PATRIOTISMO
Se por patriotismo eu aceitar candidatar-me à Presidência da Associação dos Economistas deste País, estou frito, porque de economia eu não entendo nada. De economia conheço apenas o básico que me permite, de quando em vez, escrever algumas coisinhas sobre o assunto ou ainda gerir os “deve” e “haver” da minha empreitada particular que nada mais é do que o meu “lar doce lar”.
Mas no nosso País há pessoas que teimosamente, por patriotismo fazem tudo e mais alguma coisa, mesmo sabendo que não têm capacidade alguma para desempenhar um determinado cargo.
Por patriotismo somos chamados a cumprir o dever de nos alistarmos no Serviço Militar Obrigatório. Por patriotismo fomos muitos de nós integrados na Geração 8 de Março.
Utilizar o patriotismo para chegarmos à Presidência da Federação Moçambicana de Futebol,
como ouvi um dos candidatos dizer, parece-me uma intenção completamente desenquadrada, fora de propósito e com alguns laivos de oportunismo de permeio.
Tudo aconteceu num debate promovido pela STV e moderado pelo jornalista Jeremias Langa. Desfilaram 3 dos 4 candidatos. Qual deles o mais desajeitado em matéria de propostas.
Ouvi palavras de ordem completamente desalinhadas da realidade. Foi um espectáculo de português refinado (valha-nos isso) onde cada um (Manuel Chang, Alberto Simango e Teodoro Waty) expôs as suas ideias. E que ideias?
Manuel Chang
Alberto Simango
Teodoro Waty
Uma de entre muitas: capacitar as selecções provinciais e fazer com que os Governadores Provinciais sejam os patronos. Outra: descobrir talentos. Uma terceira: fazer com que as Associações Provinciais acompanhem a actividade dos clubes.
É uma dor de alma ouvir um dos candidatos, que por sinal foi membro do governo de Guebuza, dizer que vai pedir ao novo elenco governativo apoio financeiro para o futebol. No tempo em que ele lidava com os dinheiros do Estado, o futebol foi sempre encostado à parede.
Como escreveu o meu amigo José Neves
que foi durante muitos anos Presidente da Direcção do Clube dos Desportos da Costa do Sol, “muitos dos candidatos não perceberam o cargo que vão ocupar”. Não sabem o que significa ser Presidente duma Federação.
Formação, alta competição, associações provinciais, clubes, dignificação dos jogadores que já não estão no activo, pesquisa de talentos, reforço da capacidade instalada na Academia Mário Coluna, que, de acordo com um dos candidatos, deverá estar desligada da FMF, enfim … tudo isto foi motivo para debate de quase duas horas.
Estes 3 candidatos que participaram neste debate promovido a semana passada pela STV esqueceram-se de alguns pormenores importantes. Quero destacar apenas dois:
– Quem faz formação de jogadores? É a Federação?
– Quem pesquisa talentos? É a Federação?
Estes candidatos já se esqueceram que as escolas de formação de jogadores (a ela está ligada a questão da pesquisa de talentos) que existiram no tempo anterior à independência do nosso país, eram fruto de esforço dos clubes.
Lembro-me das escolas do italiano Mário Romeu e do brasileiro Tubarão, no Desportivo. Em momento algum a Associação Provincial de Futebol, da época em que ainda éramos Província Ultramarina, meteu o nariz no assunto. Que o diga o saudoso Eduardo Paixão.
Depois de ouvir as intervenções dos candidatos neste debate promovido pela STV fiquei com a sensação que a linha orientadora do partido no poder estava bem presente. Se se confirmar a existência desta vertente, vai ser mau para o futebol.
Por patriotismo e pelo andar da carruagem ainda acabamos por ser Presidente dos Médicos, Pilotos de Aeronaves, Engenheiros, Canalizadores, Estofadores, Engraxadores (funciona uma no Bairro do Choupal), das Agências Funerárias, etc …
Senti que falta colocar “the right man on the right place”.
A ver vamos. Oxalá esteja enganado.
João de Sousa – 29.07.2015