Nome (completo): António Manuel Silva Botelho de Melo.
“Alcunha” ou nome pelo qual és conhecido entre os amigos: Para os amigos dos tempos de Moçambique, “Tomané Botelho de Melo”. Mas tirando estes, fico fera se alguém me trata por esse nome.
Data de nascimento: 30 de Janeiro de 1960.
Natural de: Lourenço Marques, a.k.a Maputo.
Localização actual: Depende de onde há trabalho e de quem paga mais.
Estado civil: Casado.
Altura: 1.83 m
Peso: 87 kgs
Profissão: Gestor financeiro.
Ideologia política: Não me chateiem (a sério, tendo a ser conservador ma non troppo).
Crença religiosa: Não tenho nem nunca tive amigos imaginários.
Localização da tua residência em Moçambique: Vivi sempre na Polana, perto da Ponta Vermelha. Lembro-me de quase tudo, e de quase todos.
Rua dos Aviadores em L. Marques (Pais Melo à direita na foto)
Percurso escolar:
- Instituto Verney na Somershield.
- Escola Primária Rebelo da Silva na Pinheiro Chagas.
- Escola Preparatória General Machado na Polana.
- Liceu António Enes nos Altos do Maé.
- Liceu 5 de Outubro (apanhei o Liceu Salazar com este nome) na Polana.
- Liceu Infanta Dona Maria em Coimbra, Portugal.
- John F. Kennedy High School em Bristol, Estados Unidos da América.
- Brown University, Providence, Estados Unidos da América – Licenciatura.
- Boston University, Estados Unidos da América – MBA.
Serviço Militar: Fiz tropa em casa com o Pai Melo, que era uma espécie de Capitão Von Trapp.
Percurso profissional: Quase sempre em bancos, algum trabalho de consultoria financeira e de contratos. Já ando nisto há mais que 30 anos seguidos. Aprendi umas coisas.
Percurso desportivo:
Aonde e quando iniciaste a tua actividade desportiva? Desportivo LM, Natação, o primeiro treinador foi o Sr. Manuel da Mata. Dizem-me que tinha algum jeito para aquilo, e também que não tinha jeito para mais nada.
Qual foi a tua principal modalidade? Natação (Hello??)
Alguém (quem) te influenciou a escolher esta modalidade? O Pai Melo. Mandou-me nadar para a piscina do Desportivo.
Piscina do Grupo Desportivo L. Marques (GDLM).
Escolas de natação do Grupo Desportivo Lourenço Marques, cerca de 1965. ABM está na fila de baixo, 3º a contar da esquerda.
Os Botelhos de Melo (e o Zé Manuel Abreu) na piscina do Desportivo em Lourenço Marques, 1971. ABM está no meio com os pés no ar.
Isso deve contar como “influência”, não? Não que eu tivesse escolha no assunto.
Qual foi o teu primeiro jogo ou prova oficial? Umas provas quaisquer na piscina do Desportivo em 1966, atravessei a piscina de bóia e tábua de madeira e ganhei uma medalha enquanto no megafone berrava uma marcha do John Philip Souza. Achei o máximo.
Treinador que mais te marcou ao longo da tua carreira e porquê? Tive alguns, todos me marcaram e, por minha parte, penso que os marquei também – um pouquinho. Faz parte. Eles sabem quem eles são.
Descreve uma situação caricata que tenha ocorrido em campo ou numa prova: Estava demasiadamente ocupado a tentar ganhar as provas para reparar.
Revista Tempo – 1973
Recorda alguns dos momentos mais marcantes e o mais frustrante na tua carreira desportiva: Não consigo destrinçar desta forma. Tive uns dias melhores, outros uma seca.
Quais os clubes que representaste? Desportivo LM; Clube Académico de Coimbra; Brown Swim Club (EUA); Brown University (EUA).
ABM em Coimbra – 1976
Os teus ídolos na tua modalidade de eleição? Não tenho ídolos, de qualquer espécie. Só gente que eu admiro. E são poucos.
Quais os atletas de sempre que eleges nesta modalidade? Hum….. Rui Abreu e Paulo Frishknecht. Os dois nadaram comigo nos Jogos Olímpicos em Montréàl. O Rui era de Moçambique.
Rui Abreu e Paulo Frishknecht
Outras modalidades que tenhas praticado? Joguei um pouco de ténis.
A modalidade que mais aprecias na qualidade de tele/espectador? Ver os membros do parlamento português a fingir que estão a gerir o seu país. De resto, raramente assisto a desportos, em pessoa ou pela televisão.
O teu clube do coração?
Em Moçambique? Grupo Desportivo L. Marques (GDLM).
Em Portugal? Grupo Desportivo L. Marques (GDLM).
