“UMA DATA NA HISTÓRIA” – 25 de Fevereiro de 2014… Mário Coluna
O saudoso João de Sousa, ao escrever estas breves notas sobre Mário Coluna, lembrou-se duma frase que um dia lhe foi dita pelo seu antigo colega Machado da Graça:
retornei no sentido contrário”.
Foi o que aconteceu ao grande capitão. Veio de Lisboa para Maputo. Era o amor pela Pátria que falava mais alto.
A juntar aos muitos títulos conquistados, adicionou outro, quiçá com sabor muito especial: o de primeiro campeão nacional do seu Moçambique independente, como treinador de futebol do Grupo Desportivo e Recreativo do Textáfrica do Chimoio.
Época 1976 – Seniores do Textáfrica
1º Campeão Nacional República Moçambique
Em cima: Joaquim, Gabriel, Brenque, Ângelo II, Mocuba, Nazaré, Nota, A. Jorge, Baptista, Zé Luis, Mário Coluna (Treinador) e Matapa.
Em baixo: Norberto, Janeiro, Sebastião, Mussa, Ângelo, Djão, Zé Pedro e Tereso.
Mário Coluna, que contou histórias da sua trajetória ao serviço do futebol, nas muitas viagens que fez com JS, era, segundo escreveu Renato Caldeira, no jornal “O País”, um homem com um estilo em extinção. “Tudo nele era solene. O andar, o falar e até o comemorar. Ritmo morno, fala suave e lenta, mas incisiva.”
Filho de pai português e mãe moçambicana, o jovem Mário não demorou a mostrar grandes capacidades físicas e queda para o desporto. Em pequeno, era perito a trepar árvores para apanhar manga ou caju e, por isso, ouvia muitas reprimendas do pai, antigo guarda-redes e um dos fundadores do clube Desportivo de Lourenço Marques. E foi no Desportivo que Coluna abraçou o desporto.
No basquetebol não passou da equipa de reservas, mas surpreendeu no atletismo, tornando-se recordista nacional do salto em altura. Porém, a glória estava guardada para dentro das quatro linhas, para um avançado que, ainda adolescente, chamou a atenção dos três grandes clubes portugueses.
Tinha sido impedido de jogar pelo Desportivo de Lourenço Marques numa digressão à África do Sul, por causa das leis do “apartheid”, mas no duelo da segunda mão, em casa, vingou-se e marcou os sete golos da vitória da sua equipa. Nada mau para um miúdo de 17 anos. Tão bom que recebeu, pouco depois, uma proposta do FC Porto, seguindo-se o Sporting, que dobrou o valor da oferta, mas a vontade do pai e o facto do Desportivo de Lourenço Marques ser uma filial do Benfica traçaram-lhe o destino. E que destino.
Coluna definiu os pontos altos da sua carreira como sendo, quando ganhou o primeiro campeonato nacional e a primeira Taça de Portugal, pelo Benfica, a primeira vez que foi chamado a representar Portugal pela Seleção “B” e posteriormente pela Seleção “A”, e as vitórias sobre o Barcelona e Real Madrid, na Taça dos Campeões Europeus. Este e outros feitos de Mário Coluna estão documentados no Museu do Benfica.
Na última entrevista que deu em vida, (ao canal Benfica TV), Mário revelou algo que muitos desconheciam. A designação “Monstro Sagrado” foi-lhe dada por um “lagarto” de seu nome Artur Agostinho,
esse grande comunicador, homem dos mais variados relatos de futebol, das grandes tardes e noites desportivas, apresentador de programas de rádio e televisão e também actor.
No dia 5 de setembro de 2015, a Câmara Municipal de Mação prestou Homenagem Póstuma a Mário Coluna com a atribuição do seu nome ao Polidesportivo do Cerejal.
Mário Coluna foi grande, porque nunca reclamou a grandeza que tinha.
Do “Monstro Sagrado” fica um momento de tristeza, refletido num pronunciamento feito à margem duma conferência de imprensa que serviu para efetuar o lançamento da “Gala Mário Esteves Coluna”:
Convidaram-me para ser membro do Partido Frelimo e deputado da Assembleia Popular. Aceitei. Atribuíram-me a Ordem Eduardo Mondlane do Terceiro Grau, a mais alta condecoração do Estado, mas não se recordam em devolver o meu prédio, que comprei com dinheiro do futebol. Nasci em Magude e depois vim para Lourenço Marques aos 4 anos. Quero fazer chegar ao meu Governo que voltei para Moçambique porque nasci aqui. Sou bem-vindo no Benfica de Portugal, com direito a casa e dinheiro, mas preferi voltar para a minha terra”.
Mário Esteves Coluna faleceu a 25 de Fevereiro de 2014. Faz hoje 8 anos que nos deixou fisicamente.
Fonte: Arquivo do BigSlam – Texto de João de Sousa adaptado.
4 Comentários
Manuel Martins Terra
Era este grande capitão, que fazia falta ao SLe Benfica, de hoje. Mario Esteves Coluna, foi um dos maiotes simbolos do SLB, e do futebol português. Um verdadeiro senhor, no mundo do futebol. Que esteja na paz do Senhor,
Paulo Almeida
Paz á sua alma.
Augusto Martins
Paz à sua alma e o meu obrigado pelo seu exemplar desportivismo.
José Rodrigues
Grande Capitão, espalhou classe por essa Europa.
Impunha facilmente a sua autoridade e liderança, deveria ser ele a erguer o troféu de campeões do mundo e Inglaterra (1966) mas os dirigentes da FPF venderam-se aos ingleses, revelando falta de ambição e pequenez de pensamento.
O choro do Eusébio no final do jogo com a Inglaterra também demonstra essa incompreensão e revolta.
Notável o seu golo na primeira final da taça dos campeões ganha pelo Benfica.
Paz á sua alma.