ODORICO PARAGUAÇU
Os leitores que já ultrapassaram a barreira dos quarenta anos de idade devem lembrar-se dum senhor chamado Odorico Paraguaçu, que todas as noites nos divertia com a sua obsessão em inaugurar o único cemitério existente na cidade de Sucupira. Era a principal promessa da sua campanha eleitoral para presidente do município daquela cidade fictícia do Brasil, já que, sempre que morria alguém na cidade, o corpo era levado para a cidade vizinha para ser enterrado.
Recordei-me desta história de ficção que muitos de nós “vivemos” lá para os anos 80, ao tempo da Televisão Experimental de Moçambique. E recordei-me da história porque neste País quase a completar 39 anos de existência como país independente, ainda, infelizmente, há muita gente que promete e não cumpre.
Na campanha eleitoral das autárquicas de Novembro do ano passado prometer foi a palavra de ordem.Não importa se os que prometem caem ou não no ridículo. O importante é prometer. Depois logo se verá. Fazem-nos passar por papalvos. Só que de parvo este povo não tem nada. Fomos engolindo promessas que aguçaram o nosso apetite de votante. Depois das autárquicas, e se soubermos dar o tempo ao tempo, vamos ter mais estradas, mais pontes, mais universidades, mais hospitais, bolsas de estudo para filhos de munícipes carentes e por aí fora. Vamos esperar para ver. Ver para crer como S. Tomé. E, por muito que nos custe, vamos ter de esperar 5 anos.
Não nos prometam nada que não seja possível de ser executado. Já é tempo de acabar com estas balelas eleitoralistas e encarar de frente esta nossa realidade. Prometam que a circulação automóvel nas nossas cidades vai melhorar. Que não vamos passar pelo sufoco de termos de ficar 2 horas numa fila no trajecto Maputo/Matola ou vice-versa. Que os camiões que circulam pela N4 em direcção ao Porto de Maputo não constituam entrave para quem quer chegar a horas ao seu local de trabalho. Que alguns dos condutores do nosso transporte semi-colectivo de passageiros (vulgo “chapa 100”) vão deixar de provocar o caos no trânsito ao ponto de se verificarem acidentes mortais. Que não vamos levar duas ou mais horas para nos deslocarmos de Marracuene para Maputo. Que as cartas de condução não sejam compradas em troca de um envelope fechado com uns bons meticais lá dentro e cujo destinatário é sempre o examinador. Que os comboios de passageiros sirvam para transportar pessoas e não fazer delas simples mercadoria. Que a avenida 10 de Novembro em Maputo vai deixar ser discoteca ambulante e local onde a devassidão impera.
Pelo andar da carruagem e com o aproximar do 15 de Outubro, vamos ter outras promessas. De mais emprego, de melhores condições de atendimento nos nossos centros de saúde e hospitais, de mais carteiras para os alunos, de mais comida para os pobres, de estradas sem buracos. Vamos ter que engolir alguns rebuçados através dos manifestos eleitorais, dos comícios populares de cada candidato, dos tempos de antena na rádio e na televisão ou de outras formas de caçar o voto.
Quando fizerem essas promessas todas, tenham em conta o que aconteceu ao Odorico Paraguaçu. O feitiço pode virar-se contra o feiticeiro.
PS: que tal se o Presidente do Conselho de Administração dos Caminhos de Ferro de Moçambique viajasse um dia destes num comboio de passageiros no trajecto Maputo/Machava e vice versa ? Acredito que ficaria com a radiografia completa do que se passa no interior de cada carruagem. Povo não é mercadoria. Povo é ser humano.
João de Sousa – 09.04.2014
Um Comentário
Fausto Italiano
Amigos,
aqui no Brasil o significado da palavra ‘meia’ pode ser complicado para um
estrangeiro . Pode ser um tecido de malha para se colocar nos pés ou , mesmo ,
representar o numeral 6 ou , ser interpretado como a metade de alguma coisa ……
Vejam o que ocorreu a um moçambicano de Maputo no Brasil :
Meia, Meia, Meia, Meia ou Meia?
*Na recepção dum salão de convenções, em Fortaleza*
– Por favor, gostaria de fazer minha inscrição para o Congresso.
– Pelo seu sotaque vejo que o senhor não é brasileiro. O senhor é de onde?
– Sou de Maputo, Moçambique.
– Tem uma palestra agora na sala meia oito.
– Desculpe, qual sala?
– Meia oito.
– Podes escrever?
– Não sabe o que é meia oito? Sessenta e oito, assim, veja: 68.
– Ah, entendi, *meia* é *seis*.
– Isso mesmo, meia é seis. Mas não vá embora, só mais uma informação: A organização do Congresso está cobrando uma pequena taxa para quem quiser ficar com o material: DVD, apostilas, etc., gostaria de encomendar?
– Quanto tenho que pagar?
– Dez reais. Mas estrangeiros e estudantes pagam *meia*.
– Hmmm! que bom. Ai está: *seis* reais.
– Não, o senhor paga meia. Só cinco, entende?
– Pago meia? Só cinco? *Meia* é *cinco*?
– Isso, meia é cinco.
– Tá bom, *meia* é *cinco*.
– Cuidado para não se atrasar, a palestra começa às nove e meia.
– Então já começou há quinze minutos, são nove e vinte.
– Não, ainda faltam dez minutos. Como falei, só começa às nove e meia.
– Pensei que fosse as 9:05, pois *meia* não é *cinco*? Você pode escrever aqui a hora que começa?
– Nove e meia, assim, veja: 9:30
– Ah, entendi, *meia* é *trinta*.
– Isso, mesmo, nove e trinta. Mais uma coisa senhor, tenho aqui um folder de um hotel que está fazendo um preço especial para os congressistas, o senhor já está hospedado?
– Sim, já estou na casa de um amigo.
– Em que bairro?
– No Trinta Bocas.
– Trinta bocas? Não existe esse bairro em Fortaleza, não seria no Seis Bocas?
– Isso mesmo, no bairro *Meia* Boca.
– Não é meia boca, é um bairro nobre.
– Então deve ser *cinco* bocas.
– Não, Seis Bocas, entende, Seis Bocas. Chamam assim porque há um encontro de seis ruas, por isso seis bocas. Entendeu?
– Acabou?
– Não. Senhor é proibido entrar no evento de sandálias. Coloque uma meia e um sapato…
O africano (moçambicano de Maputo ) pirou…