OS NOVOS ESCRIBAS
Hoje muita gente escreve. As plataformas de comunicação e informação permitem que qualquer um digite, expresse o seu sentimento, conteste, elogie. Há os que escrevem na net ou nos seus próprios telemóveis, sem respeitar a normas correctas da escrita. Optam pelo “encurtamento de rota” ou pelo atalho gramatical. É a globalização. Por via disso a palavra “acho”, passa a ser “axo”, o “não” é representado apenas pela letra n, e o “que” escreve-se “q”. Resumindo: a frase “acho que não” nos dias de hoje e utilizando o tal “shortcut” de palavras, passa a ficar assim: “axo q n”. Exemplos destes há por aí aos milhares. Em português, em inglês (I love u), em francês, (ui je sé) ou em qualquer outro idioma.
A propósito deste tipo de escrita que normalmente os mais jovens (e até alguns adultos) usam na conversação sms, um professor meu amigo contou-me a história dum aluno que, no exame de português da décima classe, numa das escolas secundárias do nosso País, respondeu a uma pergunta, escrevendo como se estivesse a digitar uma mensagem no seu telemóvel. O professor disse-me que não era a primeira vez que isso tinha acontecido. Num dos testes de final de período, ele fez a mesma coisa. Foi repreendido. Os pais foram informados do caso, mas não serviu de nada.
A propósito de escrever bem, recordo-me de ter sido indigitado pelo Conselho de Administração da Rádio Moçambique, na pessoa do Manuel Veterano, para fazer parte do júri dum concurso de redactores. Se a memória não me falha foi em 2005, um ano antes de eu viajar para a África do Sul, para ali exercer a minha função de Correspondente da RM. Numa das provas de português, o candidato respondeu a uma pergunta afirmando categoricamente que o plural de “fim de semana” é “fins de semanas”. Quando questionei o candidato sobre o erro que cometera ele acrescentou: “eu ouvi isso num anúncio da rádio”. E fez questão de me confirmar que tinha sido num anúncio transmitido pela Rádio Moçambique.
Sobre escribas ainda: há os que escrevem para jornais e revistas, para rádios e televisões. Alguns ostentam o “Dr.” que serve apenas “para inglêr ver” porque afinal em matéria de escrever correctamente a língua portuguesa (a nossa língua oficial) é um desastre. Já vi alguns desses cronistas escreverem frases como esta: “não sei se você sabes que o António já não mora no Alto Maé”. A conjugação verbal de modo imperativo e não só, anda pelas ruas da amargura.
A propósito destes atropelos gramaticais, com os quais nos confrontamos todos os dias, quando lemos um jornal ou uma revista, ou até quando ouvimos rádio e vemos televisão, um colega meu, jornalista tarimbado do tempo da “outra senhora” que já trabalhou na prestigiada revista “Tempo”, dizia-me que “estas desgraças ainda nos vão acompanhar por muito mais tempo”. Quem de direito parece nem se importar com o problema. Como me dizia uma amiga minha “estamos a comprometer o nosso futuro”.
Há dirigentes de partidos políticos e membros do governo que são escribas. Uns escrevem abertamente nas redes sociais. Dão a cara. Não se escondem nos pseudónimos. São criticados mas também sabem criticar. Rebatem. Opinam. Defendem a sua dama, com unhas e dentes se for preciso. Dá gosto ler algo gramaticalmente escrito como mandam as regras. Um dos casos que eu conheço é do Ministro dos Transportes e Comunicações, Gabriel Muthisse. Em momento algum li escritos seus que contrariassem o José Maria Relvas, nome desconhecido por muito boa gente, quando se fala de gramática e de língua portuguesa.
Gabriel Muthisse
Para além dos que escrevem (uns bem, outros menos bem e outros muito mal) há os que falam. Passam a vida a “botar faladura” em tudo quanto é Rádio ou Televisão. Esses, por vezes, quando abrem a boca “ou entra mosca ou sai asneira”.
Que saudades eu tenho do professor Moura Vitória e de tantos outros como ele, incansáveis batalhadores por uma língua escrita e falada correctamente. Algo que é raro nos dias de hoje.
João de Sousa – 07.01.2015
2 Comentários
Dave Adkins
Acho que diversas linguas usavam duas formas de falar e escrever – a gramática descritiva (a lingua usada todos os dias na rua, no mercado, no café – como no Scala ou no Continental de LM, etc. casual, informal) e a gramática prescritiva (de acordo com “o livro”, mais formal usada no serviço ou no negócio). Hoje em día, como escreve João Sousa, também se pode adicionar a forma da net. A idea é usar a forma correta no contexto apropriado. Na tradução de um idioma al outro, a gramática prescritiva traduz melhor que a descritiva ou a argot da net.
Por exemplo: forma descritiva – Who did Mario give the book to? (difícil traduzir), prescritiva – To whom did Mario give the book. . A quem Mario deu o livro.?
Wanda Serra
EM PLENO CONCORDO COM O JOAO SOUSA
ADORO O BOM PORTUGUES UMA LINGUA RICA E PODEROSA
MAS TENHO QUE DAR A MAO A’ PALMATORIA E NOS WHATSAAP REDUCO IMENSO .
NAO O GOSTO DE O FAZER MAS AUTOMATICAMENTE VAI ………E DEPOIS JA’ E’ TARDE …….
WANDA SERRA