O PARQUE DOS CONTINUADORES
Em tempo que já lá vai aquilo que se designa de “Parque dos Continuadores”, foi Parque José Cabral, em homenagem ao antigo Governador Geral de Moçambique que andou por aqui entre 1926 e 1938. Ele foi criado com um objectivo: realizar competições desportivas ligadas ao atletismo. Simultâneamente ali se leccionavam as aulas práticas para instrutores de Educação Física e Desportos.
Foi ali que vimos exibir a sua classe atletas como Daniel Firmino, Fausto Archer, António Repinga, José Magalhães, Stélio Craveirinha, Ludovina Oliveira, Binta Jambane, Abdul Ismail, José Muianga, Constantino Reis, Helena Relvas, Cajica Bernardo, Victor Pinho e tantos outros.
Veio a Independência e como era preciso mudar tudo e mais alguma coisa, mudou-se o nome do Parque. Passou a ser “Parque dos Continuadores”.
Mudou-se o nome mas os objectivos iniciais mantiveram-se. Que eu saiba em momento algum se disse que aquele poderia ser local para a prática de outras coisas que não desporto. Mas o tempo e os “apetites” ($$$) mudaram a lógica do meu raciocínio.
Já lá temos um Banco. E uma florista. Já por lá acontece a feira de culinária e artesanato.
E os espectáculos também.
E ao que me consta, de atletismo pouco ou nada acontece. Pudera, com aquela sarnosa pista de tartan quem se atreve a meter lá os “spikes”. Os Continuadores, essas “flores que nunca murcham” para fazer jus ao nome do Parque, em nada beneficiam daquela estrutura.
“Beneficiam” em momentos esporádicos, quando se trata de organizar espectáculos para eles. E que espectáculos? E que artistas? E que músicas? E que conceito na organização de festas para a nossa criançada? Conceito do lucro? Niheketani Barraqueni? Liloca e as suas locubrações artísticas de quem dá um mau exemplo e depois (arrependida) pede publicamente desculpas? O arrependimento veio depois porque a artista, com os seus laivos de contorcionista não quer, e ainda bem que assim é, que os seus passos invadam a mente da sua própria filha.
A propósito desta questão li um comentário de Mablinga Shikhani que, com a devida vénia e permissão do seu autor, transcrevo:
“Bem vistas as coisas a música moçambicana e grande parte dos músicos são inadequados para crianças e pessoas com o mínimo de senso, de educação e que se prezem. Da coreografia ao vazio das letras e pequenez de conteúdo, o repertório é do mais baixo conteúdo. Refrões repetitivos evocam o errado e fazem apologia do erro que se transforma, pela repetição, a regra. De imediato os seus mentores, praticantes e aficcionados assumem papel de destaque numa sociedade à deriva. Nesta perspectiva a culpa é geral: desde os que patrocinam e divulgam a quem aplaude e escuta”.
Não é isso que as nossas crianças querem. Querem balões, pipocas, palhaços, histórias, brincadeiras. Querem reviver personagens que estão certamente na memória dos seus pais, e que precisam de ser passadas para a criança, tais como o titio Turutão, o Fernando Luís, o titio Yana ou Didinho Caetano.
Como dizia um produtor de música infanto-juvenil: “a ideia de misturar Pula Pula com mensagens de “maquadradinho” e algodão doce com danças de “massinguitana” só pode vir de mentes perversas”.
Afinal para que (e a quem) serve o Parque dos Continuadores? Querem transformar numa unidade multi-usos? Querem “vender” a entidades privadas e daí retirar o lucro necessário? O que querem fazer com aquele complexo desportivo? Haja coragem de dizer publicamente o que se pretende. O Ministro da Juventude e Desportos diz uma coisa e os privados fazem outra. O Governo tem de clarificar esta questão, porque senão andaremos todos a atirar (desnecessariamente) pedras, uns aos outros. Mas por favor, não estraguem mais o que já está estragado.
Se continuarmos assim, neste mar de indefinições, sinceramente, estamos “perdidamente perdidos”, como dizia um internauta.
João de Sousa – 10.06.2015