RM … a passagem do testemunho
As Jornadas de Radiodifusão que a Rádio Moçambique tem organizado e que se prolongam até ao dia 2 de Outubro do corrente ano, permitem retroceder no tempo e girar no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio. E desse tempo, trazer para os dias de hoje factos e histórias dum período áureo da radiodifusão, que remonta a 1974, altura em que se decide pela instalação duma Comissão Administrativa de Gestão e que tinha como missão criar as condições para fazer da rádio “um instrumento ao serviço do povo”, como se dizia na altura.
Era o tempo das grandes transformações, numa altura em que o “comando”pertenceu a Armando Panguene, que ficou no cargo apenas um mês, porque logo de seguida foi nomeado Governador de Nampula. Nem sequer teve tempo de “fazer o gosto ao dedo”. Ele próprio confessou no decurso das recentes jornadas de radiodifusão, que, quando nomeado pela Frelimo para dirigir a Rádio, ficou atónito a pensar “mas afinal que bicho é este” ?
Nestas jornadas de radiodifusão foram lembradas figuras e histórias. Figuras como as de Rafael Maguni, o primeiro director da Rádio Moçambique,
de Leite de Vasconcelos,
que o sucedeu ou ainda de Manuel Tomé e posteriormente Manuel Veterano e Ricardo Malate, estes dois já na função de Presidentes do Conselho de Administração.
Histórias que deram corpo a programas emblemáticos como “No coração da Noite” produzido por Izidine Faquirá e Luisa Menezes, “Sabadar”, realizado pelo Leite de Vasconcelos, José Manuel Peres e por mim, “Programa da Criança” conduzido pela titia Suzana Rita, o “Quadrante da Mulher”, que tinha no seu elenco Cídia Monteiro, Glória Muianga, Teresa Elvira e Fernanda Fernandes, ou ainda “Uma Data na História”, “Poesia e Contos de Todo o Mundo” ou “O Sentido das Palavras”, “Entre as Nove e as Dez” e de tantas outras realizações que hoje constituem memória duma Rádio que hoje, quase 40 anos volvidos, faz a transição geracional.
Para os mais novos fazedores de rádio da nossa estação pública, estes dois dias das Jornadas de Radiodifusão, constituíram fonte de aprendizagem, porque não só se falou dessas grandes realizações radiofónicas dum outro tempo, como se fizeram ouvir pequenos extractos desses programas que marcaram uma época da radiodifusão moçambicana.
Para os mais velhos, a maioria dos quais já na reforma, (alguns deles ainda colaboram com a RM) foi um momento salutar para reviver essas histórias e essas figuras.
Este encontro teve um significado particular porque naquele auditório, palco de tantas e tão dignificantes realizações radiofónicas, se fez a passagem do testemunho.
Agora é o tempo da nova geração. Que ela saiba levar o barco a bom porto.
Acredito piamente que Mecenas aparecerão para ajudarem a Rádio Moçambique a perenizar estas jornadas de radiodifusão em livro, vídeo e CD, para que constem da História de Moçambique, que as gerações vindouras precisam de conhecer.
João de Sousa – 09.09.2015