Mistérios e Maravilhas da “Cabeça-do-Velho” em Manica
A cidade de Chimoio, capital da Província de Manica
A cidade de Chimoio, capital da Província de Manica, localiza- se ao longo do Corredor da Beira, a uma altitude de 750 metros, estabelecendo ligação entre a costa e o interior do continente.
O nome Chimoio provém de um dos filhos de Ganda, que era o chefe do clã totémico Moyo, que, vindo de M´bire, se instalou naquelas terras.
A história oral conta que Chimoio, que era um grande caçador, certa vez abateu um elefante nas terras de um outro clã. Chaurumba, chefe desse clã, considerou um crime o comportamento de Chimoio e ordenou que fosse imediatamente executado. Ganda solicitou então autorização para que seu filho fosse sepultado em terras de Chaurumba e que um dos seus parentes pudesse fixar-se próximo da campa para a tratar e vigiar. A partir daí todos os descendentes dos guardiães do túmulo de Chimoio, assim como o local dessa sepultura, passaram a ser designados de Chimoio (palavra que em ci-tewe – idioma local – significa “coração pequeno”).
A situação estratégica dessa região tornou-a um privilegiado centro por onde passavam produtos do interior do continente para a costa. Já os árabes subiam pelos rios Búzi e Revué em direcção às terras do império Mwenemutapa, na demanda de ouro e outras mercadorias. Como marcos dessas trajectórias, os viajantes sinalizavam as suas rotas com palmeiras Borassus, plantadas a uma distância visível umas das outras. Em alguns lugares ainda se avistam essas centenárias palmeiras. Acredita-se que uma das mais antigas fortalezas situadas nessa trajectória era a que se encontrava no cimo da Serra Zembe, a sudeste da actual cidade de Chimoio.
Os portugueses também se aventuraram por essas terras procurando alcançar o famoso império Mwenemutapa e foram por aí se estabelecendo, assumindo a sua ocupação colonial. Essa região foi então concessionada à Companhia de Moçambique que tinha como um dos seus principais objectivos o fomento e colonização agrícola. Assim, a Companhia obrigava-se a estabelecer no seu território famílias de colonos portugueses e seus descendentes.
Uma das primeiras vilas a ser criada foi Vila Barreto. Estabelecida em 24 de fevereiro de 1893, nas proximidades de onde hoje se encontra a cidade de Chimoio, surgiu dos trabalhos de construção da linha-férrea Beira-Zimbabwe.
O nome da vila provém do capitão-mor português Francisco Barreto que, em 1572, comandou a primeira expedição militar ao reino de Mwenemutapa.
Durante alguns anos, a linha-férrea terminava na Vila Barreto, o que contribuiu para o seu impressionante crescimento. Nessa altura a vila conheceu um grande momento de opulência, com as suas instalações hoteleiras permanentemente ocupadas por viajantes que se dirigiam para Manica e Rodésia (Zimbabwe) ou, em sentido contrário, para a Beira. Contudo, em finais de 1897, as obras de construção da linha-férrea atingiram a fronteira com o Zimbabwe, determinando a quebra do dinamismo que se instalara em Vila Barreto.
Em 1899, por decisão da Companhia de Moçambique, a Sede da Circunscrição de Chimoio foi transferida de Vila Barreto para uma povoação com o nome de Chimiala que passou a designar-se por Mandigos. Foi com esse nome que, durante bastante tempo, ficou conhecido o embrião da actual cidade de Chimoio.
Em pouco tempo, Mandigos começou a ganhar uma certa notoriedade, principalmente devido à abundância das colheitas agrícolas, o que atraiu comerciantes, serviços hoteleiros e sociais. O grande impulso que teve toda a colonização de Manica data de 1910, quando o Governador João Pery de Lind criou uma série de facilidades para o desenvolvimento de Chimoio.
