“UMA DATA NA HISTÓRIA” – 15 de Março de 1966… Trigo de Morais
A Tribo de Trigo de Morais
O Eng. Trigo de Moraes, o homem que, nos anos sessenta, concebeu e chefiou a construção do sistema de regadio do Vale do Limpopo, em Moçambique, é, ainda hoje, homenageado pelas populações locais, mais de cinquenta anos depois da sua morte. Todos os anos, antigos trabalhadores prestam homenagem a Trigo de Morais, em rituais negros, cantares e missas na campa onde o seu corpo está sepultado por vontade própria. Num lugar onde antes havia uma árvore, à sombra da qual Trigo de Morais esboçou os primeiros projetos da barragem do Limpopo.
Não deixes de ver o vídeo seguinte:
António Trigo de Morais, nasceu em Samões, Vila Flor, Portugal, em 1895.
Formou-se em Engenharia Civil pelo Instituto Superior Técnico em 1918.
Desempenhou o cargo de engenheiro nos Caminhos de Ferro do Sul e Sueste, e foi professor na cadeira de Topografia e Construções no Instituto Superior de Agronomia.
Em 1921, partiu para Moçambique, para analisar os Rios Búzi e Limpopo, cujo estudos apresentou em 1925; em 16 de Junho do ano seguinte, apresentou, na Sociedade de Geografia de Lisboa, uma conferência sobre a hidrografia de Moçambique, onde introduziu uma proposta para o aproveitamento agrícola do Rio Limpopo. Por ordem de Manuel Moreira da Fonseca, então Governador-Geral de Moçambique, elaborou um estudo sobre o Vale deste rio, que foi, em 1927, recomendado pelo Conselho Superior de Obras Públicas e Minas. Este plano previa a construção de uma barragem a 23 quilómetros a montante de Guijá, o que permitira a irrigação de 29 mil hectares na margem direita, entre este distrito e Mianga; pela barragem, iria passar a planeada linha do caminho de ferro entre Lourenço Marques e a Rodésia. Foi nomeado, em 1933, como presidente da Junta Autónoma de Hidráulica Agrícola, e, em 1936, como diretor-geral do Fomento para o Ultramar.
Regressou, posteriormente, a Portugal, onde permaneceu durante cerca de 14 anos, tendo executado várias obras, proeminentemente na Ilha da Madeira. Em 1942, tornou-se membro da Câmara Corporativa, tendo permanecido nesta função até à sua morte.
Em 1946, levou a cabo uma missão de estudo sobre o Vale do Rio Cunene em Angola, tendo também planeado a Barragem de Matala; três anos depois, tornou-se Diretor-geral dos Serviços Hidráulicos, e, em 1951, assumiu a posição de Subsecretário de Estado do Ultramar, durante a qual planeou o Primeiro Plano de Fomento para o Ultramar.
Em Outubro do mesmo ano de 1951, representou o Governo Português na assinatura de um contrato para o fornecimento de vagões para os Caminhos de Ferro de Moçambique. Foi, igualmente, presidente do Conselho Superior de Fomento Ultramarino do Ministério do Ultramar.
Em 1953, deixou o governo, sendo nomeado inspetor-geral do Fomento de Ultramar, com a função de supervisionar as obras de irrigação nos vales dos rios Limpopo e Cunene, a construção das barragens de Matala e Biópio, em Angola, e a organização da Brigada Técnica de Fomento e Povoamento do Vale do Limpopo, cujo propósito era instituir um colonato com o mesmo nome; apesar das várias dificuldades técnicas e financeiras, conseguiu levar a bom termo estes empreendimentos.
Foi acompanhado, após a sua morte, no dia 15 de Março de 1966, na cidade de Lisboa, pelo presidente Américo Tomás e por António de Oliveira Salazar; os seus restos mortais foram, no dia 20 de Março, transportados para Lourenço Marques, em Moçambique, tendo sido, segundo a sua vontade, enterrados no cemitério da Aldeia da Barragem, no Colonato de Limpopo.
A cidade de Chokwé, em Gaza, tinha anteriormente o seu nome: Vila Trigo de Morais.
Fonte: Texto e fotos retirados com a devida vénia do blog The Delagoa Bay de ABM e vídeo da RTP publicado por Fernando Gil
3 Comentários
A. Campos de Carvalho
Pequeno comentário: A “barragem” foi concebida, como mencionado nas plantas originais do projecto, como uma ponte-açude. No seu conceito original as comportas accionadas por braços que terminavam em “caixas flutuantes” agiam como reguladores de caudal e assim permitiam a alimentação por gravidade dos canais principais e, em seguida, dos canais secundários do regadio. Sendo Macarretane um regulador de caudal, os reservatóros que o deviam alimentar eram as barragens de Massingir e (ainda por construir) Mapai. Magnífico projecto de engenharia hidráulica.
Firmino Fonseca
O Engº Trigo de Morais foi um homem de visão, de iniciativa, que estava à frente do seu tempo! Foi, também por isso, alguém que deixou um legado muito importante nas Províncias Ultramarinas Portuguesas, nomeadamente em Moçambique! A sua obra jamais será esquecida!
ABM
Respeito.