“UMA DATA NA HISTÓRIA” – 26 de Janeiro de 2019… Comendador José Arruda
Quando foi estudante e depois escuteiro lá para os lados da Polana, e quando depois foi desportista de eleição, tendo para o efeito dedicado uma grande parte da sua juventude e adolescência ao seu Desportivo de L. Marques e ao basquetebol em particular, o amigo Zé Arruda nunca pensou que alguma vez poderia ser chamado de “senhor comendador”.
Época 1968/69 – Seniores do GDLM
• Campeão Provincial Moçambique • Vice-Campeão Nacional
Em cima: Francisco Marques (Treinador), Aurélio Vaz, Fernando Alves, Manuel Lima, João Vicente “Pinduca”, Paulo Carvalho, Flávio Morgado, Rui Ferreira (Dirigente).
Em baixo: José Cruz, José Lopes, José Arruda, Carlos Alemão, Pedro Barjona, Machado (Massagista).
Quem o conheceu sabe que ele não faz gala disso. Nem tão pouco se importa com as honrarias que tal designação lhe possa oferecer.
Não é nem nunca foi daquele tipo de pessoa que se incha (como muitos que circulam por aí) só porque lhe atribuíram uma função, um cargo ou outra coisa qualquer. Não gosta nem nunca gostou de demonstrar os seus dotes, ou de se gabar em público (gabarolas é o que há por aí aos montes), inventando histórias sobre coisas que fez ou deixou de fazer.
No amigo Zé a simplicidade é uma palavra sagrada. Foi assim que sempre o conhecemos.
Ele sempre soube o seu nível de responsabilidade. E essa responsabilidade foi sendo construída quando, um desaire na vida lhe provoca danos físicos, em pleno período do cumprimento do seu serviço militar.
A deficiência visual e a ausência dum braço, nunca foram impeditivo para que o amigo Zé se dedicasse, de alma e coração, aos projetos que sempre abraçou e executou com abnegação e saber.
Na Associação dos Deficientes das Forças Armadas (em Portugal), onde desenvolveu a sua atividade como Presidente desta Instituição, o “laurentino” Zé é um caso raro de mérito, de trabalho, de persistência, de competência e de amor pelo próximo, como diria o José da Costa “Casquinha”, um dos seus grandes amigos e companheiros do basquetebol de tempos bem recuados.
Este Zé Arruda de que vos falo, que infelizmente já não está fisicamente connosco, faleceu no dia 26 de Janeiro de 2019. Faz hoje três anos.
Em 2016, o Zé Arruda marcou uma vez mais presença no convívio que o José da Costa “Casquinha” realiza todos os anos, no período de verão, na sua casa de campo do Algarve. Nesse convívio também esteve presente o João de Sousa e o Mário Machado que infelizmente também já não se encontram entre nós. Mas há algo que nós sabemos: Os verdadeiros amigos nunca morrem!
Fonte: Arquivo do BigSlam – Texto de João de Sousa adaptado.
5 Comentários
João Marino Gomes
O Arruda, como nós o chamávamos foi meu amigo e colega no 3º ano da Escola Comercial Dr. Azevedo e Silva. Sentavamos lado a lado na mesma carteira de dois alunos.
Em Lisboa vi-o em vários eventos em que esteve presente e ia sempre cumprimentá-lo. Quando o via, ia ter com ele, cumprimentava-o e ele sempre me reconheceu pela voz, dizendo o meu nome Marino , o que me deixava muito sensibilizado.
Foi para mim um grande abalo quando soube da triste notícia do seu desaparecimento e estive presente no último adeus.
Que descanses em paz, meu amigo Arruda
Florentino Ferreira
Grsnde homem, não há palavras que possam descrever o que foi o Zé..
academica69@yahoo.com
Tudo o que disser sobre o Nosso Zé ou escrever, será sempre curto, foi um Humanista e solidário de eleição e um sere Iluminado que quando em vez Deus nos envia.
Sobre o Homem e a Obra, quem quiser saber um pouco mais, sugiro que leiam o Livro: José Arruda – O Paladino da Liberdade.
