O VERBO
“No princípio era o verbo”. Está claro que não dissertarei sobre esta querela do “Verbo se era Deus” ou do “Verbo se era Divino”, constante do primeiro capítulo do Evangelho de São João (João 1:1) citado por alguns teólogos como sendo o causador da confusão que provocou a primeira divergência no seio dos cristãos.
Vou falar sim do “verbo”, peça importante da gramática, porque agora que estou entrado na vetusta idade dos sessenta e tais, ando armado em “professor” de português !!!
No tempo em que eu estudei, o Sr. Renato, meu professor da quarta classe, ensinou-me que o verbo é uma classe de palavras que se flexiona em pessoa, número, tempo, modo e voz. Nos meus tempos de instrução primária, aprendi também que o verbo pode indicar acção, (correr) estado, (ficar) fenómeno, (chover) ocorrência, (nascer) ou desejo, (querer).
Hoje se eu perguntar a um aluno da instrução primária, o que é o verbo, ele é capaz de dizer que é um bicho de sete cabeças.
Se eu perguntar como se constrói uma frase, alguns ficarão sem saber como é que isso se faz, porque infelizmente desconhecem que a frase é um conjunto de palavras organizadas que contém um sentido lógico e completo. Essas palavras organizam-se em torno de um verbo conjugado. Muitos não sabem que o sujeito, predicado e o complemento directo constituem o pilar de uma oração.
Estou a falar-vos hoje do verbo a propósito duma conversa que tive a semana passada com um amigo meu. Este chamou a minha atenção para um erro cometido por quem tem a responsabilidade de redigir, corrigir e emitir os comunicados da nossa Presidência da República. Tratou-se dum comunicado da nomeação do jornalista Arsénio Henriques, para o cargo de Adido de Imprensa de Filipe Nyusi.
Tive acesso a esse comunicado, que, transcrevo:
“Maputo, 11 de Fevereiro de 2015 – O Presidente da República, Filipe Jacinto Nyusi no uso das competências que lhe são conferidas pelo número 3 do artigo 6 do Estatuto Orgânico da Presidência da República, Arsénio Henriques Cossa para o cargo de Adido de Imprensa do Presidente da República”.
Se leram com atenção terão verificado certamente que nesse comunicado falta o VERBO. Como me disse o meu antigo colega e amigo Luís Loforte “parece coisa pequena, uma picuinhice, mas não é. Independentemente da importância do verbo, há que reconhecer que os documentos oficiais são um património histórico que perdurará para gerações e gerações. Nós não somos obrigados a deduzir o que as pessoas quererão dizer. Elas têm a obrigação, e o dever, de nos dizer correctamente”.
E este erro torna-se ainda mais grave porque o mesmo será repassado para o órgão difusor oficial das disposições normativas do nosso estado que é o Boletim da República.
Afinal não era por mera razão emblemática que o nosso maior poeta e purista da língua portuguesa José Craveirinha, era funcionário da Imprensa Nacional onde o BR é impresso e lá exercia, também, a função de revisão dos textos copiados pelos linotipistas antes da sua impressão nas rotativas.
Errar é humano. Mas para minimizar o efeito sempre desagradável dum erro, porque é que quem escreve não se dá ao trabalho de corrigir ou de mandar que o seu texto possa ser revisto por terceiros ?
É para isso afinal que existem os revisores.
João de Sousa – 04.03.2015