A HISTÓRIA DO CLUBE FERROVIÁRIO DE MOÇAMBIQUE
Junto do Matadouro (velho) havia uma cantina onde se jogava o chinquilho, e alí se reunia, nas horas vagas, o pessoal da Tracção que cultivava aquela modalidade de jogo. Perto havia o campo de futebol do Sporting Clube de Lourenço Marques (mais tarde campo de treinos do 1º de Maio) onde se disputava os campeonatos da Associação local. Um dia do mês de Setembro de 1924, à porta dessa mesma cantina, abria-se uma quota entre indivíduos para a compra de uma bola e respectiva bomba. E assim nasceu o Clube Ferroviário de Moçambique. O seu nome de parto era Clube Desportivo Ferroviário.
As grandes obras nascem de pequenos gestos!
Da compra da bola nasceu a ideia de se fundar o clube. O teor da primeira acta rezava assim:
“Aos 13 de Outubro de 1924, pelas 20 horas, reuniu-se na casa nº. 13 da Vila Mousinho, um grupo de ferroviários que deliberou fundar em Lourenço Marques uma associação desportiva, denominada «Clube Desportivo Ferroviário», destinada a exercer o desporto e a beneficência”. Esta descrição da gênese do Ferroviário vem inscrita numa coisa que se chama” Livro de Ouro do Mundo Português ” (s/data).
A primeira sede do Clube Ferroviário de Moçambique
Nos primórdios de 2000, como se vê, o Ferroviário – a economia da palavra lavrou esta designação, parece ser o menino-prodígio que cumpre à risca a predestinação que lhe traçaram os progenitores: no desporto é numerosa a obra feita e na beneficência – concretamente na área social, está demais comprovada a utilidade da obra do clube ao longo dos anos. Por mais que o fio dos tempos tenha trazido alguns desencantos. E desacatos. Pois, algum património passou por períodos negros de destruição.
Mas será, a de que falamos, uma obra do ferroviário? Ou dos CFM? Cremos que dos dois, pois, embora dos CFM tenha vindo o Ferroviário, é este o clube que vem escrevendo a história desportiva da gigantesca empresa de Portos e Caminhos de Ferro moçambicana. Uma mão lava a outra, já dizia o ditado.
O clube ajuda na concretização da obra social da empresa. A obra social não radica apenas no servir os trabalhadores com uma clínica hospitalar ou com uma estalagem de férias em praia paradisíaca. É também levar-lhes as emoções do desporto, a possibilidade da sua prática e receber o seu contributo na edificação do clube, o feedback da paixão que criou a mística ferroviária.
O parto do Ferroviário foi feito sob a aura do futebol – no princípio, foi o futebol que lhe deu a alma e lhe cultivou o alento – esse desporto dito de multidões. Mas o ímpeto nos primeiros 15 anos da vida foi arrebatador. O Ferroviário levou muito ferro na sua medula espinal.
Da data da fundação até 1929, o clube não faz provas porque não possui nem elementos nem recursos para isso. O Livro de Ouro dá mesmo conta do facto: “E se não deixou de existir, deve-se unicamente, muito unicamente, à tenacidade forte desse grupo de carolas que nunca perdeu a fé de ver o seu «Ferroviário» chegar a ser ainda alguma coisa em Lourenço Marques”.
O casamento do clube com os Caminhos de Ferro, entanto que empresa, dá-se em 1931, quando a Administração Ferroviária ” delega o clube para trabalhar na educação física dos seus funcionários “.
A obra social não radica apenas no servir os trabalhadores com uma clínica hospitalar ou com uma estalagem de férias em praia paradisíaca. É também levar-lhes as emoções do desporto, a possibilidade da sua prática e receber o seu contributo na edificação do clube, o feedback da paixão que criou a mística ferroviária.
O parto do Ferroviário foi feito sob a aura do futebol – no princípio, foi o futebol que lhe deu a alma e lhe cultivou o alento – esse desporto dito de multidões. Mas o ímpeto nos primeiros 15 anos da vida foi arrebatador. O Ferroviário levou muito ferro na sua medula espinal. Da data da fundação até 1929, o clube não faz provas porque não possui nem elementos nem recursos para isso. O Livro de Ouro dá mesmo conta do facto:
“E se não deixou de existir, deve-se unicamente, muito unicamente, à tenacidade forte desse grupo de carolas que nunca perdeu a fé de ver o seu «Ferroviário» chegar a ser ainda alguma coisa em Lourenço Marques”.
O casamento do clube com os Caminhos de Ferro, entanto que empresa, dá-se em 1931, quando a Administração Ferroviária ” delega o clube para trabalhar na educação física dos seus funcionários “.
