VIDAS PREENCHIDAS_VIDAS VIVIDAS_VIDAS ACABADAS
De horrenda a Morte, que o súbito relâmpago apregoa, atônita, convulsa, indulgente, mísera, …que vem, partindo!
_«Este parte, aquele parte, e todos se vão!», como no «Cantar de Emigração» de Adriano Correia de Oliveira, tão a propósito nos tempos que correm, todos nós partimos, perdendo ou ganhando, querendo ou não, sendo a verdade irrefutável da vida que é nascer para morrer, tendo como desiderato «como_quando_onde».
Todos nós já perdemos alguém na vida, por isto, por aquilo por nada, perdemos sem nos despedir, daqueles que se gostam, que se admiram, que conhecemos, que ouvimos falar, de perto ao de longe!
_Aquele, este, o outro, …, todos se vão, já morreram (a morte é inevitável):
- Nelson Mandela_1918-2013 (95 anos)_Qunu-África do Sul
(líder reconhecido, amado, universalmente venerado, bastião da liberdade, unidade e sacrifício, consagrado, Prémio Nobel da Paz em 1993, a ler sem falta o artigo de João Santos Costa, aqui no nosso “Ponto de Encontro” – BigSlam. Clique no link: http://bigslam.pt/destaques/morreu-o-prisioneiro-46664-por-joao-santos-costa/ );
- António Mourão_1935-2013 (78 anos)_Lisboa-Portugal
(do fado-canção, do teatro-revista, personalidade tímida e reservada, injustiçado após o 25 de Abril, tinha um vozeirão e era uma pessoa e artista extraordinário, segundo o guitarrista António Chaínho);
- Alfredo Paredes_1961-2013 (52 anos)_Barcelona-Espanha
(autor, compositor, músico, mentor e fundador do grupo «Mar e Fados», nasceu em Avanca-Estarreja, radicado com a família aos 4 anos em Buarcos-Figueira da Foz, onde vivia, distinto irmão de Artur Emanuel Paredes, quadro_CMFF, ex-futebolista A.NAVAL1ºMaio, e de António João Paredes, assistente social, Associação Goltz de Carvalho);
Das guitarradas com cantigas, do fado à política (à mais alta política, atrevo-me a dizer na celestial politica), do pequeno conhecido, local ou nacional, ao grande e universal, todos partem, de junto de nós, ao pé de nós, todos se vão, de África a Portugal, de Lisboa à Figueira da Foz, de longe ao perto, do contentamento descontente, a morte atinge quem vive, qualquer um, em qualquer lugar, a morte é inevitável!
Por estas 3 mortes realçadas, três lugares distintos, três homens com vida preenchida, temos então, 3 estórias para a história, local, nacional e universal, em que aparece um denominador comum aos 3 homens, a guitarra.
Guitarra toca baixinho, com ou sem fado, mas sempre num desfado dedilhado pela emoção, no cárcere entoando, «Oh Freedom» (o grande Madiba, dedilhou suavemente a guitarra, para que o guarda não ouvisse, o espiritual negro, acompanhado pela bela voz de barítono do MBEKI),
ou na radiotelefonia, na grafonola e na cassete-pirata, acompanhada pela voz d’oiro, num intemporal desígnio, «Oh Tempo Volta Prá Trás».
Como encantou, dizendo, cantando, José Afonso (sublime):
_«A morte saiu à rua num dia assim,
Naquele lugar sem nome pra qualquer fim,
Uma gota rubia sobre a calçada cai,
E um rio de sangue dum peito aberto sai!»
Enfim, distintos, virtuosos, criadores, todos se apagam, com mais ou menos legado, com mais ou menos intervenção, com mais ou menos capacidades, com mais ou menos glória, mas convém recordar, preservando, passando in memoriam, a magia das palavras, daquele que se transformou num ícone mundial pelo seu papel reconciliatório numa nação amargurada e transtornada por décadas de apartheid (excerto retirado do discurso na tomada de posse de Nelson Mandela, o grande Madiba, como primeiro presidente negro da África do Sul, proferido a 10 de Maio de 1994):
_«Que haja justiça para todos,
_Que haja paz para todos,
_Que haja trabalho, pão, água e sal para todos,
_Que cada um saiba que é livre de se realizar, em corpo, mente e alma;
_Nunca, nunca, nunca mais volte esta bela Terra, a viver a opressão do homem pelo homem, e a sofrer a indignidade de ser a escória do Mundo;
_Deixemos a Liberdade vencer!»
Mas voltemos à terra, à nossa santa terrinha, Figueira da Foz, linda e bonita, amada e querida, de finas e límpidas areias, berço de sereias, para reconhecer, enaltecer e valorizar em particular, o projecto musical de Alfredo Paredes e do seu grupo «Mar e Fados».
Aqui mesmo, ao pé de nós, numa rua da nossa cidade, amargurada por alguns pela dimensão do seu areal, da brisa carregada de iodo, da água salgada do Atlântico Norte, dos estonteantes ventos da Serra da Boa Viagem, da calmaria límpida na foz do rio Mondego, e do deslumbrante e imenso calçadão (calçada à portuguesa, pedra calcária 5/7_miúda) pedonal em frente marítima, acomodado pela intensa energia solar.
Caberá aos restantes elementos do grupo, arregaçar as mangas, dedilhar nas cordas e afinar a quente a voz, para reescrever a sua história, agora sem o seu fundador, mas engrandecendo o seu nome, por uma vida que não se acabou em si, preenchendo também as suas vidas, realizando!
_Ilustres companheiros do guitarrista, autor-compositor, músico, empreendedor pelos afectos, Alfredo Paredes, está nas vossas mãos o desafio maior da vida com vida, em vida, para além da morte, por um desígnio de uma vida inacabada!
_O senhor Alfredo Paredes morreu (subitamente, após um espetáculo com emoção ao rubro, em Barcelona), reprovarás comigo a cega imprudência!
_Para o efeito associo pela causa, o poeta do amor e da morte, Bocage, «Manuel Maria Barbosa du Bocage_1765-1805_Setúbal», também ele criativo, irreverente, audaz, de fina sensibilidade e apurado gosto estético:
Toldam-se os ares,
Murcham-se as flores,
Morrei, amores,
Que Inês (Alfredo/Mourão/Mandela/…) morreu!»
Paz à sua alma!
Bem-haja para todos, com votos sinceros de um ano novo, com muitos sucessos!
Aos beijos e abraços,
Paulo Craveiro_o Bispo, v/Devoto Incensador de Mil Deidades, em 27Dez13.
2 Comentários
Dave Adkins
Ia a uma casa de fado em LM perto do Hotel Girassol. Serviam Sangria e a cantora era
feminina como me lembro. Gosto muito do fado, Acho que o fado é 100% Português. .
Alice
Palavras de grande sensibilidade, como é teu hábito.
Bom Ano!