“Amor azarado” – Por Rui Pinheiro
Todos se lembram como era complicado, nos anos 70, “transformar” uma paixão pontual em algo mais profundo e intimo. Não era pois de estranhar que a excitação e ansiedade se apoderassem de nós quando tal se alcançava e quando uma “namorada” nos permitia avançar para campos mais íntimos e “quentes”.
Mas os dois sentimentos atrás mencionados tiravam um pouco da serenidade desejada para este tipo de situação, levando-nos por vezes a momentos caricatos e únicos.
E assim se passou com o tal meu amigo super azarado.
Estando nós em digressão pela cidade do Porto, e hospedados no velhinho Hotel Batalha, este meu amigo andava completamente “apaixonado” (sempre foi um pinga-amor) por uma moça que conhecera poucos dias antes. E para gaudio de todos, a rapariga também nutria um sentimento bem forte por ele.
Até aqui tudo corria normalmente, com uns beijos e uns “amassos”, tão característicos daquela época. Mas o meu querido amigo não se mostrava satisfeito com o obtido até então e continuava usando de todos os argumentos “literários” possíveis para levar a “água ao seu moinho”. O que é certo é que a “coisa” resultou e eis que chega ao pé de mim, os olhos brilhantes de felicidade, e me diz:
– Rui, vou precisar de cerca de duas horas no nosso quarto (estávamos os dois no mesmo) para consolidar esta paixão que me assola.
– Claro que sim meu querido! E não pude deixar de acrescentar – “faz-me orgulhoso de ti e mostra-lhe de que é feito um LEÃO”.
E pelo canto do olho lá vi o casal deslocar-se sorrateiramente para os elevadores de acesso ao terceiro andar: ele com um sorriso super ganhador e maroto e ela naturalmente corada.
E assim fiquei eu no átrio do hotel preparando-me para passar as duas horas solicitadas a ler o jornal do dia.
Para grande espanto meu, decorridos que estavam cerca de 10 minutos, aparece junto de mim o meu grande amigo, com um ar de grande desilusão em contraste com o ar de felicidade com que me deixara antes.
– Que se passou meu amigo? Esta performance, em termos temporais, só é igualada pelos coelhos.
Responde ele:
– Nem me digas nada!!! Continuo o mesmo azarado de sempre…
– Mas conta lá o que aconteceu.
– Como viste desloquei-me para o elevador e tudo estava a correr bem. De tal modo que até chegarmos ao terceiro andar, e como estávamos sós, ainda houve oportunidade para trocarmos um beijo fogoso que indiciava o que de maravilhoso se ia passar a seguir.
– Chegados ao quarto, com a adrenalina a atingir níveis elevados, iniciámos, ainda de pé, uma série infindável de carinhos que foram naturalmente transformando-se em autênticos movimentos telúricos. E o inevitável “paraíso” estava prestes a acontecer. Nessa altura, e no intuito de criar maior privacidade e evitar que “sons” mais entusiasmantes soassem lá fora, dirigi-me à porta que dá para a varanda do quarto e fechei-a, bem como, em simultâneo, cerrei os cortinados que estavam somente meio fechados.
Nesta altura do relato estarão aqueles que lêem isto a pensar: “Não percebo onde está o azar nisto tudo!”.
Pois é amigos… O problema é que ao fechar a porta, o meu amigo também deixou presa na varanda a empregada do hotel que na altura fazia as respetivas limpezas.
Como é natural, a pobre senhora teve que bater nos vidros da porta para poder sair da situação em que estava e nessa altura os movimentos libidos que porventura ocorriam naquele quarto transformaram-se em “recolher obrigatório” do material usado e nunca mais foi possível recuperar a “motivação”…