De lá para cá o Ferroviário viveu uma trajectória de edificação de si mesmo à sombra tutelar da empresa. O primeiro campo, iluminado exemplarmente por via da quotização dos sócios, à semelhança do Estádio da Machava (na altura Estádio Salazar), foi erguido em 1944, tal como a actual sede em Maputo.
O Estádio Salazar é dos anos sessenta.
Em meados da década de 60, o clube era já um monstro no portefólio do desporto do Moçambique colonial. Para além do futebol, o Ferroviário lançou-se ao atletismo, basquetebol, ciclismo, ginástica, hóquei em patins, minibásquete, natação, ténis de mesa, tiro, etc. E em 1968 inaugurou aquela que é ainda hoje a maior infraestrutura do desporto moçambicano: o Estádio da Machava, inaugurado a 30 de Junho desse ano, vulgo sala de visitas do nosso futebol.
Na actualidade, o ferroviário detém o maior parque desportivo de Moçambique. Não existe Província sem clube de seu nome. Se a carolice que guindava para a prática desportiva nos tempos de então era decisiva, nos dias que correm muitos ferroviários deixaram de apitar sob os carris da bola mas, mesmo assim, a obra está lá. O legado, hoje, é imenso. Já nos anos 70, o clube tinha 21 delegações pelo País fora. De Gondola ao Lumbo. De Lapala a Mutarara. Em Malema, na Manga, em Magude, etc., etc., etc. E parques desportivos: o Pavilhão de Desportos da Beira, que inclui a única Piscina Olímpica em funcionamento no País, o Pavilhão de Desportos de Nampula,
também com piscina,
a piscina de Gondola,
para não mencionar o grandioso complexo localizado na capital do país, Maputo.
A história desportiva do Ferroviário também é rica em títulos conquistados. A contingência do espaço leva-nos a delimitar a sua descrição e, sem descriminações implícitas, a cingirmo-nos ao desempenho do futebol do clube-mãe, o de Maputo, nos últimos 25 anos.
O palmarés inclui 5 títulos nacionais (1982-89-96-97-98) e vitórias da Taça de Moçambique (em 1998 e em 1992). No âmbito internacional, o Ferroviário chegou mais longe que qualquer outra equipa moçambicana nas competições africanas. Em 1993, comandado pelo “monstro sangrado” Mário Coluna, o futebol quase atingia a final da Taça das Taças Africanas, não fosse a sorte ter bafejado o Nakivubo Vila do Uganda. Mais recentemente, disputou a novel Liga dos Campeões Africanos, com uma boa prestação.
Se os CFM ajudaram a que o império desportivo dos trabalhadores ferroviários crescesse de forma impoluta, beneficiando os próprios trabalhadores, estes também viram a empresa a construir por todo o País uma obra social de vulto, obra essa que hoje continua erguida. Já em 1964, contavam-se 12 edifícios sociais, entre Bairros residenciais, lares de estudantes, pousadas para trabalhadores, bares, restaurantes, enfermarias para trabalhadores doentes e até centros de formação profissional.
Assim é que encontramos na Praia do Bilene uma imponente estância balnear e em Inhambane a grandiosa Escola Ferroviária de Moçambique (hoje Escola Superior de Hotelaria e Turismo), inaugurada em Março de 1971. Este legado, hoje, é tido pelos trabalhadores também como seu património. Importante na história da empresa, ele está no coração de todos os ferroviários e é memória viva do suor dos muitos moçambicanos que deram o seu máximo pela empresa desde 1885.
Fonte: (Reproduzido da revista Xitimela, dos CFM, escrito por Marcelo Mosse)
10 Comentários
delfimloureiro12@gmail.com
Clube do meu coração .parabéns meu ferroviário.clube Grande e de grandes conquistas.tive um prazer e um grande orgulho de representar este clube tanto Em Lourenço Marques como na beira e com sucesso nos escalões de formação.KANIMAMBO FERROVIÁRIO.
Cândido Ramiro Filomeno do Carmo Azevedo
Como fui aqui feliz enquanto praticante de ginástica aplicada com o treinador Julio Roncon. Tinha como colegas Filipe Vargas, Fernando Reis, Mário Reis, Eurydia Correia e tantos outros. São tantas as saudades.
