Acabei de receber um email do João de Sousa a solicitar o contato do João Domingues (a residir em South Africa), e de repente lembrei-me desta crónica (em arquivo) feita pelo JS em junho de 2005, mas sempre atual.
João Domingues… revendo outros tempos – Por João de Sousa
Em plena Av. 25 de Setembro, no coração da baixa moçambicana, toda ela atrapalhada pelo infernal trânsito desta cidade que já não tem hora de ponta, onde pela mesma via circula automóvel ligeiro e “machibombo” ou mesmo um “chapa” proibido de andar naquela área, ou mesmo o “tchova” carregado da mais variada quinquilharia, por entre o arrumador de carros que vai amealhando uns parcos meticais, fazendo-se pela vida com a célebre frase “fico guardar, patrão”, ou mesmo até com o irritante vai vem dos vendedores ambulantes que tentam impingir tudo o que seja mercadoria, desde protector solar, para tempo fresco de Maputo, imaginem só, passando por CDs de música nacional e internacional, (a maior parte deles pirateados no sistema de cópia via computador) chaves de fenda, lâmpadas, maquinas de calcular, peúgas, relógios, roupa diversa, etc. … Enfim, foi neste ambiente duma avenida emblemática desta capital, que em tempos era da República, que, defronte duma casa de fotos, fui encontrar o João Domingues.
É que os jogadores da selecção sul-africana de basquetebol não tinham trazido fotos, e por isso, sem elas, era difícil a emissão do cartão-licença para participarem na prova de qualificação da Zona VI de África, que decorre em Maputo.
Fotos tiradas e aí fomos nós rumo ao Hotel Ibis (antigo Hotel Turismo),
um gigante de cimento recuperado, que por frente tem umas lojecas e um Centro de Cultura Brasileira, naquilo que em tempos foi o LM BAZAR, e que depois passou por outros nomes.
A recepção do hotel era pequena de mais para albergar tanta gente. Um grupo de turistas que estavam prestes a regressar a Joanesburgo. Turistas que não perdiam os últimos momentos para se deslocarem, num vai-vem infernal, ao “bazar da baixa”, ali mesmo ao lado, para comprarem fruta fresquinha da época, “Para ir comendo pelo caminho” como me dizia um “beef”.
João Domingues pede-me para esperar, porque “vou ao quarto buscar uma coisa e já venho”. Esperei. Quase uma eternidade, porque o “ronceiro” elevador levava um tempão para chegar ao destino (11º andar) e retornar.
Lá veio o João. Com um álbum de fotos e um Cd-rom. Um álbum muito bem organizado, que me fez recuar aos anos 60. Fez-me lembrar (e ao João também) os momentos inesquecíveis do Malhangalene. De Campeão Distrital a Campeão Nacional. Do tempo do Linda (Adam Ribeiro), do Leonel Santos, Avelino Ferreira, Carlos Gaspar, Eustácio Dias, Jimmy Romeu … Enfim, aqueles que fizeram história na história dos “azuis e brancos da época”.
Para não fugir à regra, na noite anterior ao nosso encontro, lá foi ele pela marginal fora. Aterrou no Costa do Sol e aí é que foram elas. Não houve camarão que resistisse. Mas não foi só de gastronomia que se fez a revisão desta terra que lhe deu alegrias imensas. Foi circular pela (sua) J. Serrão, toda ela recheada de “buracos cósmicos” (a designação é de autoria do saudoso Leite de Vasconcelos), ver as acácias, sentir o cheiro do mar, e não ver tabelas nas ruas. Foi matar saudades. Mas “até sábado, João, ainda tenho tempo para visitar outros lugares”. É isso mesmo João. Vai. Vai por tudo quanto é sítio. Vai aos “dumbas” para ver autênticos “cash and carry” implantados por cá como cogumelos. Aliás, era por aí que devias ter começado. Mas tudo bem… por algum lado tinha que ser, e o JD começou pelo lado que mais lhe convinha.
Foi mais de uma hora de conversa, não muito no sentido daquela que pretendo publicar brevemente neste “site” virada exclusivamente para o basquetebol, mas sim um deambular por outros caminhos, recordando amigos e colegas comuns.
E depois de tudo isto, lá se foi o João Domingues juntar-se aos seus porque era tempo de falar com os jogadores, porque “eh pá… a Zâmbia não é fácil”.
Veio como Chefe da Delegação Sul-africana, mas não deixa de se “intrometer” (no bom sentido do termo, é claro) nos trabalhos do seu treinador, porque quando o bichinho da bola ao cesto está dentro de nós, não há nada a fazer. Às vezes não medimos distâncias. E acabamos por confundir as funções.
E lá foi o JD com a certeza de que voltaríamos a conversar, para olharmos mais atentamente para as experiências de outros tempos. Dum campeão nacional duma equipa considerada na época como a 4ª equipa moçambicana de seniores. Do tal campeonato que o Samuel não viu porque os deveres militares o levaram para o Norte. Do tal campeonato que o Nuno Narcy também não viu, pela mesma razão. Do tal Malhangalene, que, como me dizia o Mário Machado, “era uma equipa baixa, mas bem arrumada, e capaz de fazer surpresas”.
E não é que fez?