O NÚMERO NÃO EXISTE
Estolano há muito que tem tentado falar comigo e não consegue. Chegou mesmo a pensar que a nossa amizade, forjada nos tempos de escola, lá para os lados da Malhangalene, tivesse acabado.
Ele sabe que eu tenho apenas duas formas de contacto. Pelo telefone celular ou pelo correio electrónico.
Estolano é avesso a estas coisas das “novas tecnologias”. Email, nem pensar? O celular, vá que não vá. Com o telemóvel consegue realizar funções básicas. Telefonar e mandar mensagens. Para ele “whatsapp” ou “viber” é um bicho de sete cabeças.
Mas Estolano tem uma terceira forma de me contactar: vir a minha casa. Não veio. “Eh pá o meu carrito anda com problemas”.
Decidiu fazer uma espera na Rádio Moçambique, sem certeza absoluta de que eu, no dia em que ele estava plantado à porta, poderia aparecer, porque afinal (e ele sabe melhor do que eu) “reformado não tem compromisso com ninguém”. Tem compromisso com ele mesmo.
Acontece que no tal dia em que Estolano me procurou na RM eu (acidentalmente) estava lá. Assim que me viu começou a desbobinar toda uma longa história de procura que fez, sem resultado. Telefonava-me e eu não atendia.
“Mas como Estolano, eu tenho o meu celular sempre ligado e bem perto de mim?” .
Estolano ligava e do outro lado da linha ouvia uma voz a dizer “este número não existe”. Não quis acreditar no que estava a ouvir. Ele sabia que eu não sou pessoa de mudar de número do pé para a mão, como muitas pessoas fazem, alegadamente porque “esta operadora é melhor do que aquela”.
Estolano insistiu. E do outro lado da linha voltou a ouvir uma outra resposta: “o número está incompleto”.
Estas são histórias do quotidiano do nosso sistema de (tele) comunicações. Dizem-me que são problemas técnicos, que, aparentemente, e pelo andar da carruagem, vieram para ficar. Que acontecem todos os dias, que subsistem há meses e sobre os quais, ninguém vem a terreiro dar uma explicação plausível dos porquês deste tipo de coisas que só esfrangalha a nossa mioleira.
Bastas vezes fazemos papel de parvo ou de descompensados mentais, nova forma eufemística de a OMS designar os que padecem da doença de loucura. Damos connosco a falar sozinhos ao celular. E do outro lado da linha, o nosso interlocutor replica, “então pá, desligaste o telefone”?
Será que são problemas que derivam de “falência técnica” de uma das nossas operadoras de bandeira? Ou será uma greve silenciosa? Quem sabe!
Já é altura de começarmos a ser ressarcidos pelos maus serviços que determinadas instituições prestam ao público consumidor.
PS: agora o cidadão tem 90 dias para efectuar o registo do seu telemóvel. Se não fizer isso nos próximos 3 meses, sujeita-se a ver o seu celular bloqueado. Parece história de novela, que prometo contar para a semana.
João de Sousa – 07.10.2015