A 17 de Julho de 1916, Mandigos passa a denominar-se Vila Pery como acto de homenagem e reconhecimento para com o Governador João Pery de Lind, que, com as suas acertadas medidas, tornara Chimoio no maior e mais notável centro agrícola de Moçambique.
A poucos quilómetros do centro da actual cidade de Chimoio situa-se o bairro Soalpo que testemunha o desenvolvimento agro-industrial que tornou a Província de Manica num dos maiores destinos do investimento agrário do país. Esta “vila anexa à cidade de Chimoio” foi edificada pela Sociedade Algodoeira de Portugal (SOALPO), em 1944. A empresa estava vocacionada para o fomento da produção algodoeira e fabrico de tecidos. Hoje, o bairro parece um museu vivo. As ruas, os parques, os campos de jogos conversam com os visitantes contando histórias de tempos que passaram.
Vila Pery foi elevada à categoria de cidade pelo Governador-Geral de Moçambique, Baltazar Rebelo de Sousa, em 17 de Julho de 1969, como reconhecimento do sucesso das suas actividades económicas e sociais. A maior parte dos edifícios da Cidade de Chimoio são marcos desse dinamismo vivido pela cidade. O Vila Pery Hotel (onde hoje funciona o centro social da Polícia), construído em 1920, foi o primeiro estabelecimento hoteleiro da Cidade de Chimoio. O Sports Clube, fundado em 1928, contribuiu para o desenvolvimento do desporto e de actividades culturais. A Escola Primária Caldas Xavier, construída em 1948, foi a primeira escola de Vila Pery. Hoje é o edifício sede do Conselho Municipal da Cidade de Chimoio.
O Cinema Montalto, construído em 1969 e actualmente abandonado, foi assim baptizado pelo facto do “monte alto” de Moçambique (monte Binga) se encontrar no planalto de Manica.
Estas são apenas algumas das infra-estruturas que memorizam esse tempo áureo que a cidade conheceu.
A mudança do nome Vila Pery para Chimoio foi feita a 12 de Junho de 1975, durante um comício popular do Presidente Samora Moisés Machel, aquando da sua viagem triunfal do Rovuma ao Maputo. Um dos marcos mais visíveis desse período de luta pela independência é a Praça dos Heróis,
onde foi pintado um impressionante mural, que retrata os vários episódios da história de Moçambique, com maior destaque para a conquista da Independência.
Uma visita à cidade de Chimoio é sempre feita sob o olhar curioso de uma pequena serra com um feitio muito particular que, sorrateiramente, parece convidar-nos a visitá-la. A natureza recortou naquela rocha o feitio da cabeça de um velho. A Serra Bêngo, vulgarmente conhecida como a Cabeça do Velho, é hoje um dos principais atractivos turísticos da cidade.
A escalada até ao cume da serra é relativamente simples e por vezes é possível avistar alguns cabritos do mato ou macacos nas suas matas. A vista do topo é simplesmente fantástica, podendo observar-se todo o arranjo físico da cidade de Chimoio assim como as paisagens rurais circundantes.
O valor da serra não se resume à sua beleza paisagística. Em certas alturas do ano, ela assume um papel espiritual muito importante para as comunidades locais. Durante a época chuvosa, a água corre de tal forma que faz lembrar lágrimas escorrendo pela face do “velho”. Crenças locais dizem que os antepassados estão zangados e por isso choram. Por este e outros motivos, a Serra Bêngo é considerada como um local sagrado, onde se realizam cerimónias que invocam o mundo dos espíritos.
Maquilhada com toda a sua história, a cidade de Chimoio, pequena como um coração, não se mede aos palmos. Ela sobrepõe-se ao mero arranjo arquitectónico das ruas e edifícios e se afirma como um todo, produto da natureza humana, fértil de História e de futuro.
