OS FACILITADORES
Estolano foi ao aeroporto receber a sua filha e neto que vivem em Lisboa. Não os vê a um par de anos. Conheceu o neto pela Internet. O Skype permitiu encurtar a separação física. Semanalmente matava saudades. Fazia promessas. Enchia o netinho das mais variadas guloseimas, todas elas enviadas pelo correio virtual. Era (e ainda continua a ser) um avô babado. Foi por intermédio dessa ferramenta de comunicação que soube da vinda destes seus familiares a Maputo.
“Pai, juntei uns trocados e aí vou eu com o seu netinho, para matar saudades da nossa terra. O Amílcar não pode ir agora. Só tem férias lá para Novembro”.
Estolano ia conhecer o neto pessoalmente. E para isso organizou-se.
No dia aprazado meteu-se no seu “fusca” (a cair aos bocados) e lá foi ele até ao Aeroporto acompanhado da sua Maria Eugénia, o seu braço direito, ou “a minha ministra sem pasta” como ele costuma dizer.
Quando através da amplificação sonora se anunciava a chegada do avião proveniente de Lisboa, solicitou a um dos agentes no sector de chegadas internacionais, autorização para entrar na sala. Queria ver o neto. Queria ser o primeiro a abraçar o pequerrucho.
Explicou tudo ao agente. Que não via a filha há bastante tempo. Que não conhecia o neto pessoalmente. Do agente obteve, como era de esperar, um redondo “não”.
“Aqui só entram pessoas devidamente credenciadas” – sentenciou o funcionário.
Que fazer? Normas são normas. Há que cumprir. Ficou no seu cantinho à espera.
Enquanto esperava viu outras pessoas que entravam e saiam da sala de chegadas internacionais sem dar cavaco ao funcionário. Pessoas que nem sequer eram portadores de qualquer tipo de identificação.
Estolano apercebeu-se que eram “facilitadores”. Os tais que ali estão para, a troco de alguns trocados, fazerem o desembaraço da bagagem num abrir e fechar de olhos.
“Está a ver aquele gordinho ali? Não olha para ele. Ele é que vai facilitar a nossa passagem sem que a sua mala seja revistada. Venha ao meu lado, não vai haver problemas”.
Esta a cantilena habitual do “facilitador”. E não é nem um nem dois. São muitos. O “ataque” ao passageiro é feito logo depois do movimento migratório e vezes sem conta acaba na porta do táxi. Todos eles coniventes com alguns dos funcionários que prestam serviço naquela área do aeroporto e com quem dividem os ganhos do dia. No tempo da outra senhora estes “facilitadores” tinham um nome: Cunha. Agora são os Franciscos, os Antónios, os Joaquins, etc.
Verdade seja dita: este negócio deve ser rentável. Estolano não sabe quanto é que estes “facilitadores” cobram. Sabe apenas que, se por qualquer motivo o voo chega a “horas impróprias” a taxa de prestação de serviços duplica.
E ninguém, lamenta Estolano, põe cobro a isso.
Já lá vai o tempo em que o nosso aeroporto era “zona libertada da humanidade”.
João de Sousa – 22.07.2015