VOTAR
Perguntaram-me, como se eu fosse analista politico, se Nyusi vai ser (caso seja eleito) diferente. Se vai lutar pela continuidade, como refere a propaganda eleitoral. Continuidade, para quem me fez a pergunta pode significar, continuar com os níveis de analfabetismo no País, continuar a têr crianças em idade escolar sem estudar ou fazê-lo sentadas no chão, confrontando-se com a ausência de condições nas salas de aula, sem carteiras, cadernos ou livros, sem caneta ou lápis, sem ardósia, continuar a ter polícias (alguns, claro está) que muitas vezes se fazem passar por ladrões, continuar a ter idosos a precisarem de mais cuidado, de mais carinho, de melhor atenção, continuar a ter gente bem posicionada a, supostamente, dominar os cordelinhos do crime, continuar a perpetuar o “refresco”, a coexistirmos com o desemprego a atingir níveis assustadores e potencialmente conducentes a autênticos cataclismos sociais e políticos, a não termos água potável, saneamento básico, hospitais para a maioria do povo, e por aí fora.
Quem me perguntou acha que não. Que as coisas não vão continuar como estão, porque, a ser assim, não valia a pena mudar. Vamos mudar. Entendo que para melhor. Por uma melhor escola. Por um professor melhor preparado para ensinar. Por um agricultor que conhece o significado de plantar, semear, colher e fazer chegar o seu produto aos que dele mais precisam, desde que para isso as vias de acesso estejam transitáveis e haja nos principais entrepostos comerciais armazéns para a conservação dos produtos agrícolas. Por um aluno que se preocupa em estudar em vez de andar (como se viu por aí) à boleia dos partidos políticos a fazer campanha a torto e a direito, a troco duma camisete, dum boné, duma capulana ou duns trocados, por um enfermeiro zeloso, carinhoso, que sabe transmitir segurança e confiança ao doente, por uma Universidade que forme gente capaz de se embrenhar nesta dura tarefa de desenvolver o País, por um funcionário público que sabe cumprir com os seus deveres e obrigações.
Nyusi, Dlhakama e Simango prometeram,
utilizando formas de comunicação diferente, um mundo de coisas ao seu eleitorado. Por vezes promessas milagrosas para conquistar o voto e depois não cumprir com nada do prometido o que não deixa de ser um “estelionato eleitoral”. E nesta coisa de prometer, tal como li algures, o político faz um acordo com Deus e com o Diabo.
Mas perguntaram-me mais: Se Nyusi, caso vença as eleições, vai passar a integrar a Comissão Política da Frelimo ou, a nível partidário, vai continuar apenas como membro do Comité Central. Se, à semelhança do que aconteceu desde 1975 (com Samora, com Chissano e com Guebuza) o Presidente da Frelimo é o Presidente da República? Como se comportará a Frelimo, uma vez conhecidos os resultados das eleições, caso a Renamo e o MDM entrem numa coligação parlamentar? Estará o partido do batuque a da maçaroca preparado para uma eventual nova realidade política? Será que Nyusi vai reduzir o número de ministérios e outras instituições de estado, algumas delas criadas para acomodar interesses duma meia dúzia?
Prefiro esquecer todo este rol de perguntas, pelo menos por agora, porque, não tenho respostas para nada. Futurologia ainda não é comigo.
O voto não tem preço, tem consequência.
João de Sousa – 14.10.2014