A “Cabeça do Velho” (Latitude: -19,0988° ou 19° 5′ 56″ sul; Longitude: 33,5029° ou 33° 30′ 10″ leste)
Quem morasse na última rua circular que se desenvolvia a nascente da antiga cidade de Vila Pery, atual cidade de Chimoio, ficava na frente de uma paisagem magnífica, tal como a vemos nesta fotografia. Era a Serra Bengo, mais conhecida por “Cabeça-do-Velho”.
Durante a noite, ouvíamos entusiasmados e com muito ritmo os sons dos tambores que vinham dali – melhor dizendo; os pitorescos sons dos tambores nos seus rituais africanos, de fim de semana, cujos executantes seminus com seus corpos humedecidos pelos sabores da bebida localmente conhecida por ndoro, pombe ou cabanga, que cantavam e dançavam até ao amanhecer e cujos gritos de felicidade nos contagiavam.
Todavia, logo ao alvorecer, a “Cabeça do Velho” apresentava-se ela, fresca e imponente, na frente dos nossos olhos, como que nos vigiando, exposta ao sol, sob o céu azul de mais um dia lindíssimo que ia despontando até nos retirarmos para as nossas atividades, próprias de jovens que amavam tanto o trabalho como a terra que consideravam sua.
Oh “Cabeça do Velho”, porque me ofereces tu esta imagem tão bela? Eu penso nisto tudo e até suspeito que um dia vais-me empurrar para fora da terra que te rodeia e que adorei! Não me empurraste, mas tiraram-me o prazer de viver a teu lado, contemplando no dia-a-dia a tua grandeza, que só Deus sabe como ali foste parar. Assim, desgostoso, tive que partir. Deixei-te. Adeus mãe-natureza! Até sempre minha amada! Ficará então na minha memória a “cabeça” de um tal gigante, que adormeceu ali, perdurando por séculos e séculos, milhões de anos, ao ponto de se tornar pedra e nos seus contornos ficarem bem visíveis os pelos de um farto bigode como de um velho se tratasse, na verdade de uma fantástica floresta verde, onde mais adiante, ao redor, também havia lugar para uns longos cabelos enfeitados com palhotas redondas. Mas que beleza tão natural ali exposta aos nossos olhos! Vejam, que até nem faltava a guarda arrojada e orgulhosa de centenas de sentinelas, daquele povo magnífico!
Entre as nossas casas bem cuidadas ao longo de ruas circulares ou retilíneas, extensas e limpas da nossa Cidade de Chimoio e a Serra Bengo havia uma extensa planície de capim.
Pelas suas bandas, de noite, ouviam-se os “choros” de uma ou outra hiena mais descuidada.
Local de boas memórias para uns e de más memórias para outros.
A perfeição do maciço da “Cabeça do Velho”, fala transparentemente e continuará a transmitir ao Mundo a história real dos gigantes humanos, que passaram pela Terra. Por isso, nos colocam uma pergunta: Donde vieram estes colossos? Qual o Planeta da sua origem?
Por não poder responder a estas dúvidas, estou incomodado com a minha vida, irado comigo próprio, por ter estado ali ao pé, apreciando a sua beleza e sua dimensão descomunal e não ter tido essa iniciativa, já que oportunidades houve muitas, partindo eu para outros asteroides, sem ter conseguido obter tal resposta misteriosa para a ciência da Humanidade!