A Amizade pode ser uma circunstância, e essa sorte, ainda que acidental, foi-se construindo no Hospital Militar Principal no famoso Anexo sedeado na Rua Artilharia Um em Campolide, nos meados de anos 70 do século XX..
Em LM, ainda que estudantes na Escola Comercial Dr. Azevedo e Silva, a idade fazia a diferença, e por outro lado, éramos antípodas, ele atleta do Desportivo e eu do Malhangalene, como sabem dava faísca.
Foi, pela mão dele que fui parrar na ADFA (Associação dos Deficientes das Forças Armadas), primeiro como suplente dele na qualidade de Conselheiro Nacional, e mais tarde como Conselheiro Nacional e Presidente do Conselho Fiscal e ele o Presidente da Direção.
Foi nessa circunstância que descobrimos que éramos ambos “magaízas” nascidos no Concelho de Sabié ele em Boane e eu em Ressano Garcia, e desde esse momento aconteceu a construção de uma Amizade natural de cumplicidades e admiração mútua.
Como ele gostava de tratar-me como “Dr. Katali – Muçulmano Humanista”, neste momento faço a tradicional súplica que os Muçulmanos devem a seus entes familiares irmãos/ãs em Fé falecidos:
Que ALLAH SWT (Deus é que sabe melhor) proporcione Jannat Firdous (O Paraíso do mais elevado grau) e Sabr (Compaixão e paciência) a todos os familiares. Ameen, Suma Ameen (Infinitamente Ámen).
Paulo Carvalho
O Zé Arruda, está bem descrito neste artigo!
Foi meu colega de equipa nos Juniores do Desportivo e depois, também nos seniores. Ele passou de um quase desconhecido jogador nos Juniores, para um influente “distribuidor de jogo” nos Seniores, onde era fundamental à equipa. Defendia muito bem, tinha excelente visão de jogo quando atacava, e era certeiro nos lançamentos. Acima de tudo, era o galvanizador do grupo, dada a alegria e a garra com que jogava. Por vezes, quando concretizávamos um lançamento, ele pulava como se tivéssemos conseguido um golo no futebol…
Como colega de equipa e como amigo, foi sempre exemplar!
Aproveito contar uma peripécia, da qual não me esqueci: Eu sabia que na casa do Zé, havia uma boa carilada para o almoço no Sábado em que estava marcado um jogo contra o nosso rival, o Sporting. Eu, sem que tivesse sido convidado, apareci na sua casa, pouco antes da refeição naturalmente, para participar nela. Colocaram mais um prato e, como o caril correspondeu às minhas expectativas, e estava a chover, pensei que a partida não se iria realizar, porque estava marcada para o campo descoberto do Desportivo. Então, como ainda por cima, no dia seguinte logo de manhã, regressaria a Vila Cabral, onde estava a cumprir o serviço militar, não me poupei a comer, tendo repetido mais do que uma vez o caril que a Dona Luisa (mãe do Zé), tão bem cozinhou.
No entanto, um grupo de sócios a meio da tarde limpou, tendo conseguido secar o campo e, como não voltou a chover, o desafio realizou-se. Eu devia estar com pelo menos um Kilo a mais mas, como era magro, não fez diferença.
Era um Sábado de Carnaval, do ano de 1969. Conseguimos ganhar pelo resultado mais desnivelado dos jogos que fiz contra o Sporting. Foram 37 pontos de diferença.
Por isso, foi uma recordação feliz que perdura, não só, pela vitória conseguida, mas também pela saborosa carilada, que julgo que foi de caranguejo, a qual muito apreciei, na casa do amigo Zé Arruda! Se não tivesse ido para o Norte de Moçambique, muito provavelmente, continuaria a “aparecer” para almoçar, aos Sábados!
jose alexandre russell
Verdade, verdadinha. Os verdadeiros amigos, nunca morrem. Este artigo diz tudo quanto ao ser humano Zé Arruda. Que o seu exemplo perdure. Paz à sua alma.