No estrangeiro? Grupo Desportivo L. Marques (GDLM).
(percebem?)
Escolhe três modalidades diferentes da tua, e elege o melhor atleta de sempre (nacional e mundial) em cada uma delas: Positivamente, não ligo a estas coisas.
Qual a infra-estrutura desportiva (pavilhão, campo, piscina, pista, etc.) que mais te impressionou ao vivo, no estrangeiro e em Portugal? Esta pergunta é a sério? Se sim, nenhuma.
Quais as maiores diferenças que encontraste (no campo desportivo, social e ambiental) após deixares Moçambique? Foi quando fui estudar para Coimbra em 1975. Ao princípio pareciam-me ser todos uns verdadeiros matrecos. Depois, após alguma análise, confirmei-o (sem ofensa, claro).
Qual o teu hobby? História e Fotografias e documentos de Moçambique.
Leio avidamente e penso que sei mais do que a média das pessoas sobre este tema.
Destino de férias preferido? Ficar em casa. “Férias” para mim quer dizer “não trabalhar”, não é ir para algum lado. Isso já dá trabalho e custa dinheiro.
Viagem de sonho que gostarias de realizar ou que já realizaste? Ficar em casa. Não tenho estas manias de viajar, apesar de já ter dado a volta ao mundo algumas vezes, inclusive de “férias”.
Uma cidade para viveres? Carmel, Califórnia,
ou no campo no Ribatejo português.
Para Carmel preciso de dois milhões de dólares, para o Ribatejo, apenas que o fisco português roube menos. Claro que adorava viver em Moçambique, mas a lei da nacionalidade inventada pelo Dr. Óscar Monteiro em 1975 impede-o.
Óscar Monteiro
Em Moçambique, sou “estrangeiro”. Obrigadinho por tudo, Óscar, és um gajo porreiro (e já tive chance de lhe dizer isto na cara).
O teu canal de TV? Não tenho. Vagueio, infelizmente a maior parte do tempo de uma mediocridade para outra mediocridade. Por essa razão escudo-me em livros e em documentários no Youtube.
Programas televisivos do teu agrado? Noticiário da BBC, de vez em quando.
De resto, documentários. Não perguntas, mas deixo aqui que leio quase todos os jornais de Moçambique e alguns de Portugal e do resto do mundo, pela internet. Gosto de estar bem informado.
A tua estação de rádio? Era a TSF em Lisboa, até há alguns anos alguém se lembrar de passar música e o governo português passar aquela lei patética a impor que 85% da música passada tinha que ser portuguesa. Cães.
Um dos teus filmes preferidos? 2001, Uma Odisseia no Espaço, de Stanley Kubrick, 1968. Vi-o no Manuel Rodrigues, com 9 anos de idade.
Qual o teu actor/actriz predilecto? Não tenho.
O teu realizador de eleição? Nem sei o que é isso. A maior parte dos filmes hoje são lixo, feitos para impressionar meninos adolescentes mal habituados. Não são para gente que pensa.
Qual o estilo de música que aprecias? Várias, desde clássica a jazz, rock, etc. Depende do momento. É um dos meus prazeres.
Uma das tuas músicas favoritas de sempre? Para variar, e como bónus, dou duas:
As Time Goes By (de Herman Hupfeld, do filme Casablanca)
I’ve Got You Under My Skin (Frank Sinatra)
O teu cançonetista ou banda favorita de sempre? Não tenho, apesar de uma certa tendência subliminar para o Frank Sinatra.
Um livro que tenhas lido e te recordes? The Birth of the Modern, 1815-1830, de Paul Johnson.
Aliás, já li e recomendo quase tudo o que o Paul Johnson escreveu.
O teu prato predilecto? Esparguete com alho, azeite, azeitonas e um pouco de tomate. Regado com queijo parmesan ralado e uma Coca-Cola Zero.
Elege um animal de estimação: Não tenho. Gosto de todos e respeito-os e irrita-me quando os outros não são assim.
A tua cor preferida? Azul. Sempre foi.
As tuas qualidades: Aprendo depressa, sei usar o que aprendo, tenho um firme sentido de humor e quase sempre, tudo compreendo, e quase tudo perdoo.
Os teus defeitos: Tenho alguma indisposição visceral para a mediocridade humana e intelectual. E há coisas que não perdoo e nunca, nunca me esqueço.
Gosto de: Gosto de muitas coisas. Não enumero. Faz parte da vida.
Não gosto de: Também há muita coisa que não gosto. Também faz parte da vida.
Acontecimento pessoal que mais te marcou? Possivelmente a forma como a minha Família e amigos saíram de Moçambique nos anos 70 enquanto o mundo positivamente se marimbava.
