“Invasão de Campo”
No final dos anos sessenta, morei por um período de tempo na Avenida António Enes* (dois anos?), quase ao pé da esquina do restaurante “Piri-piri”. Um prédio que tinha por baixo um restaurante, o “Paris”, em cuja esplanada almoçavam o meu avô e um jovem, então, a cumprir o serviço militar, farda que despia, nas noites de quartas e sábados, para envergar a camisola 11 do Desportivo, o clube lá de casa há três gerações. Um dos melhores jogadores de basquetebol da cidade, o Manuel Lima.
Nessa altura, o meu avô já estava debilitado, pelo que era o criado que o trazia cá abaixo, aproveitando o tempo da refeição para dar uma volta. Era hábito do António, quando saía, levar a cadela ‘boxer’ a passear, mas, ao meio-dia, a ‘Kariba’, provavelmente à espera de um bocado de bife, preferiu algumas vezes ficar aos pés do meu avô. Tanto assim foi, que, como a seguir se verá, encetou com o jogador alvi-negro uma boa relação. A mesma que também com ele construí, tendo vindo a escolher este número quando me tornei atleta do GDLM.
Na capital laurentina, o ‘derby’ disputava-se, de tabela a tabela, entre o Desportivo e Sporting. E em dia de ‘derby’, o pavilhão abarrotava!
Aconteceu, um sábado, termos decidido à última da hora ir ver o jogo e, tendo a cadela no carro, mas não tempo para voltar à alta da cidade para a pôr em casa (aqueles quarenta minutos eram a não perder!), o meu pai optou por deixar uma das janelas do carro meio abertas e, no intervalo, sairia para a vir ver e lhe dar cinco minutos de passeio. Assim foi, e o jogo recomeçou.
Uns minutos após o apito do árbitro, o jogo parou. Uma lady de pelo castanho e rabo cortado acabara de entrar no recinto sem pagar e, vejam a lata, em vez de se ir sentar discretamente nalgum espaço que sobrasse nas bancadas, foi, educadamente, cumprimentar o único jogador que conhecia…
Agora, imaginem o gozo nas bancadas. Nós, primeiro, ficámos espantados… só quando vimos o Manuel Lima a fazer festas à ‘Kariba’, enquanto com o olhar percorria a multidão envolvente, à procura do dono, caímos em nós: a cadela era mais elegante do que parecia… E lá desceu o meu pai, envergonhadíssimo, para invadir o campo, também, antes de voltar ao carro, na companhia da vedeta, e inevitavelmente perder uns minutos do jogo…
Este ‘derby’ ficou memorável, na família!
* actual Av. Julius Nyerere.
Por Isabella Chuinga
4 Comentários
Jose Alexandre Russell
Bonita e engraçada história. Lembro-me bem do jogador do GDLM, dos desentendimentos que havia entre ele e o Sérgio Carvalho do SCLM, e das suas ganchadas, que a certa altura quis imitar… Um jogador que sabia jogar basquetebol.
Joaquim vieira
O Manuel Lima foi casado com a Maria do Céu Secca, teve duas filhas e morou no Porto .
Depois separam-se e ultimamente esteva em Moçambique
Manuel Monteiro
Muito obrigado. Vou continuar a procurar o Lima até ele me aparecer!..
Joaquim vieira
Eu treinei no FcPorto ,em 1961 na Constituição com o Pedro Rodrigues um treinador brasileiro quebnos fazia subir e descer os degraus da bancada várias vezes!