15 de agosto de 1970… Acidente que vitimou Néne
O luto envolveu a Académica faz hoje dia 15 de agosto, 53 anos. Era sábado. Numa viagem noturna, entre Coimbra e a Figueira da Foz, no lugar de Santa Eulália, não longe de Montemor-o-Velho, o Morris Mini de Néne enfaixou-se frontalmente contra uma camioneta de entrega de peixe que vinha em sentido contrário. O jovem jogador da Académica, nascido em Madrid no dia 25 de agosto de 1949, falhou o seu vigésimo primeiro aniversário por dez dias. Estava de licença: cumpria o curso de sargentos milicianos nas Caldas da Rainha. Vinha divertir-se nesse fim de semana à Figueira da Foz. Encontrou-se apenas com a tristeza.
Jornal Notícias
Modesto Sousa Neves “Néne” e António Oliveira “Toni”
Para ti…NÉNE
Infelizmente somos o País da Europa onde há mais acidentes nas estradas… muitos com perdas de vidas.
Foi isso que aconteceu em 15/08/1970 quando o Morris Mini conduzido pelo NÉNE chocou de frente com uma carrinha que seguia no sentido contrário, na estrada que liga Coimbra á Figueira da Foz. Perto de fazer 21 anos MODESTO LUIS ORTIZ DE SOUSA NEVES (Mais conhecido por NÉNE) não resistiu aos graves ferimentos resultantes do acidente.
Hoje escrevo um pouco sobre ele, não só para os mais “velhotes” como eu lerem e se possível partilharem algum episódio que se lembrem deste nosso antigo e brioso atleta-estudante… mas também para os mais novos saberem um pouco sobre um dos maiores talentos (DE SEMPRE) que passaram pela BRIOSA… e que se calhar nunca ouviram falar !!!
Tal como eu, também o NÉNE jogou futebol em Moçambique…
Ano de 1963 – Juvenis do Desportivo L. Marques (GDLM)
de onde veio ainda com idade de júnior para Coimbra estudar e jogar pela Académica. Ainda nos juniores da BRIOSA chamou logo a atenção pelo seu belo pé esquerdo, pelas arrancadas e dribles… Em 15/12/1968 fazia a sua estreia oficial pelos seniores, não mais largando a condição de titular… tendo sido um dos escolhidos para jogar a célebre final da “TAÇA DE PORTUGAL” de 1969 no Jamor entre o Benfica e a Académica.
Logo no final dessa época começaram os convites para largar a BRIOSA e os estudos e abraçar o profissionalismo… que se estenderam na época seguinte (1969-70) onde foi considerado um dos melhores atletas a atuar no futebol Português, tendo sido chamado para representar a seleção de Esperanças de Portugal em dois jogos contra a Inglaterra.
Disputou também vários jogos internacionais pela BRIOSA entre eles os quartos-de-final da extinta “TAÇA DA TAÇAS” contra o Manchester City… em que perdemos o jogo nos instantes finais do prolongamento e no qual NÉNE foi considerado pela crítica desportiva um dos melhores jogadores em campo.
Os insistentes convites de um dos “grandes” (o Sporting) levou a que ele assinasse pelos leões… já depois de se ter comprometido por mais uma época pela BRIOSA o que na altura fez correr muita tinta. Nessa altura cumpria serviço militar num quartel nas Caldas da Rainha.
Segundo o depoimento de alguns antigos colegas da Académica, o jovem NÉNE vivia nos seus últimos dias amargurado e num enorme stress, pois por um lado custava-lhe muito abandonar Coimbra e a “sua” Académica por quem criara fortes laços afetivos quer a nível de colegas, dirigentes, adeptos, professores, etc …mas por outro lado estava o Sporting que lhe oferecia muito dinheiro, o que poderia proporcionar outro tipo de sonhos.
Foi então que se deu o acidente que vitimou o jovem NENÉ.
Na altura recebi a notícia pela rádio (não havia TV em Moçambique) tinha eu os meus 12 anitos e já era adepto da Académica… fiquei chocado porque ele era um ídolo para mim e para muitos outros Moçambicanos. Os próprios familiares mais chegados do NÉNE também viviam naquela antiga colónia portuguesa e na altura o drama foi muito grande segundo a imprensa local. Já para não falar o que se passou em COIMBRA logo que se soube do acidente… estendendo-se ao resto do País.
Depois começaram a circular outro tipo de notícias que um “puto” como eu não conseguia entender… entre eles o corte de relações Académica/Sporting… etc. etc. etc… Mas isso agora não é importante escrever… o importante foi uma vida tão nova que se perdeu… um jovem que segundo quem teve a felicidade de conviver com ele era uma JÓIA de pessoa, amigo do seu amigo… e claro um CRAQUE com a possível chamada à seleção A de Portugal ali tão perto !!!
Por isso hoje dedico esta minha publicação ao NÉNE um dos meus ídolos de juventude.
Nota: A fotografia original no topo que hoje publico foi-me oferecida pelo ANTHONY DE SOUSA NEVES que é sobrinho do falecido NÉNE, e que conheci através do site “OS INDEFETÍVEIS AMIGOS DA ACADÉMICA”. Através deste magnífico site de adeptos da BRIOSA tive a felicidade de conhecer alguns bons amigos e o ANTHONY é um deles. Nesta fotografia que ele me ofereceu o NÉNE está ao lado do TONI (outro craque que também deixou muitas saudades em Coimbra).
7 Comentários
Jotabarra
NÉNE
Modesto Luis Ortiz de Sousa Neves, conhecido no mundo do futebol como Néne, nasceu em Espanha, mas tinha nacionalidade portuguesa. Iniciou a sua carreira em Moçambique, ao serviço do Desportivo de Lourenço Marques, e ainda muito jovem, veio para Coimbra, para estudar, tornando-se num atleta-estudante da Académica, que ainda vi jogar.
