QUE FESTA ?
Eu gostava que o processo de votação fosse uma festa. Com balões, bandeirinhas, camisetes coloridas, carros, bicicletas e motorizadas, com munícipes em passeata. Com cartazes e dísticos. Com música. Com alegria. Com um sorriso nos lábios e “um cravo na lapela”. Com as crianças olhando para um futuro mais risonho.
Mas não foi. E não foi, porque todo esse colorido foi substituído pelas balas e pelo gás lacrimogéneo. Espalhou-se o pânico. Aconteceram as detenções. Veio a morte, a dor e o sofrimento. E como se não bastasse vieram também as contestações aos resultados.
Perguntem aos familiares do músico zambeziano Jaime Paulo Camilo, conhecido nos meios artísticos por “Max Love”, abatido com um tiro na cabeça, se este é (ou foi) um momento de festa ? Perguntem aos familiares do menino Mito, a criança de 7 anos de idade, se para eles houve festa? Claro que não houve. Houve sim choro, raiva, lamento, desespero, indignação, revolta. A família insurgiu-se. E num video que circula pela internet deixou ficar a mensagem de indignação:
“Não matem o povo. Estão a matar o povo de qualquer maneira, desnecessariamente. Combatam o inimigo e não o povo. Nós os moçambicanos não somos considerados como donos de Moçambique. Somos escravizados. Este Governo não é o Governo que nós conhecemos em 1974. O que se está a fazer não é para o bem do País”.
A mensagem circula pelas redes sociais. Ultrapassou as nossas fronteiras. Foi lá para fora.
Não é disto que o País precisa. O País precisa de paz, tranquilidade, harmonia. Todos nós precisamos que as promessas da campanha eleitoral sejam cumpridas. É disso que precisamos, porque de conflitos está este país cheio.
Precisamos por exemplo de pensar em melhorar o sistema de transporte público das nossas cidades. A promessa foi feita nas últimas eleições e já nessa altura se dizia que “vamo-nos empenhar para que ao longo do nosso mandato o sistema de transporte de passageiros seja mais ordenado, mais eficiente e possa responder à crescente demanda por parte dos munícipes em geral e dos trabalhadores em particular”. O empenhamento no mandato que terminou foi de tal ordem que o sistema de transporte público em vez de melhorar entrou em colapso.
Precisamos de saber de uma vez por todas, como se disse em 2008, particularmente no que à cidade de Maputo diz respeito “que o passeio é para os peões e as estradas são para os carros e que doravante não vamos admitir que este espaço seja invadido pelos vendedores informais, que transformam o passeio em bancas e a estrada em local de venda. Temos de tomar medidas drásticas contra todos os que prevaricarem”. Não só não se tomaram medidas (drásticas ou não) como se deixou o jacaré crescer. Hoje é o que se vê.
A desordem total que contradiz o slogan: “Maputo cidade próspera, bela, limpa, segura e solidária”.
Não precisamos de tiros. Não precisamos de balas. Não precisamos de mortes. Não precisamos de gás lacrimogéneo. Precisamos de rosas, de cravos, de amor, paz, solidariedade, tranquilidade.
João de Sousa – 27.11.2013
Um Comentário
Carlos Hidalgo Pinto
Paz tranquilidade e harmonia, sim de acordo. Mas também de pão. São necessários investimentos, criação de emprego e fluxos migratórios que tragam pessoas com valor acrescentado. Para que haja um acréscimo de postos de trabalho. O meu avô combateu, ainda muito jovem, os alemães junto ao Rovuma e em particular, em Quionga. Falava também o swaíli. Ficou por lá, no sul do país e costumava salientar que as gentes eram pacíficas. Com paz e respeito pelo o outro, aquele que é diferente, é que se consegue ir em frente