Seus proeminentes dotes de nariz e queixo, entre os quais, seus lábios bem pronunciados, semiabertos, como que se está perante um sonhador, de olhos fechados, mas cantando suaves melodias à lua cinzenta, ao som do rufar abafado dos batuques, que por ali proliferam. Sua perfeita oclusão ótica, donde caiem lágrimas em torrente, nas épocas de pluviosidade abundante, quente e cheirosa, seus pelos fartos e fortes do tão pronunciado bigode, que quase se confundem com seus caracóis longos, repousados na planície do solo, que lhe serve de travesseiro, são bem a evidência da sua imagem de respeito, da qual não há qualquer dúvida para a realidade da sua personalidade e existência há muitos milénios! Nos dias de tempestade, em que os coriscos recortam os céus do Chimoio, por norma despedaçam-se contra a força bruta da sua imponência pedregosa, como raios cintilantes de jogos virtuais do meu monitor, proporcionando uma beleza maior e impar, com tanta cor, sombras e fogo acutilante, seguidos de autênticos sons como de terramotos se tratassem, mostrando também a força faraónica desta natureza onde nos encontramos inseridos, como a chamar a atenção, que somos afinal os descendentes daquele velho povo pequeníssimo; povo este, que tem povoado séculos após séculos esta esfera que gira no Universo.
Repousa em PAZ, aventureiro dos tempos, gigante, guerreiro e Patrono do Povo de Chimoio que orgulhosamente te chama “Cabeça do Velho”.
Texto de F Boléo Canário, revisitado por Manuel da Silva
POEMA “Cabeça do Velho” de Manuel da Silva
Donde vinham pitorescos sons de tambores nos seus rituais africanos .
Logo ao alvorecer ali se apresentava ela, imponente, na frente dos meus olhos , como que me vigiando.
Era a cabeça de um tal gigante que ficou ali durante muitos séculos, milhões de anos, tornando-se pedra, mas mantendo ainda todos os seus contornos…
Os pêlos do teu bigode deram em farta floresta verde
Oh “cabeça do velho”, como és linda!
Oh mãe natureza como foste capaz de tanto!
Teriam sido aquelas palhotas adornos nos teus longos cabelos?
Povo de Vila Pery!
Teria sido vós o guardião de tão importante personagem?
A minha memória recua no tempo até aos anos em que um tal cidadão vindo de uma longínqua terra, Pombal, ali se instalara.
Óh “velho” generoso, que compreendeste!
Com o teu consentimento muitos mais vieram inspirados e confiantes na tua prova de amor aos homens.
Agora, eu, já sou retirado …
… Mesmo assim, o meu olhar vagueia e percorre em pensamento aquele vale em busca dos teus olhos, como outrora, e o gesto incontornável da tua amizade.
Na extensa planície encontro o mesmo capim da cor do ouro.
Ouro esse, que eu no meu imaginário te ofereço para tua glória – é também este o meu singelo agradecimento.
… Receio, contudo, que as hienas esfaimadas
venham pela calada da noite “chorar” aos locais donde outrora vinham os pitorescos sons dos tambores nos seus rituais africanos.
Manuel da Silva – Macau, 01 outubro de 2023
“A Cabeça de Velho é um lugar místico”
7 de Dezembro, 2014
“A Cabeça de Velho é um lugar místico”, declara à Lusa Fredson Bacar, diretor provincial de Turismo, referindo-se ao cartaz do festival “Manica, paraíso místico por explorar”, um evento descrito como um casamento descontraído para preservar o património cultural e cartão de visita de Chimoio, e ao mesmo tempo impulsionar o turismo doméstico e respeito pelas tradições seculares.
Entre mistérios e descobertas, um longo caminho de terra descreve inúmeras curvas forçadas por pequenas colinas até ao sopé de Cabeça de Velho, onde um palco e aparelhagem industrial dão oportunidade aos artistas para espalhar o seu talento e expressões culturais, desde cantos e danças espirituais aos mais modernos.
A primeira edição do festival turístico-cultural Cabeça de Velho pretende também, disse Fredson Bacar, fornecer serviços turísticos e promover parcerias, com vista a tornar a província de Manica num destino de referência nacional e regional, além de explorar as inteligências ocultas do “velho homem”.
A serra está a saque de gente que procura pedra para construção civil, sofre com queimadas descontroladas, motivadas pela caça de ratos nas encostas, e que tem dizimado milhares de pequenas espécies, o que o Governo “condena veemente”.
