KILAMBA
Joaquina faz todos os dias o seu trajecto matinal de muitos quilómetros entre o local onde vive e o local onde vende. Ás 4 da matina faz-se transportar num “candongueiro”, que traduzido para a linguagem moçambicana significa “chapa 100”, ou se quiserem … transporte semi-colectivo de passageiros.
Vive em Viana, um dos bairros de Luanda. Um município que foi fundado em 1963, em pleno período colonial e que dista 18 quilómetros da capital angolana. Vive numa casa mal amanhada, de 1 quarto e uma sala de visitas. Vive com os seus dois filhos de tenra idade. Uma casa com chapa de zinco a fazer de tecto que torra e de que maneira, no tempo do calôr. Este calôr por vezes insuportável que faz oscilar a nossa tensão arterial, a cada minuto que passa.
A Joaquina que conheci nas minhas deambulações por algumas avenidas e ruas de Luanda sobrevive, vendendo “pão com ovo”. São 100 kwanzas (a moeda angolana) por cada metade de pão. Traduzido para a nossa moeda, os cem kwanzas 1 dólar norte americano, ou seja … 30 meticais.
Fregueses, num dos bairros mais emblemáticos da cidade, onde ela vende, (bairro de Alvalade – na rua Comandante Gika) é coisa que não falta. Por ela passa todos os dias o polícia, o funcionário público, o empresário artilhado no seu bólide topo de gama, o pedinte, o estudante. Neste seu “local de trabalho” Joaquina vai amealhando o dinheiro que permite pagar as suas contas. Dinheiro para alimentar as suas crianças, comprar roupa e material escolar para elas, e guardar alguns trocados no “banco” improvisado feito de lata de azeite de oliveira. É para lá que vão as suas poupanças. Em média, por dia, consegue amealhar dez mil kwanzas, o equivalente a 3.000 meticais. Contas feitas e ao fim do mês (ela não vende aos sábados e domingos, “porque esses são dias reservados para os meus filhos”) consegue encaixar 60 mil meticais. Pouco ou quase nada, se considerarmos o nível de vida dos angolanos, num país onde, segundo um político local da oposição, “não há classe média nem coisa que se pareça”. Em Angola há os ricos, os muito ricos, e os pobres, os muito pobres.
Joaquina quer amealhar o máximo possível porque quer dar aos seus filhos (daqui a uns anitos) uma melhor qualidade de vida. Sonha em comprar uma flat num dos imóveis do Kilamba, (os preços variam entre 100 a 150 mil dólares) a nova cidade localizada a 20 quilómetros de Luanda projectada para têr 82 mil apartamentos, numa área de 54 quilómetros quadrados, visitada por Filipe Nyussi antes do início da campanha eleitoral.
Sabe que não vai ser fácil. Vai ter que trabalhar muito. Poupar muito, para conseguir transformar esse sonho em realidade. Mas mesmo assim não deixa de pensar num facto que a atormenta. O que era para ser um empreendimento com casas de baixo custo, virou negócio chorudo para muitos. Kilamba, construído pelos chineses, que estão a receber o contra-valôr em petróleo, é, segundo um jornalista angolano “uma cidade onde há mais prédios do que gente”.
João de Sousa – 12.11.2014