Inauguração do Estádio Salazar – 30.06.1968, faz hoje meio século!
Estádio Salazar
Do Lumbo e lapala, em Nampula, a Ressano Garcia, em Maputo; de Quelimane, na Zambézia, a Moatize, em Tete; passando por Nova Freixo (hoje Cuamba), no Niassa, Inhaminga, em Sofala, e Gondola, em Manica, perfilam e ou perfilavam os mais funcionais e os mais conseguidos empreendimentos desportivos de Moçambique.
Mas a “jóía da coroa” ferroviária, incarnada num estádio, de futebol, estava implantada , nos arredores de Lourenço Marques – o actual estádio da Machava que nasceu com o nome de Salazar. Um verdadeiro “ex-libris” de Moçambique. À altura da sua inauguração alguns o apelidaram de Wembley ou Maracanã da Província Ultramarina Portuguesa.
Efectivamente, o dia 30 de Junho de 1968 constitui um dos marcos mais importantes da já longa e brilhante história da família dos ferroportuários de Moçambique, sobretudo os ligados ao desporto de uma forma geral e muito particularmente os que têm no futebol a sua modalidade predilecta.
Foi naquela data que com pompa e circunstância o Clube Ferroviário de Moçambique pulverizou a sua grandeza institucional e a hegemonia desportiva, que na época já detinha, com a inauguração do seu estádio de futebol baptizado com o apelido do então chefe do governo português, António de Oliveira Salazar…
A história cronológica do estádio
O processo de construção do Estádio Salazar começa com a publicação da Portaria N.O 15427, no Boletim Oficial N.O 45 – I Série, a 11 de Novembro de 1961, a qual concedia ao Clube Ferroviário de Moçambique um terreno no vale de Infulene, na área da Machava, com uma área de 31 hectares a fim de ali ser construído o seu estádio de futebol. Era o princípio da concretização de uma das mais sublimes aspirações dos ferroviários de Moçambique…
Sousa Dias, o homem do estádio!
Muitas foram as figuras que, de uma forma ou de outra, directa ou indirectamente, contribuíram para que se tornasse uma realidade o Estádio.
Diga-se mesmo que todos os ferroviários, em geral, e tantos outros que, o não sendo, na obra empenharam o melhor do seu esforço e do seu entusiasmo.
Naturalmente, entre todos os ligados ao processo, surge de pronto o nome do Eng. Albano Augusto de Sousa Dias, o “homem do estádio”, aquele que tornou o sonho realidade, mercê de um esforço gigantesco e de uma tenacidade de ferro.A família dos ferroviários não deixa, entretanto, de enaltecer algumas figuras do governo colonial, aos níveis do chamado Portugal continental e de Moçambique, que desde a primeira hora secundaram o interesse e a acção do Conselho de Administração do CFM, que vivamente apoiou a construção em projecto, ao empreendimento dedicaram o melhor do seu carinho e da sua valiosa ajuda.
ALBANO DE SOUSA DIAS, que foi presidente do CFM, faleceria 27 dias após a inauguração do estádio – a sua obra.
30.06.1968 – Inauguração do Estádio Salazar
Alguns dos momentos memoráveis desse dia:
- O içar da bandeira.
- O transporte da tocha e o acender da pira olímpica pelo atleta do CFM – José Magalhães.
- O jogo de futebol Portugal-Brasil (0-2).
As selecções nacionais “A” de futebol de Portugal e do Brasil, embora desprovidas das suas duas mais cintilantes estrelas, Eusébio e Pelé, foram as que protagonizaram o capítulo mais importante da cerimónia da inauguração do estádio Salazar que também contou com outras manifestações de índole cultural e desportiva.
Na história, era o décimo jogo entre as duas selecções, desde 1956, ano da realização do primeiro confronto ganho (1-0) pelos brasileiros, e o primeiro depois da fase final do Campeonato do Mundo da Inglaterra em 1966 , no qual Portugal, ao vencer por 3-1, ganhou a embalagem que o levou para a sua melhor classificação de sempre na prova, o 3° lugar.
A vitória (2-0), em Lourenço Marques, era a sétima do Brasil nos confrontos com Portugal, que apenas ganhara dois e empatara um. Os golos da equipa brasileira, que seria a base para a selecção que dois anos mais tarde, em 1970, se consagraria tri-campeã mundial no México, foram marcados por Rivelino (11’) e Jair (44’). Saliente-se que José Augusto, numa altura em que ainda não havia qualquer golo, desperdiçou uma grande penalidade assinalada contra o Brasil.