“Estamos a fazer um trabalho para declarar a Cabeça de Velho como um parque ecológico”, precisou Fredson Bacar, justamente para reconhecer e preservar o potencial ambiental e o habitat de várias pequenas espécies.
O lugar encerra mistérios vários, como os lençóis brancos, que até há três anos apareciam lavados e estendidos todas as manhãs sem que se saiba quem os pôs lá, os bodes de colar vermelho sem dono conhecido, que desfilavam indiferentes nos bairros densamente habitados nos arredores do monte, e ainda as “lágrimas” que escorrem em todos os períodos do ano da zona dos olhos do “Velho”, provenientes de uma minúscula nascente no topo da rocha.
Na mesma zona, reproduzem-se colónias de velozes lagartixas de cauda azul e vermelha, que habitam a rocha em grandes quantidades junto de enormes macacos, aves e serpentes.
No “queixo”, ergue-se uma “barba” vetusta, formada por frondosas árvores que hospedam um cemitério tradicional, onde foi enterrado o líder que ostenta o nome da rocha, e onde decorrem frequentemente faras (festas) e cerimónias religiosas, contracenando com o deserto provocado pelas queimadas descontroladas.
“Devemos salvaguardar e fazer a gestão dos recursos naturais e culturais de forma a criar produtos turísticos competitivos, mas garantindo que os mesmos não sofram alterações e nem percam o seu valor em resultado da utilização”, afirmou Ana Comoana, governadora de Manica, que enquadra a preservação da serra como um veículo de consulta para as gerações vindouras.
Para a governante, a simbiose da natureza com o turismo e a cultura “é um dos mecanismos de conservação e proteção” dos recursos naturais, especialmente os ecossistemas e a biodiversidade, e apelou aos Governos locais e a sociedade civil que pratiquem o uso sustentável da terra.
Em Manica está em exploração uma área de conservação, na Reserva Nacional de Chimanimani (Sussundenga), onde foram construídos três “lodges” comunitários, para dar oportunidade de emprego a população, preservando a flora e desencorajando a destruição da área.
AYAC // PJA – Lusa/Fim
- Música: “Os amigos de Vila Pery” do Conjunto Oliveira Muge.
12 Comentários
Edite Lemos
Amei estas memórias!
Obrigada.
Abraço fraterno!
Manuel Martins Terra
Parabéns, Manuel da Silva, por nos dar a conhecer o extenso enredo que envolve todos os mistérios e maravilhas da “Cabeça do Velho”em Manica, onde a história da região e a cultura das suas gentes , estão intrisicamente ligadas. Gratos, por toda esta informação tão precisa. Um abraço,do Manuel Terra.
Manuel da Silva
Caríssimo amigo Manuel Martins Terra, excelente blogger do BigSlam!
Receber um elogio destes de um verdadeiro escritor é uma forma de me dizer que estive à altura dos textos e do poema, pela forma como expus os assuntos. Há um ditado popular que nos ensina que “para chegar a algum lado há que começar por algum sítio”. Eu tive fortes motivos para começar (como comecei) e acabar (como acabei). Conheci a Cabeça do Velho, porque a escalei várias vezes. Soube das histórias que contavam que me causava arrepios, mas sobretudo a sua imponência mesmo ali junto das nossas casas! É o ex-líbris da cidade capital (CHIMOIO) da província de Manica. Fiquei magoado no dia em que estando eu no Campo Municipal de Chimoio ouvi chamar a Pery de Lind um colonizador e ordenar que baixassem o nome de Vila Pery e arvorassem o nome de Chimoio. “Quando nada é certo tudo é possível!” Um abraço para si Manuel Terra
Laura Maria Saraiva Seixas
Bravo Manuel da Silva por ter revisitado este texto belíssimo… e poético! Kanimambo Bigslam por o ter publicado.
