O NOVO DIA!
Amanhã será um novo dia. Para marcar pela positiva o início de 2015 gostaria que palavras como ódio, rancor, maledicência, boato, roubo, fraude, calúnia ou rapto deixassem de fazer parte do nosso dia a dia. Eu bem queria. Mas para mal dos meus pecados não vai ser possível, porque afinal as coisas não são tão lineares assim.
Gostaria de abolir o “refresco”, mas isso poderia representar a falência de algumas multinacionais do “soft drink”. Gostaria de ter gente que nos governa com base no “vou fazer”. O pior é quando o que vou fazer não se faz e depois arranjam-se desculpas das mais esfarrapadas para justificar porque é que não se fez. As calamidades, os desastres naturais, enfim!
Adorava, neste meu (nosso) novo dia, ter à minha volta gente que promete e cumpre, e não os que prometem e comprometem. Gostaria de ver pessoas sem duas caras, que mudam de cor como o camaleão, que a toda a hora e momento dão o dito por não dito. Que passam a vida a fazer o “flic-flac”.
Gostaria de poder acordar amanhã e ver concretizado o meu sonho de muitos anos, de têr um governo de gestão em minha casa, onde eu, a minha esposa, os meus filhos e netos, e todos os demais que por ali pululam, provocando altos e baixos no já parco orçamento familiar, pudéssemos decidir na base de consensos, de ideias salutares, para benefício de todos os que habitam naquelas minhas quatro paredes.
Mas a minha mulher opõe-se. Quer saber o que é isso de gestão. E mais: como é que eu vou fazer? Diz ela que gestão duma casa é coisa de mulher. Papel do homem na gestão é financiar e mais nada. Este tem sido o pomo da nossa discórdia de há uns tempos a esta parte. Eu insisto e ela diz que não. E porque “contra factos não há argumentos”, acabei por desistir. Prometi que não falaria mais no assunto, exactamente porque quero manter um ambiente saudável e de perfeito entendimento e harmonia no meu lar. Mas não sei porque carga de água, às vezes descarrilo, dou o dito por não dito e volto a bater na mesma tecla. Acho que isto já é influência do meu vizinho Zeferino, do primeiro andar esquerdo, que anda com essas ideias na cabeça e está a tentar influenciar o grupo de “machos” do nosso quarteirão.
Gostaria de poder acordar amanhã e não ouvir falar em fraude. Seja ela de que natureza e tamanho for. Mas não vai ser possível, porque, como me confidenciou um amigo próximo “fraude é cultura” e quem não comete uma fraudezinha aqui e acolá é um verdadeiro “banana”.
Neste novo dia que amanhã começa, quero vêr o meu neto a falar e a escrever correctamente a sua língua oficial, porque de “enconomia”, “Joanquim”, “o aguardante”, “colego”, “cem por centos”, “anssim” e outras palavras do género, já me cansei. Mas para isso acho que devo potenciar os que têm a nobre missão de ensinar, com algumas ferramentas, como por exemplo, uma boa gramática e um bom dicionário. Infelizmente, em muitos casos, os que ensinam não sabem. Não sabem por exemplo quem foi Luís Vaz de Camões, e quando se pergunta o que são os “Lusíadas” aparecem com respostas como esta: “acho que é uma província de Portugal”. Não sabem isso como se calhar também não sabem quem escreveu “Nós matámos o Cão Tinhoso” ou não fazem a mínima ideia de que Mocímboa da Praia é um distrito da província de Cabo Delgado. Provavelmente saberão o que é “3/100”, “Tentação” e outras coisas do género.
Gostaria de poder ouvir na nossa rádio pública, amanhã logo pela manhã, o “Apesar de Você” do Chico Buarque, ou “A new day has come” da Celine Dion, porque afinal são canções que falam dum novo dia.
Neste novo dia gostaria de ter a certeza que “dumba nengue” e o desemprego, fonte por excelência de alimentação deste fenómeno social e económico que lhe serve de almofada atenuadora ou paliativa, acabou. Que o lixo já não é problema nem dor de cabeça para os munícipes e em especial para os Simangos (de Maputo ou da Beira), que “candonga” é apenas letra de música do Chico António, que “chapa” ou “my love” é história do passado,
que os buracos nas ruas nada mais eram (são) do que a extensão dos “buracos cósmicos” (agora viraram crateras)
retratados maravilhosamente pelo Leite de Vasconcelos e pelo Vítor Raposo, num “sketch” ao tempo do “Volta a Moçambique” na nossa TVM.
Que o tráfego Matola/Maputo e vice-versa flui sem congestionamentos e sem provocar filas indesejáveis e intermináveis na Portagem.
Que os camiões que circulam em direcção ao Porto de Maputo deixaram de fazer esse trajecto porque toda a mercadoria que vem da terra do “rand” passou a ser escoada por comboio. Que já não desaparecem recém-nascidos nos nossos hospitais ou que os crimes passionais são coisa do outro tempo. Que a violência doméstica não existe, que os casamentos prematuros acabaram, que a violação e tráfico de menores também. Que os nossos “mambas” vão aparecer com uma nova postura e atitude,
e que nós, os condutores das milhares de viaturas que super-povoam as nossas cidades, (“chapeiros” e condutores dos “my love” incluídos) já somos mais civilizados e cavalheiros, ao ponto de cumprirmos com o Código de Trânsito e de Ética na estrada.
Vale a pena sonhar. Porque sonhar (tal como o riso), por enquanto, não paga imposto.
João de Sousa – 31.12.2014
Um Comentário
Wanda Serra
VIVER O INSTANTE QUE PASSA
SERA UMA BOA SOLUCAO!!!!!! ,DIA A DIA ……..
VOTOS DE MTA PAZ SAUDE E AMOR
Wanda Serra