Maria Manuela Antunes Galvão de Almeida
O meu avô António Simões Galvão foi um pioneiros que trabalhou nas Pontes dos CFM!Chegou a Chefe de Pontes e viveu na Matola/Gare até aos seu falecimento aos 71 anos de idade (que ocorreu num Hospital da África do Sul).Participou numa Greve dos Ferroviários (este episódio encontra-se no Arquivo Histórico de Moçambique),foi preso e enviado para a Metrópole (no início do Século XX )donde se evadiu e voltou a Lourenço Marques.Quem o protegeu foi o pai do escritor/poeta José Craveirinha um algarvio ( Guarda Fiscal).O meu avõ foi perdoado e ingressou de novo nos CFM.O meu pai era o mais velho dos irmãos (Carlos Ferreira Galvão maquinista dos CFM.Em jovem participou no Órfeão do Ferroviário de L.Marques.O meu tio Fernando Ferreira Galvão (secretaria dos CFM na baixa de L.Marques)também foi orfeonista no. Ferroviário de L.Marques.
Luís Nunes da SIlva
Boa tarde,
Nasci em Moçambique, vim para Portugal em 1976, com pouco mais de um ano de idade. Sou filho de moçambicanos, neto de moçambicanos e bisneto de uma moçambicana, nascida no Ibo (filha de um General do Exército Português, vindo da então Índia Portuguesa).
Um dos meus bisavós (o que me dá o nome de família), natural de Lisboa, Santos-o-Velho, foi para moçambique no início do século XX (sei que casou em 1918 em Lisboa) e sei que esteve envolvido nas greves de ferroviários de 1925/1926, onde terá sido prezo e supostamente deportado. Digo supostamente, pois morreu em Lourenço Marques a 10.02.1947, no Hospital Miguel Bombarda.
Não sei se será a mesma pessoa. Se for possível alguma informação sobre este assunto (presos nas greves de Lourenço Marques no início do século XX). O Nome do meu bisavô é: Júlio de Sousa e Silva. Casou em Lisboa com Ernestina Nunes de Abreu, teve duas filhas (que desconheço o nome) e um filho (João Nunes da Silva – meu avô paterno – nascido em Lourenço Marques). Se for possível ajuda, agradecia.
Obrigado,
Luís Nunes da Silva
António Augusto Barreira
Como funcionário dos Caminhos de Ferro, parte da minha mocidade, foi dedicada a este Clube, onde joguei contra os jogadores famosos, como Eusébio, Coluna, Matateu, Vicente, Lage, Costa Pereira e outros mais.
Nampula, Quelimane, Lourenço Marques, serviram de palco a tantos jogos, quer não so como jogador , mas também, como treinador e até dirigente desportivo.
Bons tempos.
Samuel Carvalho
Obrigado António Barreira pelas suas memórias. Um abraço locomotiva.
António Campos
Clube Ferroviário de Moçambique a que os miúdos que jogavam no pelado do Chamanculo ali onde começava a Rua do Capelo, orgulhosamente apelidavam de “Come Farinha de Mahala”. Todos nós tivemos os nossos clubes de eleição em Lourenço Marques e na metrópole longínqua. Mas aos filhos dos funcionários dos CFM estava reservado o privilégio de ter um terceiro, o Ferroviário.
Acompanhando os pais nas suas andanças pelo território quando eram transferidos, para onde quer que fossem tinham sempre um Ferroviário à sua espera para lhes dar todo o apoio moral e o convívio com os novos amigos. Foi assim em Gondola onde vivi dos 2 aos 6 anos de idade e em Moatize dos 9 aos 10. Ao comemorar agora os 91 de existência é natural portanto, que toda a família ferroviária se sinta orgulhosa por esse facto e que um bocado dele permaneça ainda bem vivo no nosso coração. Recordo também com saudade o velho Freitas e Costa onde treinava quando joguei no Alto-Maé e onde assisti vezes sem conta aos treinos do saudoso José Magalhães e outros atletas, que tinha de correr na diagonal para poder perfazer os 100 metros. Num piso em que era proibido cair para não esfolar os joelhos. E das grandes partidas de futebol ali da lateral de madeira donde assisti também incontáveis vezes aos treinos do Baltazar por detrás da bancada num vulgar banco porque os aparelhos estavam ainda num horizonte distante. Aquilo é que era o verdadeiro amor ao desporto e à camisola. Donde nos esgueirávamos com facilidade para a bancada central apenas a uma perna esticada de distância. Parabéns portanto a todos os funcionários, atletas e simpatizantes pela passagem deste dia especial.
Um abraço fraternal para todos
Campos
Samuel Carvalho
Caro António Campos, foi um delicia ler o seu comentário sobre o nosso Ferroviário, pois conseguiu produzir imagens inesquecíveis através da sua escrita.
Bem haja pelo seu testemunho.
Jorge Martins
Eu tive a honra de ter jogado basquete no Ferroviario da Beira.
Parabens Ferroviario!
Samuel Carvalho
Olá Jorge Martins, tu no Ferroviário da Beira e eu no de L. Marques/Maputo. Saudades desses tempos…