Neste dia, há 53 anos, morreu num trágico de automóvel, quando era uma das maiores promessas do futebol português, que despertara muito interesse de outros clubes, como, por exemplo, o Real de Madrid ou o Sporting de Lisboa.
O deu-se um pouco para lá da povoação de Quinhendros, em um lugar chamado Ferrestrelo (ainda estrada velha, a nacional 111), aquém das pontes de Maiorca, na estrada para a Figueira da Foz, conduzia ele num Cooper S.
Alguém defendeu tempos depois que tinha assinado horas antes pelo Sporting e fugia com vergonha de Coimbra e dos seus sócios e adeptos. Era mentira, pois ia para a Figueira, mas fugindo dos dirigentes do Sporting que continuavam a pressioná-lo para que assinasse um contrato.
Em consequência a Académica de Coimbra cortou relações com o Sporting, porque também alguém do Sporting, com carreira militar, já tinha tentado fazer chantagem com ele, ameaçando-o de o mandar para a guerra do Ultramar, se ele não assinasse por este clube de Lisboa. Daí o estado transtornado em que andava por esses dias.
A propósito, o foi devidamente documentado e esteve em exposição na Foto Hilda, em Coimbra.
Finalmente. Um desta natureza chama-se homicídio involuntário, no mínimo.
O resto é poeira, o mesmo branqueamento de sempre, a que Coimbra e a Briosa estão periodicamente sujeitas pelos adversários com palas, para quem vale tudo, incluindo , que costumam aparecer apenas no último jogo dos campeonatos em que a Académica vai subir de divisão.
Se queremos uma BRIOSA a sério talvez este momento de homenagem e saudade seja uma oportunidade única para sermos quem devemos ser – beirões, coimbrões, coimbrinhas – mas nunca meias-tintas, tipo daqueles que vão ao estádio e são capazes de vestir a capa e batina enquanto pegam numa bandeira de um dos três .
Grandes e diferentes somos nós, porque a Académica continua a não ser um clube, mas uma causa, que apoiamos não apenas para a ver ganhar, mas, no essencial, para lhe mostrar como gostamos dela. Mas, isto é impossível de compreender por essa outra gentinha colorida e com a espessura intelectual de fiambre da perna extra; e para esses, lamento, mas só me resta dizer que não perco tempo com caixotes de lixo ensanguentados
Manuel Martins Terra
Um trágico acidente de viação, tirou a vida a um dos melhores futebolistas da sua geração, e que como estudante militava na grande Académica de Coimbra, equipa de futebol do agrado de quase todos os porugueses, que a tinham como a sua segunda equipa. Não me esqueço, que estava na Catembe a ouvir o relato do Sporting Clube de Portugal, a jogar frente à Académica de Coimbra, quando o Nene com uma atuação soberba rubricou um hat-trik, que derrotou os anfitriões por O-3, resultado memorável. A partir deste momento, o SCP, nunca mais largou o Nene, e que se afirmava na praça pública ter já assinado um contrato-promessa, algo que doravante foi sendo badalado, até que infelizmente aconteceu o pior ao Nene, num período de muitos sonhos. Por estebfacto, o SCP e a AAC, estiveram muito tempo de relações cortadas.Hoje passados, 53 anos, resta- nos a eterna saudade, de um fabuloso futebolista, de quem o futebol português tanto esperava. Que Deus, te tenha junto de ti.
nino ughetto
E é assim a vida ! Tudo passa tudo acaba… Saudades sem fim desse atleta como de tudo que vivemos em Moç. terra dos nossos coraçoes. Que Deus o tenha no seu reino. Paz a todos saudose Pais
António José Correia de Almeida
Conheci muito bem o Néne foi meu colega de infância embora dois anos mais velho que eu andamos os dois na mesma escola em Ressano Garcia ( Moçambique ) frequentei a casa dele enquanto andei na escola de Ressano Garcia,os meus pais eram amigos dos pais dele.O pai Sr. Sousa Neves era chefe de estação dos correios de Ressano Garcia e a mãe Sra. Dona Eduardita de origem espanhola era uma sra. extraordinária.Quanto ao Néne era um rapaz extraordinário embora ainda miúdos mas era sempre amigo do seu amigo.Fiquei muito chocado quando tive a notícia do falecimento dele.
Descansa em Paz Néne e um dia nos encontraremos para recordar os nossos tempos de criança.
Rodolfo Rodrigues
Amigo, colega de escola e brincadeiras de bola nos intervalos das aulas.
Ainda me lembro da minha tristeza quando soube do que lhe aconteceu. Já estive no local do acidente….
Saudades que o Néne deixou, por tudo.
Francisco de Noronha e Távora
O saudoso NENE foi um jogador de futebol (da Académica), excepcionalmente fabuloso, dos finais dos anos 60’s, com um remate final forte e certeiro, pelo que, também era conhecido, em certos meios desportivos, como o “Eusébio Branco”…
Na altura do seu infausto e inesperado accidente de viação que lhe foi fatal, dizia-se que já tinha um pré-contrato com o Sporting Clube de Portugal.
Que continue a repusar na Paz do Senhor, lá pelas terras do Índico (esclareça-se que o seu segundo, e último, funeral se realizou na então cidade de Lourenço Marques).
josé carlos alves da silva
Eu era um miúdo sempre ligado ao desporto nacional, mais basquete do meu Moçambique. Ouvia com o meu Pai relatos dos jogos futebol da Metrópole, e este Néné era mesmo um Sr craque, imprensa comparava ao Simões, outro craque. Soubemos pela EN emissora nacional e jornais este trágico acidente. Descansa em Paz. Até um dia. Amém