“UMA DATA NA HISTÓRIA” – 29 de Setembro de 1926… Artur Garrido
Uma noite Artur Garrido entrou na “boite” Zambi”, gerido na época pelo Alexandre Barbosa. Com aquele seu jeito próprio de andar, passos curtos mas firmes, olhando para as pessoas de frente, sempre com aquela amabilidade e educação que foram suas imagens de marca, cumprimentando conhecidos e amigos de mesa em mesa, mantendo uns minutinhos de conversa aqui e acolá e eis que de repente um dos frequentadores assíduos do local, sentado ao balcão onde consumia cerveja e se contentava com uma sopinha, já ligeiramente “tocado” por força das “Laurentinas” (passe a publicidade) ingeridas, anuncia com aquela voz roufenha para quem quisesse ouvir a chegada do “Mr. Stangers in The Night”.
Manda a verdade dizer que Artur não era nenhum estranho da noite, porque, a noite preencheu uma importante parte da sua vida. Cantava e animava as pessoas numa altura em que nem se pensava nessa coisa moderna chamada “playback”, sistema que leva bastas vezes os cantores a cometeram fífias de arrepiar conhecidas pela designação de “tchatchar”.
Aquele era o tempo onde os cantores se faziam acompanhar por um conjunto musical. Hoje, porque os tempos são outros e salvo raríssimas exceções essa prática já se perdeu. Até nos bailes que a “Pobreza” promovia, porque por causa da pandemia, muitas coisas ficaram adiadas, juntando pessoas das décadas de 60 e 70, o recurso na maior parte das vezes era ao já famoso e badalado DJ Sérgio Canaveira, um dos veteranos animadores de bailes, que nos transporta aos salões onde antigamente se dançava a valsa, o bolero, o Chá-chá-chá, o twist, o samba, a marrabenta e por aí fora.
Que me lembre o Artur Garrido sempre cantou com um conjunto. Ainda me recordo (era eu um mufana mas já com a mente artilhada para a radiodifusão) das noites de domingo abrilhantadas pelo conjunto de Renato Silva, no auditório do então Rádio Clube de Moçambique.
O Artur era o vocalista, o Renato, que dava o nome à banda, cuidava dos teclados, o Boni brilhava no Xilofone, o Eduardo Pereira (foi operador técnico do RCM) na bateria sendo que nos misteres das baquetas foi brilhante também o Gouveris, actualmente a residir pelas terras de Ressano Garcia. E foi com este grupo que acabou por gravar um single, com a etiqueta “Bayly”, do qual ressalta “Hambanine”, um bolero com letra e música do maestro José Queirós, por sinal um dos meus professores de canto coral no Liceu Salazar.
Dos conjuntos que acompanharam Artur constam os “Irmãos Dinis”, bem como os diferentes grupos que foram liderados pelo saudoso Edmundo Luís Gomes, popularmente conhecido no meio artístico por Mundinho.
Apaixonado pelo jazz recorda-se da sua integração como vocalista principal duma orquestra dirigida por Hélder Martins, um maestro que conseguiu transformar uma banda militar num grupo de jazz, que se apresentou nos anos 70, no Cinema Dicca da então cidade de Lourenço Marques, em dois espetáculos.
Artur Garrido nasceu a 29 de Setembro de 1926. Comemoraria hoje 95 anos de idade.
Fonte: Arquivo do BigSlam – Texto de João de Sousa adaptado.
9 Comentários
ruiaosorio@gmail.com
Como haveria de esquecer este famoso grupo que tanto animou a nossa adolescência?! Oh tempo volta para trás. Saudades.
José Carlos de Matos Viegas
Artur Garrido fez parte da minha infância a ouvi-lo cantar, nos Velho Colonos acompanhado pelo conjunto de César Dinis etc.
Na minha modesta opinião, a melhor voz de sempre entre os melhores em Moçambique.
Merece ser recordado com todo o direito como o “Mr. Strangers in The Night”.
Augusto Martins
Após a leitura que acabei de fazer desta maravilhosa e pormenorizada descrição de uma época e local em que também vivi, consegui recuar no tempo e vivi, de novo, as situações, as pessoas, os odores, as caras e o calor humano e fraterno da minha (nossa) inesquecível adolescência.
Que bom!
Só tenho pena de não conseguir saber da situação actual do GARRIDO. Pela minha memória, julgo que ele continua entre nós e, por isso, quero dar-lhe os parabéns, desejando que tenha muita saúde e que nos dê a felicidade de podermos continuar a celebrar os seus aniversários, ainda durante muito anos.
A sua presença entre nós continuará, enquanto houver alguém a cuja memória ocorra uma das situações em que ele tenha tido intervenção.
Um grande abraço.
MARIA MANUELA ANTUNES GALVÃO DE ALMEIDA
Hoje é dia de Festa no Céu para Artur Garrido que com outros Artistas de Moçambique foram estrelas brilhantes!Parabéns e Kanimambo Artur Garrido!
Cândido Ramiro Filomeno do Carmo Azevedo
Relembrar Garrido, Zambi, Renato Silva, e todas estas bandas é relembrar a minha juventude, é relembrar a OBRIGATORIEDADE imposta pelos meus pais de ACOMPANHAR as minhas 4 irmãs aos locais de dança públicos por elas escolhidas e onde estas bandas todas tocavam, IMPEDINDO assim de eu ir a uma série de “parties de garagem” local muito mais pequeno, com muito pouca luz e muito mais romântico e reservado, e onde previamente combinado as “bifas” em férias na LM ou a namorada do momento aguardavam por nós, jovens dosdebutantes dos finais de 60 e onde se ouvia do “vinil” um sem número de canções românticas, umas atrás de outras, em séries bem montadas pelo DJ de serviço como o “Only You”, “Love me Tender”, “Je t´aime mois non plus”, “Eu te darei o céu”, Ciao Amor Ciao,quais brasas para atear as “setas em chama do Cupido”, após uns bons copos do “cup” com mais álcool que fruta. Havia que reinar o mais possível, pois pouco depois viria a ida para o Norte, zona de dias roxos e noites de silêncio escuro.
Maria Irene Paiva
Bem Interessante o que nos conta… 👍🏼 Conheço o sentimento, Sou dessa época, também! Saudações.
josé carlos alves da silva
Lembro de ouvirem falar deste Artur Garrido, do conjunto Renato Silva, do Oliveira Muge, do Gabriel Chiau, e muitos mais. Meus Pais falavam muito destes fenómenos. Esteja onde estiver, meus Parabéns, Paz à sua Alma, que Deus o proteja.
BigSlam
Recordando Artur Garrido o “Mr. Stangers in The Night”.
Olivia Garrido
Obrigada Samuel por este artigo, cheio de boas e saudosas recordações do meu querido pai .