Moçambique perdeu no passado dia 11 de Agosto um dos seus jornalistas de referência, com a morte de Kon Nam, 72 anos, uma figura dos momentos decisivos da actividade, no país, da época colonial ao multipartidarismo, passando pelo período revolucionário pós-independência. Nam encontrava-se doente há vários meses, tendo recebido tratamento em Portugal e regressado a Moçambique em Dezembro passado.
Filho de imigrantes camponeses da província chinesa de Cantão, Kok, como era conhecido, passou pelos quadros do “Diário de Moçambique” e da “Voz Africana”, os órgãos que na década de 1960 tentavam furar o muro de silêncio colonial e, mais tarde, esteve na fundação da revista “Tempo”, publicação rebelde, inconformista, e escola de uma geração de jornalistas.
Como fotógrafo, permaneceu na “Tempo” durante o período revolucionário, dominado pelo partido único, a Frelimo, e foi em sua casa que, em 1990, foi redigido o manuscrito do documento “O direito do povo à Informação”, exigindo a liberdade de imprensa como um direito constitucional.
Em 1991 aderiu ao grupo de jornalistas que criou a Mediacoop, então uma cooperativa, que lançou o diário por fax “Mediafax” e o semanário “Savana”, de que era director desde 1994.
O seu trabalho fotojornalístico, um valioso acervo para compreender a história do país nas últimas décadas, está publicado em grandes órgãos internacionais, do português “Expresso” ao norte-americano “The New York Times”.
“De trato fácil, incrivelmente jovial”, modesto e humilde, como hoje o recordou a Mediacoop, “os seus colegas e amigos guardam dele um grande sentido de profissionalismo e rigor, e a defesa tenaz da integridade e dos princípios”, acrescenta o comunicado da empresa.
Fonte: Lusa
KOK NAM 1939-2012
O nosso amigo e colega Kok Nam, foto-jornalista e também Director do semanário SAVANA, deixou-nos esta madrugada, 11 de Agosto, depois de uma vida repleta de realizações pessoais e profissionais.
Kok Nam, fundou com outros 12 jornalistas o primeiro grupo independente de comunicação social do pós-independência de Moçambique em 1992, tendo sido eleito director do semanário SAVANA em 1994, posição que manteve até à data da sua partida.
Nascido na então Lourenço Marques (hoje Maputo), filho de camponeses emigrados da região de Cantão na China, iniciou as suas lides fotográficas aos 17 anos como impressor fotográfico, passando no início da década de 60 para os quadros do Diário de Moçambique e da Voz Africana, publicações progressistas do Episcopado católico da Beira, liderado por D. Sebastião Soares de Resende. Passou também pelo “Notícias da Tarde” e pelo “Notícias”, antes de se juntar em 1970 ao núcleo de jornalistas que criou a revista “Tempo”, uma publicação inconformista e rebelde, tentando furar as malhas da censura colonial e do Estado Novo português.
Durante o período revolucionário permaneceu na “Tempo”, aderindo aos vários movimentos internos de luta contra o controle partidário da informação produzida depois da independência de Moçambique, em 1975. O manuscrito inicial do documento “O Direito do Povo à Informação”, exigindo a liberdade de imprensa como um direito constitucional, foi elaborado em sua casa, em Fevereiro de 1990. Um ano depois, rompe com o “status quo” de então e com os seus colegas Naita Ussene, Fernando Manuel e António Elias (já falecido), junta-se ao projecto mediacoop, inicialmente uma cooperativa de jornalistas.
De trato fácil, incrivelmente jovial, cultivando sempre a modéstia e a humildade, os seus colegas e amigos guardam dele um grande sentido de profissionalismo e rigor, a defesa tenaz da integridade e dos princípios. O seu acervo fotográfico, espalhado pelos quatro continentes, é um dos mais importantes bancos de imagem disponíveis sobre Moçambique.
A mediacoop, os seus colegas e amigos estão a programar para segunda-feira, 13 de Agosto, a cerimónia de homenagem póstuma e a cremação do corpo, tendo sido colocado à disposição do público um livro de condolências, na sede da empresa sita na Av. Amílcar Cabral no. 1049, em Maputo.
Kok Nam deixa dois filhos, a Ana Michelle e o Nuno Miguel a quem, neste momento, expressamos os nossos mais profundos sentimentos de afecto e solidariedade.
Maputo, 11 de Agosto de 2012
Um pequeno livro publicado em França (Éditions de l’oeil) em 2007.
Pode ver em: http://ma-schamba.com/fotografia-mocambique/kok-nam/kok-nam-fotografo/