VOTAR NO ANC PORQUE SENÃO?
Tendo em conta o mal estar político que assola a África do Sul, muitos pensarão que o ANC vai ter dificuldades em ganhar as eleições legislativas e presidenciais de hoje. Enganam-se. Eu pessoalmente, mesmo considerando os atropelos de ordem vária, cometidos e conhecidos do público, acredito que a maior força política do país do “rand” vai vencer, nestas primeiras eleições sem Nelson Mandela. É verdade que dos principais centros urbanos circula o apelo para o NÃO ao ANC e talvez por isso, nas cidades o resultado possa ser adverso ao partido de Jacob Zuma. Ronnie Kasrils,
membro do Comité Central do Partido Comunista da África do Sul, antigo membro do Comité Executivo Nacional do ANC, ex-ministro no governo de Thabo Mbeki, homem da “secreta” sul africana e um activista anti-apartheid é uma das faces visíveis desse movimento. Já disse publicamente que não vai votar nem no ANC nem na AD. Quem também não vota no partido no poder é o Bispo Anglicano Desmond Tutu.
Estes 2 posicionamentos, a julgar por aquilo que tem sido referido por alguns analistas políticos sul africanos, podem levar a que o ANC perca nos centros urbanos. Mas essa eventual perda pode ser recuperada com o voto do campesinato.
Uma pedra no sapato do ANC vão ser, como sempre foram, alguns sindicatos. Nem a acção do Secretário Geral da Central Sindical dos Trabalhadores sul africanos, Zwelinzima Vavi, que já caíu em desgraça por força de escândalos onde se viu envolvido e agora pretende redimir-se dos pecados que cometeu, vai servir para demover a grande maioria dos trabalhadores. Alguns Sindicatos, muito provavelmente, hoje mais do que nunca, vão demonstrar essa insatisfação através do voto contra. A palavra de ordem é Sidikiwe ! Vukani ! Vote “NO”.
Mas só isso não chega. Não é suficiente para reverter a situação a favor de outras forças políticas, como são os casos da Aliança Democrática de Helen Zille, do Congresso do Povo de Mosiua Lekota, do Inkhata de Mangoshuto Buthelezy, do UDM de Bantu Holomisa (dissidente do ANC ao tempo de Thabo Mbeky) ou do recém formado Economic Freedom Fighter do polémico e controverso Julius Malema.
A Aliança Tripartida formada pelo ANC, pelo Partido Comunista e pela Cosatu, embora com divergências internas graves, ainda é uma força capaz de levar o partido no poder à vitória.
Numa altura em que a África do Sul comemora o vigésimo aniversário da queda do regime do “apartheid” e a constituição duma democracia multirracial, pode parecer estranho, perante tantas tropelias cometidas ao longo do tempo, particularmente depois da eleição de Jacob Zuma como Presidente do partido no poder, na sequência do afastamento de Thabo Mbeky, que o ANC se mantenha no topo das preferências da maioria dos sul africanos.
Os escândalos como Marikana (34 mineiros mortos pela Polícia)
ou Nkandla, (o faustoso complexo habitacional privado de Jacob Zuma erguido com dinheiro do Estado),
a falta das condições básicas de saúde, educação, saneamento do meio ambiente, comunicações, segurança e transportes, para as populações que vivem nos bairros mais problemáticos da África do Sul, bem como o crónico problema do desemprego, não são suficientes para abalar a estrutura centenária do partido.
Há já alguns indicadores dando conta que neste processo de votação iniciado esta manhã, (07 de Maio) o ANC pode vir a conseguir mais do que 60% dos votos. Votos que virão das camadas mais pobres da população. Daqueles que, segundo dados revelados pelo Human Sciences Research Council, não ganham mais do que 350 randes por mês. Votos que podem vir sob forma de pressão que foi sendo exercida ao longo das últimas semanas. Houve indicações expressas dadas aos reformados do sector público. “Se não votarem no ANC vão perder o vosso estatuto de pensionistas”. O mesmo aconteceu em relação a mães solteiras, na faixa dos 18 a 20 anos de idade. Se não votarem no ANC perdem o subsídio que o Estado lhes atribui de aproximadamente 250 randes por cada filho. Nesta campanha de intimidação, vale tudo para se conseguir caçar o voto.
E como a moda pegou, por cá, muito provavelmente, vai ser igualzinho. Nem é preciso esperar para ver.
João de Sousa – 07.05.2014