“QUO VADIS” Mambas?
Ninguém gosta de perder. Nem a feijões. Mas por vezes perder faz parte do nosso dia a dia. Nem sempre os ganhos, as vitórias e os sucessos nos acompanham. É assim na vida, é assim no futebol. Foi assim com os “mambas” que há muito, por razões por demais conhecidas, deixaram de ser a serpente mais venenosa de África.
O facto das picadelas terem perdido o prazo de validade, a derrota por si só, não pode constituir motivo para o afastamento do timoneiro da nossa equipa nacional de futebol. Mas a nossa Federação, soberana que é nas suas decisões, assim decidiu. Mudar João Chissano e no seu lugar colocar outro não resolve o problema.
Antes do actual seleccionador nacional outros houveram que, por esta ou aquela razão, foram sendo retirados do comando dos “mambas”. O que se ganhou com isso? Nada, absolutamente nada.
Ao tempo em que eu era menino e moço, dava gosto, aos domingos de manhã, sair da minha pacata Malhangalene, tendo como destino um dos campos de futebol situados na baixa da cidade. Umas vezes ia para o Sporting, outras para o Desportivo ou então para o Ferroviário. Ia ver jogos do campeonato de juniores. Ia ver jogadores que, num futuro breve, seriam as estrelas da equipa principal dos seus respectivos clubes. Foi assim com aquele conjunto de craques que Moçambique teve e que ao tempo se espalhou pela Selecção dos Naturais ou pela Selecção Provincial de Moçambique. Hoje, nos nossos clubes, o escalão de juniores, em futebol, é coisa rara ou espécie extinta.
Nesse tempo as escolas de jogadores orientadas por exemplo por Mário Romeu e/ou Tubarão, eram referência.
Mário Romeu
Daí saiam jogadores que iam alimentar os juniores e posteriormente as equipas principais dos clubes. Essas escolas morreram de morte natural. E ninguém hoje, volvidos estes anos todos, consegue reavivar esses viveiros de jogadores.
No tempo em que eu era criança, os meninos do meu bairro, à falta duma bola da Facobol ou da Sociedade Ultramarina de Borracha, gostavam de jogar com a bola de trapos.
E na Malhangalene da minha meninice havia espaço para isso. Tal como havia no Chamanculo, na Mafalala, no S. José de Lhanguene ou no Xipamanine. Hoje o apetite é outro. Com o beneplácito de muito boa gente, os tais campos de terra batida, com dois bambus ou caniços a fazerem de baliza, foram transformados em espaço onde se erguem complexos habitacionais, centros comerciais, escritórios e outras coisas do género. Agora qualquer espaço é motivo para negócio. Outros tempos, ($$$) outros apetites.
Quando eu andava na João Belo (hoje 7 de Setembro) ou quando eu andava no Liceu Salazar (hoje Josina Machel), jogava futebol, basquetebol, andebol, praticava natação e atletismo. E depois lá vinha o Professor Isménio Tadeu ou o Prata Dias dizer para onde eu devia ser encaminhado. Era ali que se descobria a minha aptidão. No meu tempo de estudante havia competição inter-escolas.
Manuel Prata Dias cumprimenta os jogadores num torneio inter-escolas da Mocidade Portuguesa no Pavilhão da Malhangalene
Essa era a base de lançamento para a prática do desporto federado. Hoje, há os Jogos Escolares, recheados de manobras e falsificações, lamentavelmente com a conivência de professores e técnicos desportivos. Que é feito dos talentos (futebolistas e não só) descobertos nos Jogos Escolares? Militam em algum clube? Ou perderam-se por aí?
Como pretender resultados quando o triângulo bairro, escola e clube deixou de existir? Ou será que algum iluminado, desse conjunto de teóricos que abundam na nossa praça, e em especial nas instituições desportivas deste País, pretende fazer omeletes sem ovos?
João de Sousa – 17.06.2015