Ferroviário de L. Marques/Maputo – 1º Campeão Nacional de Moçambique em Basquetebol 1975
“A história dessa geração!”
Contada pelo saudoso Carlos Sousa “Sousita”
1975… já lá vão muitos anos!
Despontava nessa altura, a última geração do basquetebol do Ferroviário de L. Marques (Maputo). Considerado o mais eclético dos clubes de Moçambique para alem da “bola ao cesto” praticava-se o futebol, hóquei em patins, natação, ciclismo, ginástica, halterofilia, ballet, xadrez e etc.
Eles treinavam e jogavam num velhinho campo de cimento ao ar livre, com capacidade para 800 pessoas, nas horas de maior calor até fazia bolhas nos pés…, quando chovia, o campo era limpo com a ajuda dos atletas. Deixar de treinar, era que não!!! As tabelas eram de madeira (que ressaltos lindos que elas davam!), mais tarde chegaram as de fibra, tão ou mais rijas que as anteriores…
Os candidatos a “craques” eram bastantes. Tinham muita vontade. Eram valentes. Até que uma “Força” catalizadora entretanto apareceu; Mário Machado, um jovem oriundo da então Metrópole, onde jogou pelo F. C. Porto, Benfica, um internacional “A”, verdadeiro senhor do basquetebol, rigoroso, trabalhador, tecnicista de invulgar capacidade. Completo! Ele foi o grande impulsionador do basquete no Clube, tendo provocado uma autêntica revolução nos conceitos técnico/tácticos da época.
Mário Machado cedo se apercebeu que estava no sítio certo, no tempo certo, com a Família certa.
Estava formado o … “Código Da Vinci”.
Mário Machado soube observar, interiorizar a nossa FORÇA. Escolheu os certos. Treinou-os até à exaustão, embora sempre condicionado à vida dos que eram estudantes, trabalhadores ou na vida militar.
O seu trabalho viria a dar os seus frutos, logo a curto prazo com a conquista de diversos títulos distritais e provinciais nos escalões de formação. A médio prazo no escalão sénior, quando se conseguiram reunir na mesma época todos os atletas oriundos dessa formação (até então a vida militar não tinha permitido).
Mário Machado, Samuel Carvalho, António Almeida, George Sing, Alberto Jorge, José Sepodes, “Casquinha” (*) os direitos de autor são meus!), Armindo Costa, Leonel Velasco, Kakoo, Valdemar Freitas, Roque Afonso (que me desculpem os de que não me recordo) foram nomes que ficaram registados na história do clube e no basquete moçambicano…
Havia um verdadeiro espírito de “FAMÍLIA”; solidária, unida e coesa. Tudo se tornava mais fácil e não havia obstáculos que não transpuséssemos.
Exemplo do que digo? Lembro-me que em determinada altura , surgiu um convite do ACP (Associação Cultural de Portugal) de Johanesburg,
uma agremiação de portugueses, para lá fazermos dois jogos. Era o tempo do rigoroso “apartheid” na África do Sul. Tínhamos na equipa alguns jogadores de cor… Armindo Costa, Kakoo, George Sing etc. Como responsável pela equipa aceitei o convite com uma “pequenina”… condição; não abdicava que viajássemos juntos e que juntos ficássemos hospedados no mesmo hotel. Isto era impensável naquele tempo! Um atentado ao “apartheid”! Claro que era! Mas não abdiquei. Ou todos juntos ou… não haveria Ferroviário para ninguém! Depois de várias reuniões com o Cônsul sul africano em L. Marques (1º andar do prédio Hilman), acabaram por ceder. Viajámos juntos, juntos ficámos no mesmo hotel e fizemos dois jogos. Era esta a nossa FORÇA! Era o nosso Pacto Sagrado “Amizade, Solidariedade, Respeito e Verticalidade”.
Entretanto passaram-se dois anos e na época de 72/73 ameaçamos o primeiro lugar… vice-campeões distrital e provincial, melhor resultado dos últimos anos! Até que chega a época de 74/75 o Ferroviário consegue reunir pela primeira vez todo o plantel (a tropa tinha terminado) e então a conquista dos tão famigerados títulos: Campeão Provincial do Maputo e Campeão de Moçambique.
Época 1974/75 – Seniores
• Campeão Provincial Maputo • Campeão de Moçambique
Em cima: George Sing, Armindo Costa, Samuel Carvalho, Jorge Gassin, Kakoobhai Odabai.
Em baixo: José Costa “Casquinha”, António Almeida, António Roque Afonso, Mário Machado (Capitão), Jorge Cunha.
