Recordando FERNANDO ADRIÃO – Por João de Sousa
Na Foto: Fernando Adrião homenageado em Moçambique em 2004!
Não resisto à tentação de deixar algumas linhas sobre essa figura do nosso hóquei patinado, porque entendo ser dever meu lembrá-lo neste momento em que fisicamente deixa de estar connosco. Estou a falar-vos do Fernando Adrião. Esse “durão” e ao mesmo tempo habilidoso e tecnicista, que com o stick na mão, rolava tão bem ou melhor que a nossa querida Piedade Viegas da Escola da Lotte Kadenbach. Ainda se lembram dela ? É isso mesmo. O Fernando já não está connosco. E nestas linhas ficam as relações de amizade que muitos de nós, por razões várias, mantivemos com ele. Lembrar agora Fernando é lembrar muitos outros “loucos” do nosso tempo. Uns na bancada, animados, “puxados” pelo grito de guerra (malhaaaaanga) do nosso saudoso António Emílio Teixeira. Outros lá dentro do rinque de patinagem. Moisés, Delfim Leitão, o seu irmão Zé, Tondela, Mário Gomes (Porto), o Zé Capelão, enfim … para mencionar apenas estes, que nos deixaram os registos das noites de glória, do confronto (por vezes duro) entre Fernando e Acursio, ou entre o Fernando e o “macaco velho” do Carneiro. Ou para vêr naquele pavilhão que fez a nossa meninice o Fernando ao lado de outros craques do seu tempo (Moreira, Bouçós, Chico Velasco, os Irmãos Souto, etc …) brindando os “azuis e brancos” e outros de outras cores desportivas, com a sua classe.
De Fernando guardo pessoalmente algumas imagens. Na viagem à Argentina quando pela primeira vez, em 1978, como Nação Independente participámos, um pouco a medo, num Campeonato do Mundo de Hóquei em Patins. Era ele o Seleccionador Nacional.
Seleção Nacional Moçambique em Hóquei Patins – Buenos Aires (Argentina – 1978)
Foi ele que colocou o nosso nome nos trilhos internacionais desta modalidade e com ele carregou nomes já retirados da modalidade, mas ainda ligados a ela em outras funções. O Arsénio Esculudes, José Mauro, Américo Tavares, António Simões, Carlos Pinto, José Carlos Pereira, João Boavida … enfim, aqueles que sob a batuta do Fernando foram mostrar que aqui (embora com altos e baixos) o hóquei foi referência mundial.
Fernando Adrião, graças à sua popularidade desbloqueou uma situação que parecia incontornável. Eu conto a história em breves linhas. Chegados a Buenos Aires a primeira informação que recebemos dos Serviços de Migração é que deviamos regressar no mesmo avião, porque “o vosso país apoia os MONTONEROS (um movimento argentino de oposição social) e aqui quem apoia os “montoneros” não é benvindo”. Ao aperceber-se disso Fernando colocou-se à frente da fila. Aí o agente reconheceu-o e timidamente perguntou ” … Adrião, el mejor patinador del mundo ?”. Sim, era ele mesmo. A partir daí tudo virou a nosso favor. Este o lado de figura pública internacionalmente reconhecido, deste Fernando Adrião, que hoje já é memória.
Um abraço.
João de Sousa (2006-01-11)