Sob a arbitragem do espanhol Adolfo Bueno e dos “moçambicanos” Abel Bastos e Vitor Real, as duas equipas alinharam com as seguinte constituições:
Brasil – Félix, Carlos Alberto (capitão), Bríto, Joel e Rildo; Gerson e Rivelino; Natal, Jair, Tostão e Edú.
Portugal – Américo; Cruz, Armando Manhiça, José Carlos e Hilário; Pavão, Coluna (capitão) e Jaime Graça; Pedras, José Augusto e Peres.
Jogaram ainda para Portugal, Artur Jorge e Simões.
Curiosamente, tanto na altura da projecção como na de construção do estádio Salazar nunca foram revelados, publicamente, ou nós não conseguimos apurar nas nossas investigações, os fundos aplicados, quer os desembolsados institucionalmente, quer os resultantes das iniciativas e das contribuições em dinheiro dos trabalhadores ferroportuários.
O único montante que conseguimos apurar neste processo foi o relacionado com a bilheteira para a cerimónia da inauguração.
Esta rendeu um pouco mais de cinco mil contos, até aí uma das maiores receitas de todos os tempos em recintos desportivos dos territórios administrados pelos portugueses, incluindo o chamado Portugal continental.
Momentos marcantes do Estádio Salazar (Machava):
Cronologia do SIPA
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1962 – aprovação do anteprojecto do estádio; 1963 – início da terraplanagem do local de construção; 1965 – início da construção das bancadas; 1968, 30 junho – data da inauguração, tendo à época uma capacidade para cerca de 32 000 espectadores; 1975, 25 junho – o estádio foi o local simbólico para a proclamação da independência moçambicana. |
Agora desliga o som no topo da página e a seguir vê o vídeo com a história do primeiro estádio construído em solo moçambicano. O então Estádio Salazar. A não perder!
Nota do BigSlam: Se estiveste presente na cerimónia inaugural do Estádio Salazar (Machava) ou se te recordas deste evento, deixa já a seguir aqui no BigSlam o teu comentário. Kanimambo!
7 Comentários
Rui Fernandes
Estive lá, tinha onze anos, o estádio estava a abarrotar, fiquei sentado na pista de alcatrão (alcatrão, não era?). Foi pena não ter visto nem Eusébio, nem Pelé, aliás, este viria a vê-lo noutra ocasião, no mesmo estádio, pelo Santos. Recordo-me da fila de automóveis à saída, um autêntico calvário para chegar à estrada de Benfica. Que saudades da minha terra.
Zé Carlos
Estive lá com um tio que nesse tempo era fogueiro nos CFM.
Ele deixou o seu DKW no parque de estacionamento dos empregados dos CFM e seguimos de comboio da estação de cami hi de ferro de LM que fazia ligação através dum ramal dedicado ao estádio. Lembro me bem que ao apear do comboio, só se via um mar de gente por todo lado, a maior multidão que tihna visto.
Quando entramos no estádio ainda não estava cheio, mas passados uns tempos, ficou lotado. Os nossos lugares eram em abaixo da tribuna mas perto da pista de ciclismo que também ficou repleta de gente.
Durante o evento, o tio comprou algumas vezes aos rapazes que meandravam pelas bancadas a vender comidas e bebidas, sandes de ovo e chouriço que vinham embrulhadas em papel vegetal e laranjada que vinha numas bolas de plastico com o feitio de uma laranja.
N.B. Uma pequena correção a ver com uma foto. O anel abaixo das bancadas cheio de gente não é a pista de atletismo, é a pista de ciclismo.
Rui Fernandes
É verdade, as laranjadas em bolas de plástico com o feitio de uma laranja. Jamais me lembraria sem a tua ajuda, Zé Carlos.
José Viegas
Estive no Estádio no dia da Independencia de Mocambique como intérprete da Comitiva da Miriam Makeba.
Antonio Rocha
Eu tive o privilegio de poder estar presente nesse evento em circunstancias especiais, encontrava me internado na altura no hospital militar com uma fractura no tarso e acabado de ser operado para extracção de um o osso do ilíaco para transplante e não me poder sentar, ter sido levado de ambulância da Cruz Vermelha e transportado de maca para a pista de ciclismo onde permaneci deitado, para poder assistir a inauguração do Estádio Salazar e ver o jogo Portugal x Brasil. No dia seguinte a minha foto deitado na maca saiu na primeira pagina do jornal noticias.
BigSlam
Caro António Rocha, um momento inesquecível na sua vida…
Grato pelo seu testemunho.
Fernando M Vasconcelos
Não conheci o estádio Salazar aquando da sua inauguração, mas sim uns anos mais tarde, por volta de 73 ou 74, quando nele disputei um jogo em representação da equipa de júniores A do GDLM.
Em 68 residía em Nacala, a alguns milhares de quilómetros a norte de LM.