Ó Sr. Prof. Dr. Eng.!
“…Em Portugal, há muitos títulos… e muitas e muitas pessoas que os usam.
Há tantos doutores que não há nada de especial em ser doutor. Doutores de medicina SÃO especiais, e estarei sempre disposta a chamar-lhes o que quiserem, sempre que a minha vida estiver nas suas mãos.
Se o leitor é arquitecto, irrita-se se o pedreiro não lhe chamar Sr. Arquitecto em sinal de respeito, mesmo sabendo que pelas suas costas ele lhe chama idiota? E o leitor chama-lhe o quê a ele? Sr. Pedreiro? Não, chama-lhe o Zé (ou talvez “Sôr” Zé). Se você é engenheiro, sente-se respeitado porque uma pessoa utiliza o seu título correcto, mesmo que eles se riam da sua insistência em ser chamado Sr. Engenheiro?
É tudo porque quer ser respeitado publicamente, não é? Mais: quer ser considerado melhor do que os outros e tratado melhor do que os outros, só porque tem uma licenciatura ou mestrado desta ou daquela espécie?
Clamar por respeito é pouco digno e absurdo, porque o respeito devia-se ganhar (para além de ser simplesmente merecido quando se é um ser humano decente) através do que uma pessoa realmente faz bem. Não? Parece que há pessoas que consideram os títulos académicos mais importantes do que o trabalho, do que curar, do que construir, do que ensinar, do que desenhar, do que a coisa que realmente nos define e justifica o respeito dos outros — o trabalho duro e honesto.
Aos meus olhos estrangeiros e patetas, todos estes títulos revelam falta de auto-estima. Quase ninguém parece capaz de quebrar a tradição, e de dizer
por amor de deus, chame-me Zé, não Sr. Dr. Prof. Eng.”. E assim, o sistema dos títulos excessivos continua, de tal modo que dá ideia de que o respeito público depende de um mero título universitário. É uma grande pena, porque Portugal realmente tem muitas, mas muitas pessoas que merecem respeito e justificam orgulho, sem precisarem de ser doutores”.
Fonte: Observador.pt