Eu só conheci o Chimoio em 2013, porque vivi 2 anos em Tete. Como a nossa zona consular era a cidade do Xiveve – tínhamos que passar pelo Chimoio – num precurso com paisagens verdejantes, tão diferentes de Tete e ficávamos sempre lá um ou dois dias, com bastante agrado.
Eu também nunca tinha ouvido falar do rio Xiveve – sou Coca-Cola – mas quem nasceu ou viveu na linda cidade da Beira conheceu bem cidade e o seu rio “de perfume chocante” no mínimo, e que passa mesmo junto ao Consulado de Portugal. A cidade da Beira dava vontade de CHORAR mesmo a mim que a conhecido, só por postais e de conversas de “rivalidades bairrista Beira-LM”.
Mas regressando à região do Chimoio, nessa altura, continuava a ser talvez a zona mais fértil de Moçambique onde se continuavam a localizar as grandes explorações agrícolas. Quando o ciclone Idai devastou
Manica e Sofala “pensei” muito neles e “rezei” para que a região fosse poupada, já estávamos em Portugal.
É também do Chimoio a Àgua do Vumba, para mim de qualidade excelente e engarrafada com as técnicas mais avançadas e normas de segurança. Vumba é a água mais procurada e Esgotada na zona centro de Moçambique, e só perde cota de mercado para a da Namaacha – no Sul – pela dificuldade de vencer os custo da distância.
Em matéria de águas engarrafadas posso dizer que também vivi na Namaacha entre 2015-2016 e em Maputo e Matola 2016-2018 e nunca vi garrafas do Vumba à venda. Só havia Água da Namaacha, mas tanto a embalagem como conteúdo de qualidade inferior. Nessa altura a linda cascata da Namaacha estava SECA – e tal como Tete – viviam-se anos de seca terrível devido ao abate indiscriminado da Mata… mas na Namaacha diziam que o abate da mata foi na altura da guerra civil.
E em Tete, bom seria melhor nem falar… – foi em pleno ano 2014, sem guerra, mas com horrores de Ganância e Estupidez… – no que os nossos olhos viam quando estávamos sentados numa esplanada, SÓ ao domingo à tarde, na estrada Matundo- Moatise: filas de Camiões Enormes – como nunca vi em PT – com toros de diâmetro tremendo
e por fim já eram torinhos Raquiticos, do diâmetro de bananeiras magrinhas. O solo todo Careca, um Saque completo… nem os celebres cabritos de Tete tinham sombra… depois as consequências do Idaie Kenneth, só podiam Ser as que Foram, assim como as cheias de 2020 em Moatise…
A certa altura do texto fala-se em hienas… e eu não consigo calar o que pensei… HIENAS de duas pernas e que têm “conduzido” à
miséria os nossos irmãos moçambicanos e as terras belíssimas e abençoadas da nossa infância e juventude, que tanta poesia inspiraram.
Manuel da Silva
Olá Laura Maria Saraiva Seixas! Obrigado pela excelente análise que fez aos meus textos … e ao poema que eles encerram. Sobre a cidade da Beira (da qual me orgulho por ter vivido durante 4 anos enquanto estudante) dei uma entrevista onde eu saliento o amor que tenho ou tive por aquela cidade. (Vou tentar inserir o video da entrevista, acima)
Sobre as hienas não se enganou, não senhor, o autor quis chamar a atenção. Estive em Moçambique 20 anos e agora, “eu sou um pouco de cada pessoa que conheci, de cada lugar onde estive e de cada situação que vivi”.
