidade.
Porque a pirataria existia, deixou-se de produzir. Decisão tacanha dos gestores da RM daquele tempo. Uma daquelas lamentáveis situações de o paciente morrer do medicamento que lhe foi administrado e não da doença.
Volvidos 9 anos de interrupção eis que a boa nova chega. CDs de música moçambicana voltam a ser gravados e comercializados pela Rádio Moçambique em todo o espaço nacional. O pontapé de saída deste reatamento foi dado com o CD contendo as 10 canções finalistas do Ngoma Moçambique 2014, seguindo-se o lançamento oficial do novo CD do Grupo RM “Muli Hefu”, na passada sexta feira, dia 29 de Maio.
É caso para dizer … até que enfim.
João de Sousa – 03.06.2015