DEPOIS DO VOTO – A desorganização organizada.
Nas páginas deste diário digital já nos referimos à desorganização organizada, provocada pelas instituições que têm como obrigação colocar a máquina eleitoral a funcionar. A funcionar e bem. Esperava eu pelo meu momento de votar. Enquanto isso fui fazendo o “zapping” entre os canais televisivos. Passei pela TVM, pela TIM e deixei-me ficar na STV. Foi nesse “zapping” que vim a descobrir uma máquina eleitoral enferrujada e que em consequência disso não funcionou em pleno, contrariando pronunciamentos anteriores do Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE) dando conta que tudo estava “nos conformes”.
E estar tudo a postos, como se disse bastas vezes, significou deixar eleitores à porta do local de votação, (alguns “bicharam” a partir das 4 horas da matina) esperando pelos senhores que deviam estar a tempo e horas no local e não estavam. Quem vai punir este tipo de gente? Como perceber que uma meia dúzia de pessoas se dêem ao luxo de fazer esperar idosos, mulheres grávidas, pessoas doentes? Pagaram para fazer isso? Pagaram para fazer sofrer o povo? Parece ter sido uma acção orquestrada, de gente sem escrúpulos, que no dia 15 andou à deriva.
Depois de outros pleitos eleitorais, sendo o mais recente o das autárquicas de 2013, torna-se difícil perceber a razão de tanto descarrilamento. “Desapareceram” cadernos eleitorais ou os nomes de alguns eleitores não constavam das listas previamente elaboradas, com base no recenseamento feito. Como perceber por exemplo o que aconteceu no Instituto Industrial em Maputo, quando um cidadão foi impedido de votar, porque “alguém” já tinha votado por ele? Como se explica o facto de não se ter iniciado a contagem dos votos, porque numa determinada sala de aulas, onde funcionou um dos postos de votação, não havia giz?
Porque será que alguns membros que se encontravam à entrada dos locais de votação, tendo por missão efectuar o primeiro controle do cidadão, estivessem mais preocupados em falar ao celular ou a trocar mensagens (eu vi, ninguém me contou) em vez de atender com prontidão quem vinha votar?
Onde está o sentido de responsabilidade, de organização, de conhecimento, de saber fazer as coisas de forma impecável ? Talvez os culpados, como me disse um amigo meu, não sejam os que trabalharam no terreno, mas alguém “acima destes”.
E para finalizar, uma pergunta (talvez) arriscada. Para quando a possibilidade de votação de forma electrónica. Isso resulta? Será viável? Será que este sistema se adapta à nossa realidade? Em 2019 provavelmente.
PS: como referiu o meu amigo e colega Luís Loforte, numa das redes sociais, a maior parte das salas de aulas que funcionaram como postos de votação são tudo menos salas de aulas. São “autênticos estercos, evidenciando a hecatombe que se abateu sobre a nossa educação”. Se os empresários da nossa praça, tão dedicados a apoiar causas e a reconhecer feitos da mais variada natureza, em vez de comprarem Mercedes,
investissem na melhoria das infra-estruturas da Educação, então, estudar animava. Assim como as coisas estão, não anima.
João de Sousa – 22.10.2014