Aprendi umas coisas com essa odisseia. Ensinou-me a tentar ser independente e ainda que a mudança é para ser abraçada sem medo.
Acontecimento mundial que mais te marcou? Nenhum em particular. Levamos com essas coisas todas em cima, boas e más, e fazemos pela vida.
Um sonho ou desejo pessoal? Fechar-me um dia na minha casa no campo e estar em paz dez anos a ler, a escrever e a cuidar das árvores de fruto.
Citações favoritas:
Great People talk about Ideas
Average People Talk About Things
Little People talk about each other
E ainda
Work like you don’t need the money
Love like you’ve never been hurt
Dance like nobody’s watching
Momento de humor: Um camelo é um cavalo desenhado por um comité. Não sei se isto conta como anedota. Ou ainda secánevassefaziasecáski.
Em jeito de conclusão (responde sem pensares muito):
Se te saísse o totoloto/euromilhões o que não dispensavas ter?
Não dispensava de ter uma conta numa praça offshore discreta para onde mandava o dinheiro todo e a seguir mudava-me para Carmel (ver acima). O meu estilo de vida não se alteraria muito. Mais Porsche, menos Porsche. Mandava umas roupas da Calamidade para Moçambique, claro.
Como imaginas Portugal num futuro próximo? Estás optimista? Não imagino. Não estou optimista. Mas também nunca estive. Penso que Portugal é um país maravilhoso mas inviável para a minha geração, sem oportunidade, bom apenas para uma pequena elite que vive não do seu talento mas de conhecimentos, cunhas e esquemas. A mediocridade impera e inibe os talentosos. O resto sobrevive do que sobra e das lascas do Socialismo.
O que dizem os teus olhos? Que esta entrevista está quase a chegar ao fim.
Dá a tua opinião sobre o www.BigSlam.pt:
Nunca achei muita piada ao nome. Mas o vosso trabalho é cinco estrelas. Brilhante. E fala muito à minha costela moçambicana.
Qual a rubrica do site que mais aprecias? Leio quase sempre tudo o que me cai na caixa do correio. Isso é uma rubrica?
Deixa aqui a tua mensagem para os leitores do BigSlam: “A vida é curta. Só temos esta. Façam alguma obra e divirtam-se antes que acabe”.
O BigSlam agradece ao António Botelho de Melo toda a sua disponibilidade e simpatia em responder a esta entrevista.
Bem Haja!
7 Comentários
Helena Jorge de Jesus
Meu querido Tomané! Já se passaram tantos anos desde a última vez que te vi ,mas, ao ler esta entrevista perecia que estava contigo no Dona Maria( C.C.turma Q). Continuas igual meu amigo. Uma pessoa maravilhosa, educado, simpático e o teu sentido de humor tão teu que dá gosto ouvir. Adorava falar um pouco contigo e reviver aqueles tempos do Dona Maria. Obrigada por me teres dado a oportunidade de te conhecer. Helena Jorge
Isabel
Tomané lembro-me de te ver nadar no Desportivo. Saí de LM em 20 de março de 1976, chorei o trajeto todo, foi o dia mais triste da minha vida tirando o falecimento dos meus pais. Grande prazer em ler esta entrevista e parabéns pelo Delagoabay que me põe bem disposta e ajuda a passar um dia feio, tipicamente bruxelense. Fica bem. Beijinho.
Bébé Amaro Morais
Tomané, que é feito de ti meu Amigo?? Desapareceste completamente das minhas amizades, que se passou?? Não sei e nem compreendo porquê!! Está tudo bem contigo e com a família? Dá notícias e a propósito pedi-te de novo amizade! Mal te conheço na tua foto de perfil, conhecia bem a outra… Beijinhos e adorei a tua entrevista!! Tomané igual a Tomané, sempre!!
Cristina matos
Sinto saudades de o encontrar no facebook. Acho-o muito inteligente e muito interessante.
AGOSTINHO MARQUES
conheci muito bem o teu pai,porque foi treinador de futebolno 1ºde Maio onde jogava o Marques.Muitos parabéns pelo que dizes .U m muito obrigado pelo que li e que me fizeram lembrar os beloe tempos passados nessa minha segunda Pátria.AGOSTINHO marques que morou na Munhuana L.M.
Foguetão
Saudades… de quando em Boston.
Luís Pina
Meu caro amigo António como colega e amigo que me orgulha ser, reconheço aqui uma vez mais a tua humildade, a tua força de viver e a tua capacidade de tornar as coisas difíceis em fáceis com um sorriso e saber estar muito próprio. É uma honra poder partilhar os teus momentos de profissional competente, sempre pronto a apoiar e a ajudar. Obrigado ABM pelas tuas qualidades inatas de um ser humano sensível e verdadeiro. LPina