(Lembram-se de uns calções aos “gomos” verdes e brancos?) A ideia foi do Mário Machado. Inovadora, só tinha que aceitá-la. Nessa época a fase final do Campeonato de Moçambique realizou-se na cidade da Beira contra o Sporting local, tendo nós vencidos os dois jogos por margem confortável, alcançando assim o título de Campeões de Moçambique. O Armindo Costa sofreu traumatismo craniano involuntariamente provocado pelo cotovelo do George Sing (meteu-lhe a testa para dentro, nunca se tinha visto nada assim…). Por pena nossa, não foi considerado titulo Nacional em virtude de ter sido conquistado umas semanas antes da independência de Moçambique. Na época seguinte decorria o ano de 1975 e, para que não restassem duvidas o Ferroviário volta a ser Campeão Provincial do Maputo
Época 1975 – Séniores
• Campeão Provincial Maputo
Em cima: Carlos Sousa (Dirigente), Jorge Gassin, Samuel Carvalho, Armindo Costa, George Sing, Adam Ribeiro (Treinador).
Em baixo: Higino Santos, Jorge Cunha, Mário Machado, António Almeida, José Costa “Casquinha”.
e é um dos apurados para a Fase Final do Nacional, que se disputaria em Maputo no grandioso pavilhão do Sporting (Machaquene), a duas voltas com a participação do Ferroviário, Sporting, Desportivo e Sporting da Beira. As três equipas do Maputo estavam em igualdade pontual no final da primeira volta. Na primeira jornada da segunda volta o Ferroviário leva de vencida o Sporting (90-82), na jornada seguinte o mesmo clube vence o Desportivo por (88-70) ficando assim a um passo do titulo máximo… na derradeira jornada e como era esperado o Ferroviário derrota o Sporting da Beira por margem dilatada, conquistando assim o 1º CAMPEONATO NACIONAL DA REPUBLICA DE MOÇAMBIQUE!!! (**)
Época 1975 – Séniores
• Campeão Provincial Maputo • 1º Campeão Nacional República Moçambique
Em cima: José A. Conceição (Seccionista), George Sing, Armindo Costa, Alberto Correia Mendes, Samuel Carvalho, António Azevedo (Treinador).
Em baixo: António Almeida, Mário Machado (Capitão), Jorge Cunha, Jorge Gassin, António Higino Santos, José Costa “Casquinha”.
Foram momentos inesquecíveis que ficarão eternamente guardados nas nossas memórias e na história do Basquetebol Moçambicano!
(*) Há alcunhas que ficam para toda a vida.
Todos o conhecem por…”CASQUINHA”. Ele não é nem mais, nem menos, que o Sr. Eng.º José Domingues da Costa. Há mais de 40 anos, tive o privilégio de ser seu treinador. Reparei numa particularidade especial que ele tinha: Quando “suspendia” para efectuar o lançamento, demorava mais tempo a “aterrar” do que o seu directo opositor, o que lhe permitia desferir com êxito, sem mancha, o golpe certeiro e mortífero. Parecia uma autêntica “CASQUINHA” a flutuar no espaço. Comecei a chamar-lhe…”CASQUINHA” e assim ficou para sempre. Portanto os direitos de autor….são meus!
(**) Apesar de alguns atletas terem saído de Moçambique, recorda-se que no ano desta conquista, no Desportivo alinhavam: (Manuel Lima, Paulo Carvalho, Nuno Narcy, Armando Lôbo, José Jóia, João Vicente “Pinduca”…) e no Sporting para além dos habituais: (Nelson Serra, Luís Almeida, Luís Dionísio, Belmiro Simango, Tam Ling, Hélder Silva… reforçou-se ainda com o Eustácio Dias e João Donato)!
4 Comentários
Joaquim Cardoso Duarte.
Gostava de saber o que é feito do Armindo Costa? Alguém me pode ajudar. agradecia.O meu nome é Joaquim Cardoso Duarte e andamos na escola Mouzinho de Albuquerque.
António Faria Lopes
O Armindo Costa vive em Miratejo, na margem sul de Lisboa.
Admin
Já lhe foi enviado por email o contacto solicitado. Sempre ao dispor.
BigSlam
Dave Adkins
Me lembro Ferravia como uma equipe e clube formidável nos anos de 71-74 con Riberio, o treinador competente e dedicado; Mario M., o capitão, da boa forma na ‘salta e lanza’; Sing el pivot efectivo; Costa, a maquina de defesa e Samuel C., a atleta (nunca vi a sua barba durante o meu tempo em LM). Voces recordam Eric Bundgaard, o yanqui de Mahangalene? – Eric era um bom jogador, mais Costa jogou quasi perfecta defesa durante un jogo contra Eric – muito impressionante do punto de vista da forma técnica de defesa, como uma clínica. . Parabens, Ferraviario. .