Cristiano Ronaldo e Lebron James: A importância do treino invisível na valorização, sucesso e longevidade dos atletas
Cristiano Ronaldo e Lebron James são os melhores exemplos de desportistas de sucesso, ao mais alto nível, nos dois desportos colectivos mais mediáticos à escala planetária (futebol e basquetebol).
Ambos nascidos em 1984, o futebolista numa ilha atlântica (Madeira) e o basquetebolista em Akron, pequena cidade do estado do Ohio (USA), tiveram uma infância difícil na qual as mães desempenharam um papel fundamental. Gloria James tinha apenas 16 anos quando Lebron nasceu tendo o pai abandonado a família.
Foi uma luta constante e uma vida dura para a jovem mãe que sozinha teve que cuidar do filho trabalhando em condições precárias para fazer face a tão difícil situação. A principal preocupação da mãe foi a de manter o filho ocupado depois das actividades escolares (fora da violência das ruas) com a oferta de uma bola de Basket e o seu encaminhamento para os treinos da equipa da escola. Por sua vez, Dolores Aveiro, mãe de 2 meninas e 2 rapazes, sendo Cristiano o benjamim do clã, nunca virou as costas ao trabalho e no apoio ao agregado familiar.
Assumiu muito cedo a liderança em casa sendo, por essa razão, considerada uma mulher de armas. Para além de ser uma mãe excepcional foi sempre a melhor conselheira do filho, tendo acompanhado de muito perto a sua carreira profissional.
Cristiano foi, de certa maneira, um produto do futebol de rua, passando posteriormente para o futebol juvenil ao nível federado, que o encaminhou ainda muito jovem, para a Academia de futebol do Sporting Clube de Portugal. A sua disponibilidade motora, habilidade natural e velocidade de execução aliados à constante auto-motivação de ser cada vez melhor praticante fez com que, após o 6º ano, os estudos fossem relegados para segundo plano (com o consentimento familiar) para se dedicar, exclusivamente, à sua grande ambição: enveredar pela carreira de jogador profissional de futebol. Pelo seu lado, LeBron começou a dar nas vistas nos torneios escolares em representação do High School local (S. Vincent- St. Mary) por força da sua estatura (2,03m), capacidade física e dos imensos argumentos técnicos que lhe permitiam jogar em qualquer posição. Como consequência das suas grandes exibições nos campeonatos estaduais do desporto escolar foi nomeado, por 3 vezes, Mister basquetebol do estado de Ohio, conseguindo assim, granjear enorme reputação a nível nacional e ser considerado, desde logo, um forte candidato a ingressar directamente (sem actuar nos campeonatos universitários) numa equipa da NBA.
Nesta fase das suas vidas, ambos já se tinham apercebido que para alcançar os objectivos que se propunham, ser jogadores profissionais na respectiva modalidade, havia muito trabalho de casa (treino invisível) para fazer e que a sua concretização não passava, exclusivamente, pelos treinos regulares das respectivas equipas. Para além do trabalho específico de ginásio, era fundamental uma alimentação adequada, assim como uma vida regrada (nada de tabaco, álcool, drogas e noitadas). A única maneira para atingir o patamar seguinte implicava o cumprimento rigoroso destas regras, pois eles queriam ser os melhores entre os melhores o que obrigava à realização de alguns sacrifícios que, mais tarde, se tornariam em hábitos saudáveis.
O passo seguinte, foi a transferência de Cristiano para o Manchester United da Liga Inglesa
e o recrutamento de James pelo Cleveland Cavaliers da National Basketball Association.