Nino ughetto
Bravo Samuel.. Certo que nào me conheceste, mas saibas que eu fui um grande amante de Moç, Nào creio que haja muita gente que viveu as grandes aventuras da minha vida… e os os 400 asneiras que fiz, que eu vivi em Moçambique.. Nasci em 44 vivi em casas de madeira e zinco, estive no colégio da Namaacha, e em L.M. estudei na Correia da Silva ,nos Maristas e Escola Fernando Pessoa na escola comercial . e liceu Salazar…Fiz de tudo vi e vivi de tudo e na minha adolcencia. Viagei com meu irmào e meu Pai no rio Maputo até Salamanca, onde ele trabalhava numa fabrica de “cale ou outro” iamos a caça meu pai era um bom caçador, Havia todos os tipos de felinos, foi uma aventura maravilhosa, com os nativos as pirogas os crocodilos e hipopotanos, tudo como um filme na selva de tarzan.. Nunca me esquecerei essas aventuras..Em L.M. . ia procurar as moças nas lagoas com o meu irmào e amigos, Ia a praia;;engatar as bifas e ia muitas vezes a Africa do Sul, pois os meus conhecimentos (femeninos) davam:me cama e comida, e nào so…Vivi a vida. Tinha pai e màe e irmàos maravilhosos e sem falar de centenas de amigos. Fui para o serviço militar de Boane, parti para a guerra no Norte.. Da Beira a Nampula Tete Marrupa Vila Cabral Lago Niassa Cabo Delgado em Mueda, Mocimbo da Praia. e … tantos outros lucais e isso tudo em 24 meses em zonas de guerra e de combate, onde perdi desenas de bons bons e fieis amigos ( que ainda hoje choro por eles). Moçambique terra amada de meus mais doces amores. ( a imprerssào que tenho é que. Nada disso exestiu..foi tudo um sonho. foi bom bom bom demais para que eu possa ter vivido tudo isso… Trabalhei no I.de Credito e fazia Karaté com o Helmano professor de Karaté… Hoje. ??? Choro de tudo que passou e tudo que perdi. Nada nada mais existe.. Fiz 4 anos de serviço militar e hoje vivo em França porque como fugitivo , como retornado nada tinha em Portugal…Tudo passou tudo acabou…e nào contei tudo… Graças a Deus e a meus pais recomecei uma nova vida. Depois fui a Portugal pois a minha namorada la estava, Fui là buscà:la é uma linda moça que conheci em .L.Marques 3 mese antes da revuluçào…e aqui estou estagnado…Um abraço
Jorge Augusto Fernandes Messias
Estimado Samuel.
Belo trabalho!
Vivi no Bairro velho da SOALPO, trabalhei na Textáfrica e casei em Vila Pery.
Terra maravilhosa de onde tenho as melhores recordações que agora foram ainda mais avivadas.
Lembro que em Nampula, existe uma serra idêntica.
Um abraço e muitos parabéns a todos os que contribuíram para este trabalho
Manuel
Manuel Maria Prata Azevedo
Porto, 06 de Dezembro de 023
Excelente artigo que me faz reviver os momentos indubitavelmente felizes vividos em Vila Pery e no bairro da SOALPO, do futebol praticado no Textáfrica, dos filmes no Montalto, de toda uma adolescência saudável e amistosa e que, ainda hoje, recordo com imensa saudade. Agradeço reconhecidamente o artigo.
Manuel Azevedo
prata.azevedo@gmail.com
Adelino Junior
Passei por essas paragens em 1973 durante o Rally BNU, como apoio a um dos concorrentes. Lembro-me da classificativa em Rotanda à noite e a bela paisagem de Tse Tserra. Uma zona previlegiada sem dúvida. O problema é que os governantes de agora não sabem distinguir um monte bonito de um monte de matuge.
Luiz Branco
Obrigado pelo artigo e informação. Excelente.
Bem haja.
Augusto Martins
Simplesmente, MUITO OBRIGADO!
Vou tentar copiar e gravar (se me autorizar), para arquivar entre muitos outros que me fazem recuar à minha história da terra em que nasci, vivi feliz e onde estão sepultados os meus avós, pai e irmãos.
Grande abraço, com votos de muita saúde.
Jorge Valente
Vila Pery… Memórias Do Esquadrão De Cavalaria 1972 e os cavalos… 👌📿