Eram os primeiros passos nas melhores ligas profissionais de clubes de alta competição a nível internacional e a concretização de um sonho de rapazes. Daqui em diante, através de muito trabalho, dedicação, perseverança e profissionalismo dos dois atletas, a sua evolução, como excelentes praticantes, foi-se sistematizando e os resultados aparecendo progressivamente com novas conquistas pessoais e colectivas. No futebol, Cristiano foi-se enquadrando na organização do Manchester United e adaptando à preparação física e técnico-desportiva seguida nos grandes clubes profissionais do futebol inglês. Embora, as condições atmosféricas e as competições desportivas fossem mais exigentes que em Portugal, essa mudança não o atrapalhou em nada devido à sua enorme força de vontade de mostrar serviço no seu novo clube. Entretanto, foi aperfeiçoando a sua maneira de interpretar o jogo, conquistando espaço e tempo de actuação na equipa principal. Na NBA a música é outra, pois não se trata de uma verdadeira liga nacional, mas sim de uma liga internacional, onde somente os melhores praticantes a nível mundial têm assento e, por esse facto, a selecção dos atletas passa por critérios muito exigentes. No entanto, dar o salto directamente duma equipa do High School (ensino secundário) para uma formação da melhor competição de basquetebol do mundo, só é possível para alguns predestinados, como era o caso de James.
No período entre 2003 e 2009, ao serviço do Manchester United, embora sendo ainda muito jovem, Cristiano contribuiu de forma decisiva para a conquista de diversos títulos tais como: Taça de Inglaterra (2003-04), Taça da Liga (2005-06), Premier League (2006-07), Super Taça de Inglaterra (2007), Premier League (2007-08) e Liga dos Campeões (2007-08).
Por sua vez, Lebron como principal referência do Cleveland Cavaliers (2003-2010), logo na sua primeira época (2003-04) foi eleito novato (rookie) do ano e, na época de 2006-07, liderou a sua equipa até às finais do playoff da NBA, tendo sido derrotado por 4-0 pelo San Antonio Spurs. Nas épocas de 2008-09 e 2009-10 foi eleito o melhor jogador da fase regular do campeonato ajudando o Cleveland Cavaliers a conseguirem mais de 60 vitórias em cada uma das referidas épocas.
Ambos estavam no bom caminho, mas a sua ambição era ir mais além, tinham outros desafios e outras conquistas em mente, pelo que na primeira oportunidade que surgisse dariam o ambicionado salto no desconhecido, na procura de situações novas e aliciantes que contribuíssem para a sua valorização pessoal, afirmação do seu enorme talento e satisfação do próprio ego. A mudança de CR para o Real Madrid e de LJ para os Miami Heat, onde se iriam juntar a outros nomes famosos das respectivas modalidades desportivas, proporcionou-lhes um outro leque de novos desafios e oportunidades de conquistas colectivas, que íam exactamente ao encontro dos seus sonhos de criança, bem como a satisfação de ambições desportivas e financeiras ao nível das super estrelas. E o sonho tornou-se realidade, um desfecho justo e compensatório para dois atletas talentosos que tinham investido todo o seu esforço e dedicação, através duma entrega sem limites, num percurso de vida difícil e de desgaste rápido escolhido quando ainda eram crianças.
Enquanto jogador do Real Madrid (2009-2018), Cristiano teve a oportunidade de mostrar todas as suas qualidades ajudando a conquistar em termos colectivos: 4 Ligas dos Campeões, 2 Ligas de Espanha, 3 Mundiais de Clubes, 2 Copas do Rey, 3 Supercopas da Europa e 2 Super Copas de Espanha a que se juntaram a título individual: 5 Bolas de Ouro, 3 Prémios UEFA como melhor jogador Europeu e 3 Botas de Ouro.
Se acrescentarmos a este palmarés os 450 golos marcados em 438 jogos, entendemos que realizou um percurso desportivo notável em terras de nuestros hermanos e a nível internacional sendo, por isso, considerado o melhor jogador de sempre da história do Real Madrid. Com a selecção nacional de Portugal foi campeão europeu e é recordista de golos marcados e jogos efectuados.
Entretanto, LeBron, em quatro anos em Miami (2010-2014) na companhia de Dwyane Wade e Chris Bosh (internacionais USA) liderou os Heat à conquista de dois títulos da NBA (2012 e 2013). O seu contributo foi de tal maneira decisivo, na obtenção destes dois campeonatos que acabou por ser eleito MVP (Most Valuable Player) da época regular e das finais da NBA. Em 2014, decidiu voltar ao Cleveland Cavaliers com a promessa de conquistar o título da NBA com a equipa do seu estado natal (Ohio). Assim, em 2016, o prometido foi cumprido, com a colaboração de outros dois excelentes internacionais norte americanos, Kyrie Irving e Kevin Love. A formação liderada por James conquistou o título da NBA, após uma série final de playoffs em que estavam numa situação desfavorável (1 vitória e 3 derrotas) em confronto com os Golden State Warriors e, num volte face surpreendente, nunca antes acontecido na história da competição, alterar o desfecho final para 4-3. Acresce que Lebron James também foi campeão olímpico com a selecção nacional dos EUA nos JO de Pequim-2008 e Londres-2012.
Terminada a época de 2017-18, e após alguns desabafos públicos de alguma insatisfação, quer de Cristiano Ronaldo, quer de Lebron James, face à ausência de projectos aliciantes nos respectivos clubes que fossem novos desafios e motivação extra para estes dois extraordinários atletas, ambos procuraram novas paragens. Cristiano trocou Madrid por Turim (Juventus) e Lebron viajou de Cleveland para Los Angeles (Lakers) dando, assim, início a uma nova etapa das suas vidas de desportistas profissionais, não em fim de carreira como se apregoa aos sete ventos, mas sim uma etapa complementar de consolidação do seu incomensurável valor e exemplar comportamento de dedicação profissional. Esta afirmação tem por base o cuidado que ambos dão ao treino invisível, o que faz com que as respectivas idades fisiológicas sejam bastante inferiores às suas idades cronológicas. Não é por acaso que Cristiano Ronaldo e Lebron James são considerados os dois melhores jogadores a nível mundial no Futebol e Basquetebol e dos melhores atletas de sempre de desportos colectivos.
Eduardo Monteiro
3 Comentários
Paulo JF Craveiro
Obrigado Samuel Carvalho, pela oportuna partilha!
Obrigado Eduardo Monteiro, pelo oportuno e minucioso artigo!
Obrigado Cristiano Ronaldo, pelo exemplo do imenso querer!
Obrigado LeBron James, pela grandiosidade do imenso querer!
O invisível tornado exemplo, por um imenso querer de dois extraordinários e magnânimos desportistas!
Braga Borges
Curiosa, esta analogia. Se me permitem, e para enriquecer ainda mais, penso eu, este brilhante artigo, dizer-vos que ambos, CR7 e Le Bron James, e já agora também o pugilista Floyd Mayweather, submetem-se a um tratamento chamado, crioterapia. Neste caso os atletas fecham-se numa cápsula, ficando com a cabeça de fora. Colocam-se umas luvas e umas meias especiais, para não congelar as extremidades. E depois é-se vaporizado com nitrogénio a uma temperatura, cerca de 170 graus negativos durante três minutos. Este é um processo muito utilizado por atletas sujeitos a enormes desgastes físicos, e que pretendem uma recuperação muscular rápida mas eficiente. Que é o caso destes atletas.
O que aqui escrevi, eu que até há pouco tempo desconhecia por completo o que era a crioterapia, retirei dum artigo de Luis Pedro Nunes, do jornal Expresso. Li-o há tempos. Quando li o artigo do BigSlam, resolvi acrescentar algo que pudesse ser uma mais valia. Se sim, tudo bem. Caso contrário, as minhas desculpas.
BigSlam
Caro Braga Borges, grato pelo teu comentário, pois é mais uma achega que enriquece este artigo sobre as duas estrelas do desporto mundial.
Aquele abraço e vamos-nos vendo por aqui no nosso “Ponto de Encontro!” – http://www.bigslam.pt
Para quem quiser ficar a saber mais sobre a crioterapia, aqui vai um link: https://lifestyle.sapo.pt/saude/fitness/artigos/o-que-e-a-crioterapia-e-para-que-serve